terça-feira, 12 de novembro de 2013

E ENTÃO, VAMOS FECHAR?


Por Everton Dantas
Artigo publicado no Novo Jornal, dia 12 de novembro de 2013.


A cidade é perfeita. Chega a ser meio surreal. Fica à beira do mar, mas não tem risco de tsunami nem tubarões, pode ficar tranquilo. O máximo de mal que se encontra por aqui são algumas línguas negras (esgoto correndo) que incomodam, mas não perseguem. Além do mais, ficam lindas nas capas dos jornais. Tem praia interditada sim. Mas é só uma ou duas. E o pessoal não se importa tanto. Toma banho do mesmo jeito. O povo é forte. Imagine que passa dia – passa noite e não tem atendimento adequado de saúde, mas mesmo assim sobrevive. E como! A população só faz crescer, gente trabalhadora que não tem mania de dar atenção ao que não importa. Trabalha, ganha o seu vintém, compra sua TV, sua moto, sua cerveja, ouve sua música, vai ao estádio (torcer por um ou outro) e volta para a casa. Política: repete o futebol. É coisa de torcida.

A cidade é pequena. Tem engarrafamento, mas é tão curta a distância que há entre os pontos mais distantes que até hoje não se tem notícia de ninguém que tenha enlouquecido. As pessoas permanecem bem dentro dos carros. Ainda mais agora, mais recentemente, que a cidade está passando por obras e a população havia perdido o costuma. Contam, não sei se é verdade, que tem gente que faz questão de acordar cedo e pegar um congestionamento lá pras bandas do estádio só para ter o gosto de ver algo sendo feito. E que rapidez. Dormiu-se. Acordou-se. E pronto! Estava lá uma obra em andamento com desvios e congestionamentos à porta de parte da população. Irrita? Irrita, claro. Mas faz parte do pagamento para ter um futuro melhor. Um futuro brilhante, diria algum historiador, se pudesse falar. Mas não pode. Morreu. Nada grave.

Mas não me deixe terminar sem falar nas praias. Nas outras, as melhores. E mais bonitas. Principalmente as que só se alcançam de carro, de 4x4, de barco, de avião, as bem distantes, impensáveis para a maioria. A maioria? Está satisfeita. Vive bem. Não tem do que reclamar. Só para citar, são daqui alguns dos líderes maiores do país. E o local tem uma capacidade para eleger singularidades, coisa da alma do povo, sabe. A democracia, por aqui, é mais simples e menos confusa. Não importa se você participa do governo, a crítica é feita e ninguém pergunta por que você não renuncia. Pelo contrário. Aplaude. Depois briga. Depois se junta. E fica tudo bem. No final do ano vai todo mundo junto à praia, planejar o futuro da gente. Nas horas vagas, por prazer, planejam as nossas vidas e como ISS pode melhorar. Não há do que reclamar.

Se de dia tem a praia, de noite terá o estádio. É grande. Muito grande.

Pense num ‘negoção’. Veio dia desses um rapaz aqui e disse que era o mais bonito de todos. O sol quando bate às 17h transforma a cobertura numa joia de ouro. Os jogos serão a atração principal. Mas quando acabar, virão os shows internacionais. Aqui vai ser um dos centros do mundo. É perto. É a ponta que aponta para a Europa. Não por nada já foi chamada de trampolim. E – ao mesmo tempo que ficará moderna – permanecerá essa calmaria. Perceba. Ouça. Ouve algum tiro? Grito? Alguma sirena? Nada. Morre gente, claro. Mas todos esses que morrem se envolveram com droga. A polícia confirma. A droga é que é o problema. E droga não é um problema só daqui. Se resolver no país, resolve aqui. Não adianta querer cobrar a solução daqui se no País não se resolve. Assalto tem. Mas que se tenha notícia, ninguém morreu. No máximo, no máximo uns machucadozinhos. Se ocorresse, os jornais não deixariam passar. Os jornais daqui estão conectados com a história do lugar, o que os impede de destoar da realidade. E afinal, remédio para assalto é seguro. Que levem os bens, e ninguém se machuque. Polícia? Claro que tem. Os carros e as fardas limpas, organizadas. E a polícia civil é toda composta por universitários. Coisa de nível. Como chega? Ora, avião! O aeroporto tem um caminho lindo que mistura pistas diferentes e bastante contato humano. Acredite se quiser: até por mata atlântica passa! Dá para crer que preservaram aqui o que o país inteiro perdeu? Pois é. Não deixa de dar um gostinho de aventura, já quando chega. No mais, não tem nada que incomode. Quem está acostumado com grandes cidades, á sua população, se incorpora logo. O povo é dinâmico. E sabe mostrar essa postura à frente dos elevadores, nas escadas rolantes e no trânsito; tratando os visitantes como se fossem da família; como se a rua fosse a casa; como se tudo fosse seu. Acaba sendo uma grande diversão, se você entender o espírito, a personalidade do pessoal. Eu mesmo, adoro. Moro aqui de olhos fechados. Não saberia viver em outro local. O pessoal fala de Nova York... Uma chatice. São Paulo, aquela coisa da chuva, das enchentes. Rio... Você não sabe o que é pior: a polícia ou os bandidos. Brasília, só concreto. Aqui não tem disso. Tudo é muito claro, todo mundo é muito sincero e sem preconceito. Tem pra tudo, tem pra todos os gostos. E o melhor: tudo parcelado, com prestações que cabem no seu bolso e sem burocracia. Você não há de se arrepender. E então, vamos fechar?

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