quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

RATZINGER E A RENÚNCIA AO PAPADO...

7 em 1 (publicado originalmente no dia 06 de junho de 2009) - alguns problemas de programação visual são inerentes ao Blogger quando republicamos uma antiga postagem.

TRAMA MACABRA

“O pior cego é aquele que não quer ver...”.
Dito popular


Eu não sei por que ainda perco o meu tempo e incomodo o meu intelecto e a minha criatividade escrevendo sobre o papa Bento XVI. Afinal, por seu curriculum vitae, que inclui um mandato de quase longos vinte e quatro anos (1981 - 2005) como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, instituída pelo papa Paulo VI (1897-1978), em 1965, e considerada o quarto e atual estágio da Inquisição, ele vem ocupando o primeiro lugar no meu index de persona non grata. À época, aliás, quando aceitou ser inquisidor, indicado para o cargo por João Paulo II (1920 - 2005), de quem foi mentor intelectual durante o seu pontificado, de 1978 a 2005, Bento XVI era o cardeal Joseph Ratzinger, então arcebispo de Munique, na Alemanha.

Assim, não é de se estranhar muitas das suas posições enquanto Papa – o 8° de origem alemã e o 265° da História –, já que, desde o início do seu pontificado, tem dado provas de que continua pensando como um inquisidor. Agora, óbvio, com mais poder, mais ainda, aliás, de quem ganha na mega-sena acumulada... Como podem ver, portanto, eu não faço parte das multidões de fiéis que se ajoelham – que ele adora! – diante das suas pregações de uma fé surreal, estimulando a prática da caridade, por exemplo, ao invés de promover a justiça social, mas, sim, das que se erguem – que ele teme! – diante do seu sadismo cada vez mais requintado.

Pior, inclusive, do que as arbitrariedades que ele cometeu quando era inquisidor. Sim, porque, à época, dispondo de apenas um martelinho, usado quando aplicava uma sentença, acusava um herege de cada vez. Na condição de Papa, ampliou o seu campo de atuação e as suas vítimas, visto que o seu poder e influência tornaram-se ainda maiores, já que, ao invés de um reles martelinho, ele disponhe, agora, da chave da porta do céu, a qual só concede passagem aqueles que considera merecedores da sua indulgência. Vejamos, portanto, a título de ilustração, um dos inúmeros casos de heresia julgados pelo Ratzinger inquisidor.




Quando, aos doze anos de idade, percebeu a sua vocação para o sacerdócio, o frade franciscano e teólogo brasileiro Leonardo Boff sempre esteve com um pé na fé e outro no povo, tornando-se, ao longo da sua trajetória de vida uma personagem singular. Aos quinze anos, apenas porque chegou ao seminário com livros de escritores proibidos pelo index da Igreja católica, por pouco não foi excomungado. Um dos exemplares, por exemplo, era A Origem das espécies, do naturalista britânico Charles Darwin (1809 - 1882), publicado em 1859, fato que levou uma delegação de padres a visitar o pai do jovem Boff, exigindo a queima dos livros.
Porém, mediante a exigência inusitada, o pai de Boff disse que queimava, sim, mas os padres. Não os livros... O fato é que Boff prosseguiu em sua carreira religiosa e, há decadas, por sua militância religiosa, política e social, tem tirado o sono de muita gente dentro e fora do Vaticano, sobretudo depois da criação da Teologia da Libertação na América Latina, lá pelos anos sessenta, embora a sua via crucis tenha tido início em 1972, quando publicou o livro Jesus Cristo libertador, onde fala de solidariedade e identificação com os pobres contra a sua pobreza e de sua libertação pessoal e social, ajudando a fundar a Teologia da Libertação. Nada demais! Afinal, não é isso o que a Igreja costuma pregar?


De 1970 a 1985, Leonardo Boff participou
do conselho editorial da Editora Vozes,
sendo um dos coordenadores da publicação
da coleção Teologia e Libertação
e da edição das obras completas do psiquiatra
suiço Carl Gustave Jung (1875 - 1961).


O detalhe é que, desde então, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé não largou mais do seu pé e as coisas só foram piorando. Em 1984, por exemplo, por causa do livro Igreja: Carisma e poder, que Boff publicou, em 1981, onde denuncia a opressão da mulher, a concentração do poder nas mãos do clero e defende os direitos humanos, ou seja, apenas constata fatos, foi intimado a comparecer diante do inquisidor Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – o termo Sagrada foi retirado em 1983 –, que decidiu abrir um processo contra o teólogo brasileiro por heresia, como se ainda estivéssemos em plena Idade Média.

