quarta-feira, 2 de junho de 2010

ABRE ALAS, QUE EU QUERO PASSAR...



“Nós somos nós e as nossas circunstâncias...”.

Ortega y Gasset (1883 - 1955)
Escritor espanhol

A impressão que eu tenho é a de que nunca se falou tanto em assepsia como de uns tempos para cá. O exagero é tamanho, daqueles que a propagam, que, se brincar, está beirando à neurose. Afinal, é assepsia não somente de pessoas e de ambientes, mas, também, ética e moral, social, política, fiscal e, uma das mais curiosas, assepsia de emoções. Parece até que as bactérias metamorfosearam-se. É como se, de micro-organismos unicelulares, com membrana e citoplasma, sem núcleo definido e DNA disperso, esses microscópicos seres tivessem adquirido novas formas, constituições e características, embora, obviamente, costuma-se muito falar em metáfora. Que o seja!

O fato é que muitos têm pensado e sonhado tanto em assepsia, bem como praticado-a de maneira compulsiva, que findam por ficar obcecados. É assepsia para lá, assepsia para cá... Só que, pelo andar da carruagem, ou melhor, da vassoura, do sabão e da água, aqueles com mania de assepsia é que vão terminar precisando de uma: mental. Eu, particularmente, acho as bactérias extremamente necessárias. Além do mais, no mundo, há espaço para todo e qualquer organismo vivo. Sem paranóia! Caso contrário, ou seja, se as pessoas ficarem o tempo todo preocupadas em eliminar as bactérias, evitando entrar em contato com elas, que não são poucas, nem viver vão mais.

Falando nisso, a enxurrada de propagadas na televisão, por exemplo, de produtos de limpeza de ambientes, bucal, congêneres etc faz-me até sentir dó das bactérias, as quais, inclusive, são atribuídas diversas doenças adquiridas pelo ser humano. Uma propaganda, inclusive, pela repetição da sua exibição, divulgando um sabonete, líquido e em barra, chega a ser enervante. Acho, aliás, que, se o tal produto não alcançar o seu objetivo, que é o de minimizar a proliferação das bactérias e a contaminação humana por elas, no mínimo provocará um Transtorno Obsessivo Compulsivo - TOC – tão em voga – nos consumidores e, de repente, também, nos telespectadores.

Ocorre que as bactérias estão por toda parte: no ar, na água, no solo, nos objetos, em nossos corpos e em outros seres vivos, embora nem todas sejam nocivas. E, independentemente da sua natureza, se benéfica ou não, elas encontram no ser humano não somente um excelente anfitrião, mas, igualmente, um meio de transporte, no qual, quando querem, pegam carona para, rapidamente, interagirem com outros organismos, reproduzindo-se. Descobertas pelo naturalista holandês Leeuwenhoek (1632 - 1723), em 1683, as bactérias foram estudadas pelo químico e biologista francês Louis Pasteur (1822 - 1895), que, em 1865, descobriu como elas se multiplicam e causam doenças.

Outro que, ainda, estudou as bactérias foi o médico e microbiologista alemão Robert Koch (1843 - 1910), Prêmio Nobel de 1905, que as coloriu e as manteve vivas em uma espécie de geléia que ele próprio inventou para análises mais aprofundadas do seu organismo. Daí que, diante de todas as suas características, o melhor mesmo é ter as bactérias como amigas, ao nosso lado, dentro de nós, proporcionando-nos, no mínimo, anticorpos. Isso mesmo! E, com mais uma pitada de ironia, fica a sugestão: @dote uma bactéria – quiçá, a única cultura que um ser humano possui. Enfim! Parafraseando o filósofo e economista alemão Karl Marx (1818 - 1883)...

Bactérias de todo o mundo: uni-vos!

Nathalie Bernardo da Câmara

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