“Na presidência da Câmara está
sentado um desafeto da presidente da República e na presidência do Senado um
inimigo do ministro-chefe da Casa Civil. Que situação...”.
Dora Kramer
Jornalista brasileira.
Esta postagem limita-se a ser apenas um breve registro da posse dos 513
deputados federais (198 assumiram o mandato pela primeira vez) e 81 senadores
(27 também assumiram o mandato pela primeira vez) dia 1º do corrente no
Congresso Nacional, em Brasília – fato esse que, criticamente, foi tão bem
retratado pelo chargista.
Senadores e...
“Não jurei, apenas li as
palavras do juramento...”.
Ovídio (43 a. C. - 17)
Poeta latino
No dia seguinte (02/02), o ano legislativo foi oficialmente aberto,
numa cerimônia realizada no plenário da Câmara com a Mesa Diretora do Congresso
Nacional, já formada pela mistura das mesas da Câmara e do Senado, com o
presidente Senado assumindo a presidência do Congresso – para a ocasião foram
convidados os presidentes dos Poderes Executivo e Legislativo. Enfim! Nem
carece escrever demais, já que, embora eleitos pelo voto direto,
democraticamente – pelo menos é o que dizem –, nenhum deles me representa,
muito menos os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, ambos, diga-se
de passagem, do PMDB – o lendário e politicamente degredado Sarney anda a
soltar rojão, lá no Maranhão.
PEIA NELE!
“Às vezes, os economistas são
melhores do que os escritores para contar contos de fadas...”.
Mario Vargas Llosa
Escritor, jornalista e político
peruano – Prêmio Miguel de Cervantes (1994) e Nobel de Literatura (2010).
Caiu como a uma luva a frase do autor de Sabres e utopias (2009) – epígrafe acima – para aludir ao novo
presidente da Câmara dos Deputados, o parlamentar Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
eleito com 267 votos e com o maior bloco de apoio da disputa, já que,
oficialmente, 14 legendas declararam apoio a sua candidatura: PMDB, PP, PTB,
DEM, PRB, SD, PSC, PHS, PEN, PRTB, PSDC, PRP, PMN e PTN. Só que, “desafeto
público da presidenta Dilma Rousseff, a eleição de Cunha não representa apenas
uma dor de cabeça ao Palácio do Planalto, mas cai como um balde de água fria em
questões como criminalização da homofobia, democratização dos meios de
comunicação e descriminalização da maconha, pautas que o parlamentar já se
colocou publicamente contra”, diz a versão eletrônica do portal Fórum (02/02). Ridicularmente, contudo,
segundo o portal da revista Exame
(01/02), “a vitória do candidato já era dada como certa mesmo antes da votação.
No bolão realizado por seus aliados, os lances variavam de R$ 50 a R$ 1.500.” – Bolão?
Porém,
grave mesmo, deveras preocupante, é o histórico do recém-empossado presidente
da Câmara dos Deputados – listas, aliás, contestando a idoneidade do político
Eduardo Cunha é o que não falta! E todas mais assustadoras do que o temido
bicho-papão. De qualquer modo, não irei, aqui, reproduzi-las, mas apenas passar
alguns links para (03) três delas – caso o (a) leitor (a) tenha interesse em
saber dos podres poderes do parlamentar, é só acessá-los, ficando, contudo, a
sugestão: vale conferir...
http://www.buzzfeed.com/alexandreorrico/12-motivos-para-lamentar-a-eleicao-de-eduardo-cunha-para-pre
Então... De
acordo, ainda, com o portal da Fórum,
“se por um lado o governo federal terá que rearticular a sua base e negociar
pautas de seu interesse com o novo presidente da Câmara, os parlamentares progressistas
e os movimentos sociais que atuam com questões ligadas aos direitos humanos
terão de organizar suas respectivas bases, pois os dois anos com Cunha frente à
Câmara não deixa margem para luz no fim do túnel. – não é à toa que, nas redes
sociais, deputados federais lamentaram a vitória do candidato do PMDB.
— O
Legislativo será comandado por Eduardo Cunha. Considero um retrocesso grave na
questão das pautas progressistas, à esquerda, e demais áreas que se referem ao
futuro democrático do país. Não o vejo como um parlamentar aberto às
reivindicações populares, muitas delas pulsadas dos movimentos sociais, pelas
reformas estruturantes, liberdades individuais, laicismo no Estado e pluralidade
do povo. Péssimo. Contudo, quem realmente ditará os rumos da Casa será a
sociedade brasileira, detentora do poder máximo’... – Deputada Jandira Feghali
(PCdoB-RJ), em seu perfil oficial no Facebook.
— A eleição
da Câmara hoje abre um período de obscurantismo e retrocesso pois com um
presidente que já anunciou que não apreciará matérias que vão na direção
contrária das suas concepções pessoais podemos esperar um Parlamento ainda mais
fundamentalista. Este dia de hoje fica marcado pelo retrocesso e por uma profunda
ameaça à democracia. – Deputada Erika Kokay (PT-RJ), que divulgou um vídeo nas
redes “no qual também lamentou a vitória de Eduardo Cunha, mas reafirmou que é
a hora de organizar a sociedade por pressão popular e que será necessária uma
articulação de ‘fora para dentro’”.
— Com a
derrota nas eleições para a presidência da Câmara e a consequente perda de
posições na Mesa Diretora, o PT fará questão de pegar a presidência de três
comissões de peso legislativo – o que significará deixar, de lado, a Comissão
de Direitos Humanos e Minorias (como o PC do B também não optará por esta
comissão, o provável é que ela caia nas mãos de algum partido que tenha, como
objetivo, impedir o avanço legislativo em relação aos DHs de minorias e às
liberdades individuais, como, por exemplo, PSC, PP, PR et caterva). – Deputado Jean
Wyllys (PSOL-RJ).
