quarta-feira, 12 de outubro de 2016

NADA A FESTEJAR

“A cada um a sua pitada de sal...”.

Luiz Maranhão (1921 – 1974), 
advogado, político, jornalista e educador brasileiro.


“Vamos brincar!”, diz o Facebook, porque “no Dia das Crianças, comemoramos a alegria e a curiosidade das crianças brasileiras”...........................................................

Então, nada brincando, a sorte das crianças, no caso, as brasileiras, e as do mundo inteiro, é a inocência, mas, mesmo assim, percebem quando algo está errado. Quando tem uma nota destoando. Já fui criança, sei disso. E não ando vendo nenhuma criança feliz, pois está faltando saúde, educação etc etc etc...

Tem quem diga que não estamos podendo nos dar ao luxo de ficar tristes, mas permanecermos atentos, alertas, por causa do golpe implacável contra o Brasil. Só que a criança aqui anda muito triste, inconsolável, porque está perplexa com tanta maldade, com tamanha perversidade. Como certas pessoas podem ser tão vis?! E isso, aliás, inclui a Síria... Numa querela ridícula, sem prurido algum, alguns países estão varrendo a Síria do mapa, literalmente, já virando lenda – um paradoxo, pois o nome ‘Síria’ remonta a ‘levante’. Hoje, infelizmente, está destroçada, sem forças sequer para levantar-se. Nem os Médicos sem Fronteiras dão jeito. Bye, arameus e assírios... – até o papa já implorou que parassem de brincar de guerra. E a criança chora, porque é sensível, com a má sorte de ter nascido poetisa – sensibilidade sem limites, igualmente sem fronteiras, podendo ir da felicidade extrema – há muito em falta – ao sofrimento absoluto. Dá poema.

Mas, a criança para. Não sabe mais nem o que escrever. Sim, porque cresceu e perdeu a inocência; aprendeu a distinguir o bem do mal. Tornou-se jornalista, historiadora... Não esquece uma data! Faz da pesquisa o seu leitmotiv – pena que muitos tenham a memória curta. E está muito muito muito desgostosa com o Brasil. Não com o país em si, com o seu maravilhoso povo e bela cultura, mas com os desgovernantes, pessoas do mal, bandidos, igual nas histórias que ouvia quando menina. O fato é que, no Brasil, com a democracia recentemente degolada, estamos náufragos, sem ter a quem recorrer, pois a própria dita Justiça vendeu-se. Maldade pior não podia – desde abril, a criança inclusive refere-se ao STF como sendo o Sistema Temerário da Federação...

E tirando de lado a mente fértil da criança, ela também pensa. Sim, além de imaginar, ela pensa com a mente leve, sem censuras. Por exemplo... Se Lula e Dilma tiveram câncer, ao governarem o país, é porque sentiram a complexidade de governar um país com dimensões continentais e culturais a perder de vista. Que, então, o ridículo senhor Michel Temer, que ainda passa ferro em roupa e embora vaso ruim seja difícil de quebrar, pois não possui sentimentos, dê uma derrapada daquelas numa descida de rampa. Nem o SAMU dará jeito! É só o que a criança está desejando agora.

Aí, a criança sai – foi comprar cigarros para ela ‘grande’ terminar este texto. No caminho, dois joões-de-barro pousam em seu caminho. Ela lembra-se, então, do poeta, o Manoel, que, aliás, nunca apreciou – e nem entende porque todos, parecem, têm de gostar. Na verdade, a criança sempre gostou de Mário Quintana, de Cecília Meireles... Ou isto ou aquilo é demais!


Ou Isto ou Aquilo

Cecília Meireles

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.


E a criança volta, só ouvindo John Lennon imaginando paz. Mas, ela quer concluir. Só que não sabe como, pois, desde a aprovação da PEC 241, “a PEC da morte”, esta semana, dia 11, desnorteou-se, perdeu o eixo. Há dois dias, celerados degenerados – haja redundância – fizeram algo pior do que a história do lobo mau. Isso sem falar na venda do pré-sal, uma das maiores riquezas brasileiras, que entregaram de bandeja para os malditos Estados Unidos... É, a criança nunca gostou dos governantes dos EUA, capitalistas selvagens e megalomaníacos, só psicopatas! A cada governante norte-americano que assume, uma guerra é inventada para roubar uma riqueza alheia. No caso do Brasil, final de governo Obama... O infeliz sequer disparou um tiro para nos saquear! E nem adianta a criança buscar o colo da mãe, pois a mãe está igualmente impactada, já que é a segunda ditadura que enfrenta. No caso, civil, não militar, mas, de igual modo, ditadura – a criança também, já que, infelizmente, nasceu numa: é contemporânea do Ato Institucional nº 5, o famigerado AI-5 (1968), que cerceava as liberdades fundamentais dos indivíduos e promovia toda sorte de repressão. De fato, nada a comemorar.

É tudo muito triste, isto.  Prefiro aquilo.

E quero a minha ludicidade de volta...

Nathalie Bernardo da Câmara


Em tempo: no dia 13 de dezembro, 48 anos depois do AI-5, foi aprovada a PEC 55 (antiga 241), jurando de morte todos os brasileiros...

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