sexta-feira, 12 de abril de 2013

QUERO MATAR MEU MARIDO*


Evaldo Alves de Oliveira
Médico homeopata e pediatra
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
Blog do Evaldo:


Médico homeopata há muitos anos, o Dr. Cristiano chegou em casa pensativo. É que, à tarde, atendera uma cliente bastante estressada. Tratava-se de dona Augusta, uma senhora de porte altivo, em que a beleza, de mal jeito chegada, encontrava-se de mala arrumada há anos, todo esse tempo com um adeus devidamente formatado.

Austera, falando alto, contou-lhe sua vida de sofrimentos e dissabores. E fez um relato de suas dores na coluna e nas pernas, de seu refluxo gastroesofágico, de sua falta de ar e de sua bursite trocantérica. Ao final, deixou claro que todo o mal estar que sentia era produto do deu desencanto com Aristeu, seu marido.

Doutor, imagina, ele não almoça mais em casa há muito tempo. Todos os dias inventa algo que justifique seu almoço na rua. À noite, entra em casa calado, sequer me olha. Toma banho, põe o pijama, janta sem nada falar, e vai sentar no sofá. Assiste televisão, lê um livro ou uma revista e vai se deitar. Há muito tempo nosso relacionamento sexual não mais existe. A vontade que eu tenho é de matá-lo. Só não faço isso porque já não sou tão nova. Sinto ódio daquele homem.

A história clínica foi difícil de ser tomada, em vista de sua constante mudança de foco da paciente. Ao final, insistiu: de tudo que lhe contei, doutor, o mais importante, o que me destrói, é o danado do meu marido. Ele é inteiramente indiferente à minha presença. Depois de uma hora e meia de consulta, e de uma boa avaliação da história clínica, o médico homeopata preparou a receita e instruiu a paciente quanto à forma de utilização do medicamento.

Dois meses depois, dona Augusta retornou ao consultório com um aspecto agradável, rosto emoldurado por um sorriso. O médico homeopata não conseguiu despistar sua satisfação. Pediu que a paciente sentasse e relatasse o que havia acontecido nesse período.

Demonstrando tranquilidade, a paciente foi direto ao assunto: doutor, parece incrível, mas meu marido melhorou muito. É outro homem. Hoje, ele fala sorrindo, já não almoça fora de casa, ficamos conversando na sala todas as noites, além de jantarmos fora uma vez por semana. E, melhor ainda, nossa vida sexual está muito boa. Só não entendo, doutor, é como o medicamento que eu usei fez efeito sobre ele também.

Um discreto sorriso do médico como resposta. E ela sequer falou de suas dores.

*A ilustração foi ideia minha.

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