A verdade é que Ratzinger considerava a Teologia da Libertação o Cavalo de Tróia do marxismo, principalmente na América Latina. Daí ele considerar imperativo combater o seu avanço. Por isso é que ele processou Boff e, em 1985, o condenou ao silêncio obsequioso: “Uma espécie de silêncio penitencial”, explicou o herege, que, dali para frente, “não podia falar, escrever, publicar, dar aulas...”. Penalidades, aliás, extremamente paradoxais, sobretudo para quem as aplicou, já que, um dia, talvez sob efeito de alguns cálices de vinho – bento, é claro! –, Ratzinger chegou a dizer que “quando o respeito é violado, algo de essencial se perde”.




O tal do silêncio obsequioso, contudo, só foi suspenso graças à pressão mundial e ao arcebispo brasileiro dom Paulo Evaristo Arns, que, em encontro com Ratzinger, teria dito:

— “Sua Santidade, o senhor fez com um aluno meu [Boff] aquilo que os militares do Brasil fazem, ou seja, fechar a boca, cortar a língua”...

Sem saída, o cardeal tentou se defender e, constrangido, retrucou: — “Eu, como os militares, torturadores? Absolutamente! Liberem o Boff!”...

A ascendência de Arns sobre Ratzinger, por sua vez, deveu-se ao fato da sua reputada conduta moral e política – diferentemente da do inquisidor, por exemplo, que fazia jus ao cargo que ocupava. Afinal, a trajetória religiosa, política e social de Arns sempre foi irrepreensível. Ao assumir a Arquidiocese de São Paulo, por exemplo – segunda maior comunidade católica do mundo, perdendo apenas para a da Cidade do México –, à frente da qual ficou ao longo de vinte e oito anos (1970 - 1998), ele não hesitou em vender o Palácio Episcopal por cinco milhões de dólares, que empregou em obras sociais, logo imprimindo o jeito Arns de ser.

Ou seja, igual a Boff, Arns tinha um pé na fé e outro no povo, sendo o seu curriculum vitae um rosário de prêmios, medalhas, títulos e homenagens nacionais e internacionais, além de diversos livros publicados, destacando-se, ainda, por ter sido uma das mais expressivas lideranças religiosas do Brasil, sobretudo pela sua resistência e combate à intransigência da ditadura militar (1964 - 1985), atuando em defesa das vítimas da repressão e dos direitos humanos, principalmente durante os chamados anos de chumbo, que teve início com a edição, pelo marechal Costa e Silva (1902 - 1969), em 13 de dezembro de 1968, do AI-5.

Instrumento jurídico que suspendeu as liberdades democráticas e os direitos constitucionais e individuais dos cidadãos brasileiros, além de fechar o Congresso Nacional e censurar a liberdade de imprensa no Brasil, o Ato Institucional n° 5 deu ainda mais peso aos anos de chumbo, que seria sentido, ainda, até o final do governo do general Emílio Garrastazu Médici (1905 - 1985), em março de 1974 – período, aliás, onde as torturas intensificaram-se, tornando-se o leitmotiv para um projeto de pesquisa, coordenado por Arns, iniciado em 1979 e concluído em 1985, durante o mais discreto e sigiloso silêncio, resultando no livro Brasil: Nunca mais.





Publicado no mesmo ano de 1985, o livro foi prefaciado pelo próprio Arns e registrou os horrores cometidos pela ditadura militar, causando comoção, polêmicas e repercussão internacional. Em 1989, Arns foi, oficialmente, indicado para o Prêmio Nobel da Paz. E foi à essa realidade que se referiu Arns quando repreendeu o inquisidor Ratzinger por ter proibido Boff de falar, escrever, publicar e dar aulas, silenciando-o injustamente. Bom! Como eu já disse em um outro artigo, intitulado As Bruxas de Salem, postado, inclusive, neste blog, podendo ser encontrado nos arquivos referentes ao mês de março...

O curioso é que, “interrogado durante horas no Palácio do Santo Ofício, onde, em tempos remotos, se praticavam torturas, Boff sentou-se na mesma cadeira onde, em outras circunstâncias, sentaram-se os hereges italianos Giordano Bruno (1548 - 1600) e Galileu Galilei (1564 - 1642).

Teria sido essa ou uma outra semelhante, a cadeira onde Leonardo Boff sentou-se diante do seu inquisidor, o cardeal Ratzinger, bem como o filósofo Bruno, queimado vivo na fogueira da Inquisição, e o matemático e astrônomo Galilei, que só escapou das labaredas medievais porque negou a sua própria tese de que a Terra não é o centro do Universo? Afinal, o modelo foi usado entre 1500 e 1800 em quase todos os países da Europa! Durante esse período, o acusado de heresia era preso com os pés para cima e a cabeça para baixo na cadeira. Tal posição, entretanto, causava dores atrozes nas costas, desorientava e aterrorizava a vítima. No entanto, possibilitava a fácil imposição de uma quantidade enorme de tormentos por parte dos inquisidores.



