Foto e edição
de imagem: NBC
“Sabe aquele pote de feijão que você achou que era
sorvete? O amor é mais ou menos isso”
– Soulstripper, banda de rock de Piracicaba (SP), considerada irreverente e
divertida pelos fãs.
Nem vaca, nem um punhado de supostos grãos mágicos de feijão, nem
galinha, nem dobrões de ouro, nem harpa, nem castelo e nem gigante como consta
nas controversas histórias de ‘João e o pé de feijão’, de origens inglesas,
ouvidas na infância, mas apenas um simples pé de feijão. Quer dizer, não tão
“simples” assim...
Então... Em
abril, o meu sobrinho presenteou-nos com uns quilos de feijão verde, nas
vagens, fruto de um belo trabalho seu na chácara do meu pai. Mamãe e uma amiga
nossa encarregaram-se da missão que foi a de debulhar as vagens. Um grão,
entretanto, voou e caiu numa pequena área de terra do nosso quintal.
Passaram-se alguns dias e, logo após umas certas chuvas que andaram caindo em
Natal, brotou da terra um pé de feijão. Uns duvidaram, eu não. E o pé de feijão
foi crescendo ao lado de um manjericão igualmente nascido de uma semente que
voou com o vento do outro lado do quintal, onde, há anos, um canteiro
abastece-nos com a planta encantada e para lá de cheirosa. De repente, esse pé
de feijão foi “ganhando corpo”: engoliu o manjericão e também foi apossando-se
de algumas plantas ornamentais – chegou até o telhado de uma casinha ao lado!
Folhas imensas. E dando feijão. Perguntei ao meu sobrinho qual o segredo desse
pé, se ele tinha colocado um adubo especial nos grãos que plantava, se os
mesmos eram transgênicos ou algo parecido. Ele disse-me que os grãos eram
orgânicos, mas se o meu pé avantajou-se – eu o adotei, “batizando-o” de Lumière
– deve ter sido porque nasceu sozinho, não junto com outros. Pois. Agora,
resta-nos admirá-lo, soberano. Pela manhã, então, é uma graça: as flores
branquinhas, pululando por toda parte – depois elas amarelam –, e eu tirando as
vagens, já dando refeições! E ideias... Enquanto isso, vamos curtindo a beleza
que é a natureza e os seus mistérios.
*
Só que o tempo passa e o meu pé de
feijão continua a “escandalizar”, insistindo em se imiscuir por entre outros
vegetais ao redor (mamãe diz que está acabando com as plantas dela), ganhando ainda mais altura, tipo uma trepadeira, subindo nas
paredes, enroscando-se nas grades, decorando janelas, indo além das telhas da
casinha dos fundos, brotando a céu aberto, por toda parte. Impressionante!
Daqui a pouco, fico a imaginar, ele vai “pular o muro” e parar na casa da
vizinha... Enquanto isso, a gente comendo feijão! E até dando de presente, apesar de eu aguardar a visita de um amigo agrônomo para estudar o “fenômeno” – nesse ínterim, penso no meu finado avô
materno, o meu querido Neco, como costumava chamá-lo, que, na minha infância,
quando os meus pais tinham uma granja, mais parecendo uma fazenda, de tão
grande, ele, que era agricultor, encarregava-se dos plantios: macaxeira, batata
doce, jerimum, que mamãe adora, vários outros vegetais e... feijão, que
ele me ensinou a plantar e a colher. Além disso, vovô também me ensinou a pescar, nos
rios e no mar – adoro pescar, até hoje!
*
O poeta cubano José Martí (1853 - 1895)
acreditava que “toda glória do mundo cabe num grão de milho”. E o que caberia
num grão de feijão?
*
Outro fato é que venho fotografando
todo esse processo (amostra abaixo) – coisa que, particularmente, me fez um bem
enorme, pois, só assim, renasceu o meu encanto pela fotografia, arte que domino
desde a adolescência, mas que, há alguns anos, por motivos pessoais, passei a
ignorar. Desse modo, só posso dizer que o bendito grão que fez brotar o intrépido
pé de feijão igualmente resgatou um dom meu da letargia, carregando junto a minha
ludicidade. E lembrei-me do estimado escritor português José Saramago (1922 -
2010), que, um dia, chegou a dizer algo mais ou menos assim: Levantar do chão é
como brotar da terra, uma espécie de germinação, disseminando...
Lumière, o meu pé de feijão, e o pé de manjericão, quando tudo começou...
Em questão de dias, para a minha tristeza, numa rapidez surpreendente, o pé de feijão "engoliu" o de manjericão...
A primeira vagem seca do meu pé de feijão, o branco, embora já sejam muitas, pedindo para serem degustadas e, ao mesmo tempo, socializadas, para germinarem.
A primeira "leva" de feijão verde do meu pé...
Outras "levas"...
O meu pé de feijão já produziu mais de dois quilos do grão...
O resultado das minhas práticas lúdicas: peixe frito no óleo de soja - transgênico, para "esculhambar" tudo - e no azeite de dendê, que me valeu uma queimadura no corpo, pois, ao colocar a posta na frigideira, estava sem blusa, por causa do maledetto calor, e tudo respingou. Só doeu na hora, mas tudo vale a pena se for para uma bela foto. Então, o arroz... Refoguei alho e pimentas de cheiro coloridas no azeite de oliva e depois o arroz. Em seguida, coloquei bastante açafrão e uma pitada de sal. Por fim, o feijão, do meu pé, decorado com cebolinha e coentro picados. Seria redundante dizer que foi uma refeição daquelas, acompanhada de um suco de mangaba.
E voilà!
adendo:
02/08/2019...
02/08/2019...
O meu pé de feijão garantindo um jantar nordestino. Quer dizer, quase, porque faltou o queijo de coalho e a manteiga do Sertão na macaxeira, já que o colesterol disse "não", mas com direito a suco de caju.
Nathalie Bernardo da Câmara
Lindo!
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