segunda-feira, 28 de outubro de 2013

CHAPEUZINHO VERMELHO E A MÍDIA

— São para te ouvir melhor..., diz o astuto lobo.


Em meados de 2005, recebi um e-mail, tipo spam, intitulado A História de Chapeuzinho Vermelho sob o prisma da mídia. À época, achando o conteúdo do e-mail por demais hilário, não hesitei em salvá-lo, criando um arquivo para ele no meu computador, aproveitando, ainda, para encaminhá-lo a diversos amigos, os quais, acredito, devem ter igualmente “curtido” o insight do autor desconhecido que, quando o criou, deve provavelmente tê-lo feito sem maiores pretensões – a não ser, imagino, rir um bocado. Ocorre que, depois de pouco mais de oito anos, numa das minhas eventuais incursões nas pastas do meu computador, encontrei a divertida brincadeira, logo pensando em postá-la neste blog. Só que, antes de fazê-lo, é pertinente ilustrar esta postagem com informações divulgadas numa outra neste mesmo espaço, no dia 3 de junho de 2011, a qual, aliás, se chama A Verdadeira história de Chapeuzinho vermelhoUma parábola do estupro, cujo link encontra-se ao final desta.

Então... “Segundo a versão dada à história de Chapeuzinho Vermelho pelos alemães Irmãos Grimm – Jacob (1785 - 1863) e Wilhelm (1786 - 1859) –, que reuniram numerosos contos populares e os publicaram em 1812. Um desses contos era, exatamente, a história da menininha comida pelo lobo mau. E é a versão que conhecemos. No entanto, a origem do conto é outra. Remonta ao escritor francês Charles Perrault (1628 - 1703), que, em 1697, se inspirando na tradição oral, publicou O Chapeuzinho Vermelho, um dos Contos da mãe gansa, com o pseudônimo Perrault d’Armancour, nome do seu filho”, sendo que a sua intenção limitava-se a fins didáticos, diferentemente da de Jacob e Wilhelm, que “negaram a versão original” da história, “embora não a tenham destituído do seu simbolismo”.

Qual seria, portanto, como constava no arquivo que recebi por e-mail, o foco dado pela mídia à história de Chapeuzinho Vermelho a partir do perfil de certos canais de televisão e jornais e revistas do país? Não obstante, nesta postagem, pensei que seria melhor dispor tais perspectivas por ordem de veículo, tipo: iniciando pela televisão, depois pelos jornais e, por fim, pelas revistas, não resistindo, contudo, a “retocar” o texto, tornando a sua leitura mais palatável, apesar de remarcar o fato de que, quando essa “brincadeira” foi criada, a conjuntura política era outra. E que, por ser considerado grave e extremamente inusitado, o fato, na releitura que fiz do texto, foi notícia de destaque nas capas dos impressos, ou seja, jornais e revistas, e sempre acompanhada de uma fotografia. Enfim! Vamos lá, então, pela estrada afora?




JORNAL NACIONAL
Willian Bonner (apresentador): — Boa noite! Uma menina de sete anos foi devorada por um lobo na noite de ontem.
Fátima Bernardes (apresentadora): — Mas, graças a atuação de um caçador, não houve uma tragédia.

FANTÁSTICO
Glória Maria (apresentadora, que recebeu direito a uma exclusiva logo após a ocorrência do fato): — Que gracinha, gente, mas vocês não vão acreditar! Essa menina linda, aqui, foi retirada viva da barriga de um lobo. Não foi mesmo? – perguntou, passando a mão no chapeuzinho vermelho da vítima.

CIDADE ALERTA
Luiz Datena (apresentador): — Onde é que a gente vai parar? Cadê as autoridades? Cadê as autoridades? A menina ia para a casa da sua vovozinha a pé... – não tem transporte público! Não tem transporte público! – ... quando foi devorada viva! Por um lobo, gente, um lobo safado! Põe na tela, primo, porque eu falo mesmo! Não tenho medo de ameaça nem de lobo morto! Não tenho medo de lobo não!

JORNAL DO BRASIL (extinto)
Chamada de capa para a reportagem: Floresta: garota é atacada por lobo.
Na reportagem propriamente dita, o leitor não fica sabendo onde, nem quando, nem mais detalhes a respeito do fato.

O GLOBO
Chamada de capa para a reportagem: Retirada viva da barriga de um lobo.
Na reportagem, um mapa da região, já que, para o jornal, o salvamento é mais importante que o ataque.

FOLHA DE S. PAULO
Legenda da foto da reportagem: Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador.
Na reportagem, num box, um zoólogo explica os hábitos alimentares dos lobos e um imenso quadro infográfico mostra como Chapeuzinho Vermelho foi devorada e, depois, salva pelo lenhador.

NOTÍCIAS POPULARES
Chamada de capa para a reportagem: Sangue e tragédia na casa da vovó.

O ESTADO DE S. PAULO
Chamada de capa para a reportagem: Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.