Segundo Boff, “os métodos da atual Inquisição mudaram. Hoje, se tortura apenas a psique do acusado, não mais o seu corpo...”. Além do mais, “depois do estabelecimento da infalibilidade do papa – esclarece o também teólogo e escritor brasileiro Frei Betto –, nenhum réu pode ter direito a defesa, porque não se pode partir do princípio de que a autoridade eclesiástica esteja equivocada, sendo o único tribunal do mundo onde isso acontece”. Não se pode nem pedir perdão! Advogado? Só se for o do Diabo e, se brincar, o processo dos julgamentos dos inquisidores seriam semelhante aos dos da Rainha de Copas do país das maravilhas da fictícia Alice.





Criado pelo romancista inglês Lewis Carroll (1832 - 1898), Alice no País das Maravilhas foi publicado em 1865, mas não deixa de ser atual. A personagem Rainha de Copas, por exemplo, tem como lazer ordenar a decapitação de quem a desagrada. Só que, detalhe, a execução da sentença vem antes do veredicto, ou seja, primeiro corta-se a cabeça do suposto infrator para depois julgá-lo. Porém, qualquer semelhança com a história do embate de Boff e Ratzinger é mera coincidência. O fato é que, o tempo passou e, durante a Eco-92, no Rio de Janeiro, Boff, mais uma vez, foi repreendido por Ratzinger, que voltou a lhe impor o silêncio obsequioso.

Novamente punido, o teólogo estava impedido de falar, escrever, publicar e dar aulas, além de ter de deixar o Brasil e a América Latina, devendo escolher um convento alhures, onde ficaria encerrado, sem nem mesmo pensar! Desta vez, entretanto, ele se recusou a obedever o Vaticano e, em sinal de protesto, disse que preferia renunciar ao sacerdócio. Pensam que adiantou alguma coisa? Nada! Ratzinger permaneceu irredutível em sua decisão. Sem alternativa, Boff renunciou. Desde então, mudou de trincheira, mas não da luta, e vem se considerando “um cigano teológico”, atiçando as fogueiras da Inquisição, já que, para ele, “a Igreja mente, é corrupta, cruel e sem piedade!”.

Em fevereiro de 2009, entrevistado pela jornalista Fabíola Ortíz, da Agência de Notícias de Portugal, Boff disse que, quando inquisidor, Ratzinger puniu mais de cento e cinqüenta teólogos e cerceou a liberdade de pensamento no seio da Igreja. Questionou, inclusive, a sua indicação e eleição para o mais alto cargo da hierarquia da Igreja católica, que é o de papa: “Até hoje é um mistério, pois [Ratzinger] é uma figura de desunião, de polêmica”. Ainda em fevereiro, em visita ao Brasil, o teólogo heterodoxo suíço Hans Küng concedeu uma entrevista à Carina Rabelo, da revista IstoÉ, e, como sempre, destilando verdades, causou polêmicas.

A título de ilustração, Küng e Boff foram dois que se deram mal nas mãos do inquisidor Ratzinger, que, aliás, já os conhecia desde os anos sessenta, época em que chegaram a ser amigos. Porém, na opinião de Küng, o tratamento que Ratzinger dispensou a Boff “foi semelhante à Inquisição [medieval]”. Segundo o rebelde alemão, os direitos do brasileiro não foram respeitados nem nunca houve, de fato, um processo contra ele: “Boff foi, simplesmente, condenado e ninguém nunca entendeu direito o porquê”. E acrescentou: “Depois disso, ele foi sumariamente excomungado, mas, felizmente, sobreviveu a tudo aquilo e ainda está em atividade.”

Em um artigo de sua autoria, Ratzinger: o exterminador do futuro?, Boff diz que, para certos religiosos de batina e de plantão, “Cristo é o único caminho para a salvação e a Igreja é o pedágio exclusivo”. De fato, diria eu, uma arrogância que remonta à Idade Média, sobretudo diante da preocupação do teólogo quanto ao futuro diálogo micro e macro ecumênico: “É aterrador”. No entanto, Boff vai ainda mais longe quando afirma: “Quem pretende possuir a verdade absoluta sozinho está condenado à intolerância”. Imagino que, ao escrever isso, mesmo porque nenhuma verdade é absoluta, embora muitos achem que sim, ele estava se referindo a Bento XVI...





