“Queimar de amor: se é por isso que eu
sou culpado,
que o seja, também, a minha purificação!”.
Le Testament d’un hérétique ou la dernière prière de Giordano Bruno (1994)
por Eugen Drewermann
que o seja, também, a minha purificação!”.
Le Testament d’un hérétique ou la dernière prière de Giordano Bruno (1994)
por Eugen Drewermann
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“Giordano Bruno foi
queimado.
Se gritou, não ouvimos.
E se não ouvimos, onde
está a dor?
Mas gritou, meus amigos.
E continua a gritar...”.
José
Saramago (1922 – 2010)
A
Bagagem do viajante (1973)
É sempre bom lembrar: por escrever o livro Heróicos
furores (1595), uma elegia
ao amor, e defender a
teoria heliocêntrica do astrônomo e matemático polonês Nicolau Copérnico (1473 –
1543), afirmando que o Sol estava no centro do universo, contrariando a teoria
geocêntrica, imposta pela Igreja católica, entre outros pequenos
“delitos”, o filósofo e escritor dominicano italiano Giordano
Bruno (1548 – 1600) foi queimado vivo, aos 52 anos, numa
das fogueiras da ensandecida Inquisição medieval.
O dia 14 de março
de 2018 entrou para a História: num só arremate, o mundo perdeu o físico britânico
Stephen Hawking, 76, em decorrência da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença
degenerativa ainda sem cura, e a socióloga e vereadora brasileira Marielle
Franco, 38, cravada de balas nada perdidas, vítima de um atentado político.
“Olhe para as estrelas e não para os seus pés...”.
Stephen Hawking ao completar 70 anos
No
caso de Stephen Hawking, uma perda para a ciência, considerando que, fazia tempo, nenhuma
outra mente tão brilhante e genial resplandeceu no universo desde a aparição por
essas plagas do físico alemão Albert Einstein (14/3/1879 – 18/4/1955) e do polímata italiano Leonardo da Vinci (1452-1519), o gênio dos gênios, de quem sou grande admiradora, a não
ser a do britânico, que, aliás, era um raro exemplo de determinação,
resistência e enfrentamento à doença que o consumia desde os 21 anos de idade –
a respeito, em maio de 2011, Stephen Hawking declarou ao jornal britânico The Guardian: — “Vivo com a perspectiva
de uma morte precoce há 49 anos. Não tenho medo de morrer, mas também não tenho
pressa...”.
“Lugar de mulher é onde ela quiser...”.
Marielle Franco ao longo da sua militância
política
“Cria da favela”, segundo as suas próprias palavras, Marielle
Franco era mulher, negra, mãe, feminista, socióloga, ativista dos direitos
humanos... Nascida no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, em 27 de
julho de 1979, foi eleita vereadora com 46.502 votos, a quinta mais votada na
cidade dita maravilhosa em sua primeira disputa eleitoral. Incomodou. Sim, mas
a quem, a ponto de ela ser executada brutalmente, chocando até mesmo os
corações mais empedernidos? Quem, quem se incomodaria tanto apenas porque uma
jovem e bela mulher lutava por seus direitos e os dos demais? Quem, quem se
sentiu tão ameaçado para autorizar uma descarga de quatro tiros a sangue frio na
cabeça de um ser humano que era a encarnação
em pessoa da amorosidade, solidariedade e justiça social? Foram tiros certeiros
num “alvo” pré-determinado. Que sejam, então, certeiras as convicções de que o
(a) mandante, covarde por excelência, de uma execução tão bárbara, seja, um dia,
identificado (a) e, perante a Justiça, se é que ainda temos uma no Brasil,
pague por seu crime – não com propina, mas amargando atrás de uma cela de
cadeia cuja chave será jogada nas águas da Baía da Guanabara, que, de tão
poluídas e em sinal de protesto, nem um escafandrista experiente, política e
humanamente correto ousaria resgatá-la.
Segundo as
estatísticas, a cada 100 vítimas de homicídios de mulheres no Brasil – o feminicídio – , 71 são negras... É um
fato, mas, no caso de Marielle Franco, a sua cor, acredito, foi só, digamos, um
“detalhe”, sobretudo se levarmos em conta as causas pelas quais militava. O que
aconteceu, sem nenhuma sombra de dúvida, foi um crime com motivações políticas.
Ponto. E que o (a) mandante seja punido (a) no rigor da lei – o ideal, eu sei,
mas, diante da atual conjuntura, qual lei? E em defesa de quem? A serviço de
quem?
Fico a divagar, pensando que, agora, em universos
paralelos, Stephen
Hawking e Marielle Franco possam empreender um tour de force para que, antes tarde do
que nunca, não nos surpreendendo, a verdade venha à tona, porque, afinal, como
diria o físico, o universo caberia numa casca de noz – sugiro uma casca de
pitomba, ainda menor, mas que, pelo menos, numa ou noutra, contenha uma lasca
de nós, gravitando...
É curioso... No documentário Into the Universe, do The Discovery
Channel, exibido em 2010, Stephen Hawking fez,
provavelmente, uma espécie de premonição: “Se os extraterrestres visitarem-nos
algum dia, eu acredito que o resultado será parecido a quando Cristóvão Colombo
desembarcou na América, um resultado nada positivo para os nativos”.
Não duvido de nada!
O fato é que o 14 de março foi uma jornada de luto –
no caso do Brasil, onde se comemora o Dia Nacional da Poesia, não houve verso que
não derramasse uma lágrima no Estácio, a ponto de eu até pensar no ator, cantor
e compositor brasileiro Luiz Melodia (1951 – 2017), que também deve ter
derramado as suas.
E a poesia pede licença, mas presente, sempre...
Nathalie Bernardo da Câmara
Como não escrever, como não chorar? 14 de março de 2018 não foi nada poético.
ResponderExcluirUma data que, este ano, foi sinal de tragédias...
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