CORREIO BRAZILIENSE
Chamada de capa para a reportagem: Petistas atacam vovozinha e tentam agarrar a netinha.
Numa passagem do texto, referindo-se a Chapeuzinho Vermelho e a sua avó, lê-se: “Graças à atuação do Governador Roriz, ambas estão bem e recebem pão, leite e cesta básica...”.

JORNAL DE BRASÍLIA
Chamada de capa para a reportagem: Roriz salva vovozinha e netinha de cra... catrás... cratás... catástrofe.

ISTO É
Chamada de capa para a reportagem: Gravações revelam que lobo foi assessor de influente político.

VEJA
Numa passagem da reportagem, lê-se: “Fulano de tal, 23, o lenhador que retirou Chapeuzinho Vermelho da barriga do lobo, tem sido considerado um herói na região”. Ele disse: — Não foi tão perigoso assim, pois o lobo estava dormindo...

MARIE CLAIRE
Chamada de capa para a reportagem: “Na cama com um lobo e minha avó”, relato de quem passou por essa experiência.

CAPRICHO
Chamada de capa para a reportagem: Lobo Gato!

REVISTA NOVA
Chamada de capa para a reportagem: 10 maneiras de levar um lobo à loucura na cama.

PLAYBOY
Título do ensaio fotográfico com Chapeuzinho Vermelho no mês do escândalo: Veja o que só o lobo viu.

G MAGAZINE
Título do ensaio fotográfico com lenhador dias depois do seu ato heroico: Lenhador mostra o machado.

SEXY
Título do ensaio fotográfico com Chapeuzinho Vermelho um ano depois do escândalo: Essa garota matou um lobo!

CARAS
Reportagem fartamente ilustrada com Chapeuzinho Vermelho um ano depois do escândalo: Na banheira de hidromassagem na cabana da avozinha, em Campos de Jordão, Chapeuzinho reflete sobre os acontecimentos.
Numa passagem da reportagem, ela confessa: — Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida, hoje sou outra pessoa...

REVISTA CLÁUDIA
Chamada de capa para a reportagem: Como chegar a casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.




Reconhecendo a “tirada” criativa do autor – não identificado, aliás – penso que ele deveria ter explorado mais as performances de demais apresentadores de programas e telejornais – alguns extremamente caricatos –, bem como fazer referência a outros jornais e revistas, além de acrescentar o rádio na sua proposta. De qualquer modo, fico pensando que seria interessante algum tipo de registro de demais abordagens da história de Chapeuzinho Vermelho, tipo as charges, sempre presente em impressos (jornais e revistas) e ilustrações de livros. No caso das charges, por exemplo, a “aventura” de Chapeuzinho Vermelho já foi e continua sendo explorada por diversos autores, embora as suas personagens sejam inseridas em contextos variados, sobretudo o político, tal qual a charge de abertura desta postagem e das outras duas abaixo...





Porém, no quesito violência urbana...


No caso das edições de livros narrando a história de Chapeuzinho Vermelho, muitas são as ilustrações, como, por exemplo:

Um dos desenhos do francês Gustave Doré (1832 - 1833) que ilustram a versão dos irmãos Jacob e Wilhelm dada ao drama de Chapeuzinho Vermelho.


Capaz de outros formatos de difusão, a referida história também já foi, inúmeras vezes, aproveitada por autores de histórias em quadrinhos, sendo que, no caso abaixo, em desenhos para as crianças colorirem.



Isso sem falar que a história da menininha, que, inocentemente, adentra na floresta para visitar a sua avó, igualmente inspira campanhas de sensibilização e combate à pedofilia...

Crime de estupro (art. 213 do Código Penal) e crime de atentado violento ao pudor (art. 214 do Código Penal), a pedofilia é considerada crime hediondo.
Pena: De 6 (seis) a 10 (dez) anos de reclusão.


Não esquecendo que a história em questão vez por outra é tema de festas de aniversários, fantasias, cartões, estampas de camisetas e de uma variedade de produtos, incluindo adereços, propagandas etc, apenas confirmando as possibilidades ilimitadas de “aproveitamento” da narrativa e das suas personagens, embora, de certa forma, podemos, até, abrasileirando a trama, levantar a seguinte questão: quem sabe não teria o Saci que salvou Chapeuzinho Vermelho e a sua vovozinha do lobo mau.



Homenagem a Ziraldo, cartunista, chargista, pintor, dramaturgo, caricaturista, escritor, cronista, desenhista, humorista, colunista e jornalista brasileiro, que, recentemente, esteve internado por problemas de saúde, além de ter completado, no dia 24 de outubro, 81 anos de idade.


Enfim! Cumprindo com o prometido, eis o link para a postagem A Verdadeira história de Chapeuzinho vermelhoUma parábola do estupro, à qual fiz referência no início desta e, diga-se de passagem, para a minha surpresa, a mais lida do meu blog, o qual, por sua vez, desde que o criei, em 2009, está na iminência de completar 105 mil acessos:


Nathalie Bernardo da Câmara



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aceita-se comentários...