O fato é que, ao tomar conhecimento que, mal começou 2009, Bento XVI, em apenas três meses, teve o seu nome envolvido em três episódios polêmicos, que, inclusive, até poderiam ser vistos como uma trilogia de filmes noir à la Hitchcock (1899 - 1980) – daí o título do artigo –, não resisti à tentação e, na condição de jornalista e cidadã, cedi aos apelos da minha indignação e decidi escrever este artigo. Obviamente que as imagens dos filmes teriam de ser captadas em super-8. Afinal, imbuído de idéias medievais, o démodé Bento XVI ainda nem deve ter percebido que estamos na era digital, em um mundo globalizado, sem fronteiras... Enfim! Chega de introdução.

Vamos logo as histórias dos filmes propriamente ditas. Sei, contudo, que os temas abordados aqui já foram ampla e exaustivamente explorados pela mídia de, praticamente, todo o mundo. Mas isso não fazem das minhas impressões algo já ultrapassado, superado. Isso porque os fatos que comento continuam tão atuais como quando eles eles ocorreram. No entanto, reconheço, que, incialmente, pensei em escrever um artigo, mas acho que terminei escrevendo um ensaio, de tão logo que o texto ficou, embora não deixe de ser um registro. Além, é claro, de ter sido um saudável e producente exercício mental – deu-me, até, dormência nas pernas, de tanto ficar sentada!

Assim, ressalto que, com Trama macabra – título da trilogia –, não tenho a intenção de ferir a suscetibilidade de ninguém, apenas expressar as minhas idéias. Discordâncias? Se for o caso, saberei recebê-las, mas que sejam postas de maneira inteligente. Afinal, estou só exercendo o meu ofício, que é escrever, praticando o ócio criativo. E as histórias que pretendo contar, O Perdão tarda, mas não falha (remissão da excomunhão dos bispos lefebvrianos por Bento XVI); Em busca da infância perdida... (estupro, pedofilia e o aborto feito na menor de Pernambuco) e Angola engole papa! (posição papal contrária ao uso do preservativo).

Além disso, têm, também, as considerações finais, intituladas Um pé na África e algumas curiosidades. E, mesmo não sendo os temas mais novidades, notícias quentes, como se diz no jornalismo, os textos são longos, mas agradáveis de ler. Daí, modéstia à parte, recomendar a leitura. Como disse Lewis Carrol: “Comece pelo começo, siga até chegar ao fim e, então, pare”. Agora, quem se interessar pelo texto na íntegra, peça-me por e-mail que, gratuitamente, o enviarei por anexo. Afinal, essa introdução, como o nome já diz, é, apenas, uma introdução. E se eu a postei foi simplesmente para alimentar um gostinho de “quero mais”... Voilà!

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O Direito de escolha...




“Só existe opção quando se tem informação!”.

Arnaldo Jabor
Cineasta e jornalista brasileiro


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Bendito seja o amor de Cristo!

“Os padres querem casar. Mas quem trai um celibato de dois mil anos há de trair um casamento em quinze dias...”.

Nelson Rodrigues (1912 - 1980)
Dramaturgo brasileiro


— Não adianta eu querer ser duas pessoas


porque é suficientemente difícil ser respeitável...

Fala de Alice, personagem do livro Alice no País das Maravilhas (1865), de Lewis Carroll.


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Ponto de vista



“O que vale na vida não é o ponto de partida
e sim a caminhada...”.

Cora Coralina (1889 - 1985)
Poetisa e doceira brasileira


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Não existe verdade absoluta...




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O papa do não!

Toulose-Lautrec (1864 - 1901), pintor francês
Baiser dans le lit, 1892



“O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar...”.

Drummond (1902 - 1987)
Poeta brasileiro




— Só não se esqueçam de mim!





— Se depender de mim...



“Hoje, qualquer coroinha contesta o Papa...”.
Nelson Rodrigues
Dramaturgo brasileiro


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Voa solidéu, voa...


Mas, como voa o solidéu de Bento XVI!

Sugestão: por que ele não põe um friso (grampo de cabelo)?



Essa seqüência, então...




É nisso o que dá quando se tenta promover a paz a todo custo. Pelo menos, é isso o que costuma dizer Bento XVI, ou seja, promover o diálogo entre os povos. E o episódio aconteceu durante visita do Papa ao Médio Oriente. Terminou que, com a ajuda do vento, soprando forte em Jerusalém, durante a cerimônia de boas-vindas ao Papa, organizada pelas autoridades israelitas, Bento XVI mudou rapidinho de figurino. E de figura, aparentando ser um autêntico muçulmano. Parfait!, como diriam os franceses!

 
Nathalie Bernardo da Câmara
 De um observatório qualquer...

Um comentário:

  1. Só pra lhe dizer que eu vim aqui. Aliás, venho sempre desde o feed. Mas esse papa, coitado, eu nao tenho o menor interesse nele. Mão sou católica, nem cristã, tô fora desse asunto.

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