“O que foi que aconteceu com o ‘dar a outra face’?”
Nicole Winfield
Da AP, em Manila,
Filipinas, em reportagem sobre comentário do papa Francisco, com tradução de
Paulo Migliacci, publicada na Folha –
16/01/2014.
No dia 21 de janeiro do
corrente, o Estadão publicou um artigo,
de autoria do jurista Fábio Uchoa Coelho, cujo título eu peguei emprestado para
nominar esta postagem. Infelizmente, o referido jornal não autoriza que se
reproduza, copiando e colando, nenhum dos seus conteúdos. Dessa forma,
limito-me a passar o link para o artigo em questão, que, aliás, é deveras
interessante:
Abaixo,
outro artigo, no caso, publicado pelo jornal português Público.
Nathalie Bernardo da
Câmara
E o vento levou...
STEFANO RELLANDINI/REUTERS
Oito razões contra o
Papa
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– 25 janeiro 2015
Esta
imagem foi tirada no intervalo entre duas frases que vão ficar na história
deste papado. A frase sobre os limites da liberdade de expressão e a frase dos
coelhos. Quando Francisco dá a sua opinião, sabemos que a ideia é dele, é clara
e vai pôr o planeta a conversar.
Na
primeira, o Papa não tem razão. Há dois anos que Francisco ilumina tanto
crentes como ateus. Desta vez, desafinou. Falando sobre o atentado contra o Charlie Hebdo, disse que “não se
pode provocar, não se pode insultar a fé dos outros, não se pode ridicularizar
a religião dos outros”, e que por isso a liberdade de expressão “tem limites”.
Oito argumentos contra:
1. É
impossível definir limites. Se sentarmos 100 muçulmanos numa sala e lhes
mostrarmos umcartoon de
Maomé, metade achará o desenho ofensivo e a outra metade não. O mesmo
aconteceria numa sala com 100 católicos ou 100 judeus. Dirão que o islão é
diferente, pois proíbe a representação de Maomé tout court, mas todos sabemos que
para milhões de muçulmanos isso nunca foi uma questão.
2. Se o
Papa tivesse razão, nunca teríamos visto o cartoon de António (no Expresso), que em 1993 pôs um preservativo
no nariz de João Paulo II. O desenho ofendeu 20 mil católicos, ou pelo menos
esses foram os que se deram ao trabalho de assinar uma infeliz petição pública
na qual se explicava que a “execrável caricatura” era uma “torpe ofensa” ao
Papa, que “ofendeu Deus Nosso Senhor na figura do seu digno representante na
Terra”.
3. O Papa
não tem razão porque o que propõe é inútil. No dia em que o mundo acordar que
jamais se desenhará um só Maomé que seja, os fanáticos encontrarão uma nova
razão obscura. O Boko Haram, que significa “a educação ocidental é pecado”,
mata sem precisar de comprar jornais à procura decartoons que o enfureça.
4. O Papa
não tem razão porque a religião não merece ter qualquer protecção especial, nem
em relação ao humor nem à liberdade de expressão.
5. O Papa
não tem razão porque, se cedêssemos à tentação de definir limites para o que se
pode ridicularizar, não faríamos mais nada no mundo: primeiro definíamos a
grelha para cada uma das religiões, depois para o laicismo, a seguir para os
partidos políticos, os defensores dos direitos dos animais, os estivadores, os
homossexuais, as feministas…
6. Se o
Papa tivesse razão, Portugal nunca teria visto os cartoons de Rafael Bordalo Pinheiro.
7. Definir
limites seria dar razão aos que dizem que o terrorismo existe por causa dos que
usam a liberdade de expressão para fazer rir.
8. O Papa
não tem razão porque não é aceitável que sejam os fanáticos a definir o que os
países democráticos podem e não podem ridicularizar.
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