quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

MOMO E NOËL


"Gula pode ser fuga do sexo e da vida...".
Rosemeire Zago
Sete pecados capitais


O carnaval, enfim, chega ao fim! Não nego que, em tempos remotos, já gostei do evento: pulava, brincava e até arriscava alguns passos de frevo – quem diria! Porém, por motivos diversos, aos poucos fui desgostando. Um desses motivos foi a intolerância que, ao longo do tempo, adquiri a ruídos e aglomerações. Três, para mim, por exemplo, já é uma assembléia.

Anda-me cansando, inclusive, apesar da familiaridade, o rumor do mar. As suas ondas, então, apesar de exemplo dialético, tornaram-se estressante em seu vai e vem constante! Afinal, não sou canguru para viver de pulo em pulo. É preferível o balanço tranqüilo de uma rede, contemplando, de longe, o horizonte... Mas, como eu estava dizendo, o carnaval, enfim, chega ao fim.

Acho estranha a rigidez de certas pessoas durante todo o ano e, de repente, é só falar em carnaval que essas pessoas se transformam e, aí, o excesso entorna, a exemplo do que disse Freud (1856-1939), neurologista austríaco, fundador da psicanálise: "Uma festa é um excesso permitido, ou melhor, obrigatório, a ruptura solene de uma proibição". Eu até entendo, mas, deixem-me de fora desse excesso.

Ao mesmo tempo, em sua tese Festa à brasileira – Sentidos do festejar no país que "não é sério", a antropóloga pernambucana Rita Amaral diz que "divertimento é coisa séria e pode ser entendido até mesmo como a segunda finalidade do trabalho, vindo logo após a necessidade de sobrevivência...". Tudo bem! Só que sem excessos, já que, convenhamos, destempero causa indigestão.

Indigestão causa, também, ter de praticamente todos os dias ouvir os excessos de determinados jornalistas noticiando fatos banais, que eles conferem uma importância ilusória, transformando-os em algo sensacionalista. Nem meus olhos nem ouvidos são pinicos! O pior é que, quando a gente não faz parte da média – daí a mediocridade –, é segregada; se não pensa igual, é estranha.

Bom! Vejamos... O pai do carnaval é o rei Momo; o do Natal é o dito bom velhinho Noël. Semelhanças? O universo de ambos, em seu paganismo, não é muito diferente. São fantasias, tons os mais diversos. Um universo multicor, eu diria. Enquanto Momo tem as suas passistas e mestres-sala, Noël tem duendes e congêneres; enquanto Momo tem carros alegóricos, Noël tem um trenó puxado por renas.

E não pára por aí! Enquanto Momo preza por figurinos suntuosos, lantejoulas e demais acessórios luminosos, Noël e seus ajudantes têm figurinos para lá de excêntricos. Usam até sininhos! Apreciam bolinhas reluzentes em pinheiros e lâmpadas que piscam. Queiram me perdoar, mas acho tudo tão brega, kitsch, démodé...

Além disso, uma outra semelhança que identifico entre Momo e Noël é a obesidade. São sedentários e glutões – isso a gente não pode negar. O primeiro, adora uma farra! Comidas pesadas e muita bebida alcoólica; o segundo, coitado, fruto da coca-cola, cada ano mais inchado, garoto-propaganda que sempre foi do refrigerante norte-americano. Gente! O movimento barroco já passou. Pior!

Em um tempo onde os médicos alertam contra os perigos da obesidade, Momo e Noël bem que poderiam passar um tempo em um spa. Não que eles se tornem anoxéricos – é doentio –, mas que percam alguns quilinhos, dando um bom exemplo, sobretudo as crianças. É deprimente vê-los tão gordos, criações de um mundo de fantasia, que sempre passa, ao contrário da realidade...


Nathalie Bernardo da Câmara
nathaliebernardo@hotmail.com
Brasília (DF) - Brasil, 25 de fevereiro de 2009.

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