FOLHA
DE S.PAULO (24/03/2020):
“O presidente (...) voltou a minimizar a gravidade da Covid-19 ao compará-la a
uma ‘gripezinha’ ou a um ‘resfriadinho’. (...) Devemos, sim, voltar à
normalidade, afirmou” (link abaixo), irresponsável e criminosamente.
Ora,
para quem vive submerso na ignorância e na alienação, valendo-se, inclusive, do
atrevimento ao dizer que o aquecimento
global, por exemplo, “é uma trama marxista”, a posição do celerado de plantão
sobre a pandemia que ora assola o planeta Terra não é nenhuma novidade. Porém,
não à toa, o seu pronunciamento sobre o
coronavírus desta terça-feira, 24, pedindo, entre outras, o fim do “confinamento
em massa”, contrariou gregos e troianos, repercutindo. Vejamos algumas
declarações sobre o episódio, publicadas pelo G1:
SOCIEDADE
BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA – “Neste difícil momento da pandemia de COVID-19 em todo o
mundo e no Brasil, trouxe-nos preocupação o pronunciamento oficial do
Presidente da República Jair Bolsonaro, ao ser contra o fechamento de escolas e
ao se referir a essa nova doença infecciosa como ‘um resfriadinho’. Tais
mensagens podem dar a falsa impressão à população que as medidas de contenção
social são inadequadas e que a COVID-19 é semelhante ao resfriado comum, esta
sim uma doença com baixa letalidade. É também temerário dizer que as cerca de
800 mortes diárias que estão ocorrendo na Itália, realmente a maioria entre
idosos, seja relacionada apenas ao clima frio do inverno europeu. A pandemia é
grave, pois até hoje já foram registrados mais de 420 mil casos confirmados no
mundo e quase 19 mil óbitos, sendo 46 no Brasil, que está numa curva crescente
de casos, com transmissão comunitária do vírus e o número de infectados está
dobrando a cada três dias. E, do ponto de vista científico-epidemiológico, o
distanciamento social é fundamental para conter a disseminação do novo
coronavírus, quando ele atinge a fase de transmissão comunitária. Essa medida
deve ser associada ao isolamento respiratório dos pacientes que apresentam a
doença, ao uso de equipamentos de proteção individual (EPI) pelos profissionais
de saúde e à higienização frequente das mãos por toda a população. As medidas
de maior ou menor restrição social vão depender da evolução da epidemia no
Brasil e, nas próximas semanas, poderemos ter diferentes medidas para regiões
que apresentem fases distantes da sua disseminação. Quando a COVID-19 chega à
fase de franca disseminação comunitária, a maior restrição social, com
fechamento do comércio e da indústria não essencial, além de não permitir
aglomerações humanas, se impõe. Por isso, ela está sendo tomada em países
europeus desenvolvidos e nos Estados Unidos da América. Médicos, enfermeiros,
técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e todos os demais profissionais de
saúde estão trabalhando arduamente nos hospitais e unidades de saúde em todo o
país. A epidemia é dinâmica, assim como devem ser as medidas para minimizar sua
disseminação. ‘Ficar em casa’ é a resposta mais adequada para a maioria das
cidades brasileiras neste momento, principalmente as mais populosas.
CARTA DOS SECRETÁRIOS DE SAÚDE DO
NORDESTE – “Assistimos
estarrecidos ao pronunciamento em cadeia nacional do Presidente Jair Bolsonaro,
onde desfaz todo o esforço e nega todas as recomendações para combate à
pandemia do coronavírus. Não é nosso desejo politizar esse problema. Já temos
dificuldades demais pra enfrentar. Não podemos cometer esse erro. Vamos
continuar fazendo nosso trabalho. Não nos parece que a posição exposta pelo
Presidente seja a do Ministério da Saúde, que tem se conduzido tecnicamente. Percebemos,
com espanto, os graves desencontros entre o pronunciamento do Presidente e as
diretrizes cotidianas do Ministério da Saúde. Esta fala atrapalha não só o
ministro, mas todos nós! Sabemos que iremos enfrentar uma grave recessão
econômica, mas o que nos cabe lidar diretamente é a grave crise sanitária. Vamos
seguir tocando nossas vidas com decisões baseadas em evidências científicas,
seguindo exemplos bem sucedidos ao redor do mundo. A grande maioria dos países
do mundo, ocidentais e orientais, já firmaram seu curso no combate ao vírus e é
este curso que o Nordeste Brasileiro seguirá.”
FÁTIMA BEZERRA (PT), GOVERNADORA
DO RIO GRANDE DO NORTE (RN) – “Para muito além de quaisquer divergências políticas, o que se trata
aqui é de proteger a saúde da população. Faço coro às palavras dos Secretários
de Saúde do Nordeste. Não há neste momento tão delicado o desejo nenhum de
politizar a discussão, mas o pronunciamento de hoje do Presidente é um
equívoco! O pronunciamento dele vai na contramão de todas as medidas defendidas
pelos Estados e municípios em sintonia com o Ministério da Saúde e pela própria
sociedade!”
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA
(ABI) – “Na noite
desta terça-feira, o País assistiu, estarrecido, a um pronunciamento em que o
presidente Jair Bolsonaro minimiza os riscos da pandemia do Covid-19 e vai na
contramão de todas as medidas recomendadas pelas autoridades de saúde, tanto do
Brasil, como do mundo. Tenta, também, responsabilizar a imprensa pela
justificada apreensão que toma conta de todos. Num momento em que milhares de
vidas são ceifadas em outros países e que o coronavírus chega a nosso país de
forma ameaçadora, fazendo as suas primeiras vítimas fatais, Bolsonaro refere-se
à pandemia como uma “gripezinha” ou um “resfriadinho” e, ainda mais grave,
recomenda que as medidas preventivas não sejam adotadas pelos brasileiros. Dessa
forma, contribui para que o país não se prepare para enfrentar a grave situação
que estamos vivendo. Decididamente, num momento em que se exige serenidade e
liderança firme e responsável, com seu comportamento irresponsável e criminoso
o presidente mostra não estar à altura do importante cargo que ocupa.”
FELIPE SANTA CRUZ, PRESIDENTE DA
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB) – “Entre a
ignorância e a ciência, não hesite. Não quebre a quarentena por conta deste que
será reconhecido como um dos pronunciamentos políticos mais desonestos da
história.”
HUMBERTO COSTA (PT-PE), SENADOR,
EX-MINISTRO DA SAÚDE (2003-2005) – “Bolsonaro chamou
o #Covid19 de 'gripezinha, resfriadozinho, histeria', num gesto de desrespeito
às vítimas fatais, suas famílias e todo o país. Atacou a imprensa uma vez mais.
Em vez de tentar se restaurar no cargo de presidente, usou sua fala para
ridicularizar o grave momento.”
MARCELO FREIXO (PSOL-RJ), DEPUTADO
FEDERAL – “Vimos em rede nacional um
presidente desqualificado mentir, debochar e provocar um país que, apesar dele,
luta bravamente e se une para enfrentar umas das maiores crises da história. A
resposta dos brasileiros foi dada.”
Nathalie Bernardo da Câmara
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