“Como se
vê, prossegue a reportagem, os parlamentares que estão à frente das pautas
progressistas possuem uma perspectiva pessimista para a questão dos direitos
humanos.”
O fato é
que já está mais do que evidenciado os aspectos obscuros da mente obtusa de Eduardo
Cunha, um parlamentar nocivo ao Congresso Nacional e ao povo brasileiro. Tanto
que, devido a conchavos escusos, uma das suas primeiras resoluções foi
presentar o dito Partido Progressista (PP), a agremiação partidária mais
enrolada na Operação Lava Jato, com duas importantes poltronas: a primeira
vice-presidência da Câmara para o deputado federal Waldir Maranhão, do Maranhão,
suspeito de ter ligações com os integrantes do esquema de lavagem de
dinheiro e desvio de recursos de fundos de pensão investigado na operação
Miqueias, da Polícia Federal, e o comando da Comissão de Constituição e Justiça
para o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), em cujo currículo consta um
indiciamento na Lei Maria da Penha por agredir fisicamente uma ex-companheira...
– pelo visto, tais resoluções estão bem distantes da altivez do parlamento que Eduardo
Cunha disse querer buscar durante o seu mandato.
Enfim!
Seguidor da Igreja Sara Nossa Terra e um dos expoentes da bancada evangélica no
Congresso Nacional – uma das mais nocivas no Congresso Nacional, sendo,
portanto, igualmente nociva para o povo brasileiro –, o deputado federal
Eduardo Cunha, formado em economia, representa, entre outros, um retrocesso no
item direitos humanos.
E agora, José?
“O
abuso de juramento é uma confissão implícita da insuficiência moral dos
homens...”.
Nicolas Boileau (1636 - 1711)
Escritor
francês.
Outro que tem a ficha para
lá de suja – são raros os políticos que não têm – é o senador Renan Calheiros (PMDB-AL),
reeleito para a presidência do Senado Federal pela quarta vez – ninguém merece!
Em votação secreta, segundo o portal da Folha
(1º/02), “o parlamentar recebeu 49 votos contra 31 para o senador Luiz Henrique
da Silveira (PMDB-SC), seu adversário na disputa. Um senador votou nulo. A
candidatura de Luiz Henrique promoveu um racha no PMDB, já que o catarinense
decidiu entrar na disputa mesmo sem o apoio de seu partido para enfrentar o
colega de sigla. Renan foi o candidato oficial, com o apoio do partido”, bem
como “o apoio do Palácio do Planalto, que mobilizou ministros para garantir sua
vitória. O PT, partido da presidente Dilma Rousseff, anunciou publicamente
apoio à reeleição do peemedebista – mesmo enfrentando divergências internas de
um grupo pró-Luiz Henrique”, que, oficialmente, recebeu “o apoio de sete
partidos: PSDB, DEM, PP, PDT, PSB, PSOL e PPS, além de apoios individuais em
outras siglas, como PMDB e PT. Todas as bancadas somadas garantiriam pelo menos
34 votos ao candidato independente. Na prática, porém, Luiz Henrique não
conseguiu garantir a unanimidade dos votos das siglas que lhe prometeram apoio.”
Quanto à
ficha suja do senador Renan Calheiros, quem ainda não a conhece?! Por via das
dúvidas, uma amostra: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/as-denuncias-contra-renan-calheiros/
Mais? Está tudo no Google.
Enquanto isso...
“Na política não há amigos, apenas
conspiradores que se unem...”.
Victor Lasky (1919 - 1997)
Jornalista norte-americano
Fechando esta postagem, pois já estou enojada, esperando, contudo, que Dilma
Rousseff, que, apesar de tudo, é a chefe do Executivo, possa conduzir o país sem
maiores estragos e cumprir o seu mandato, democraticamente. Se a contento de cada um de nós, brasileiros
ou não que moram no país, isso eu já não sei, mas que pelo menos tente. E com
lisura, já que, afinal, nada podemos esperar de positivo dos atuais presidentes
da Câmara dos Deputados e do Senado – o histórico de ambos é mais sujo do que pau
de galinheiro. Isso sem falar que eles estão comprometidos até o pescoço com a
Operação Lava Jato! No quesito direitos humanos, Cunha e Renan não têm
interesse algum em possíveis avanços da sociedade brasileira nesse sentido. Bom!
Como disse o ator, humorista, escritor, roteirista e empresário brasileiro
Gregório Duvivier, em entrevista ao jornal Zero
Hora (31/01/2015): — Há tempos não tínhamos um congresso tão reacionário...
Só que, detalhe:
a presidente do Brasil, por mais que tenha apoiado a candidatura de Renan
Calheiros para presidir o Senado, não deve sair da linha. E por hipótese alguma!
– só de apoiar tal candidatura, já saiu. – Caso o faça, valerá uma metáfora que
o meu pai sempre gostava de proferir, ou seja, corre o risco de o trem passar
por cima...
E se alguém
agora questiona se votei em Dilma Rousseff? Não. Na verdade, não votei em
ninguém. Isso porque, quando se dorme, o mínimo que se quer é descanso. E eu
nunca que dormiria em paz sabendo que contribui com a sua eleição ou a de
qualquer outro que, ano passado, concorria ao pleito – prefiro a consciência
tranquila.
Enfim! Enquanto
escrevia esta postagem, dei de cara, meramente por acaso, com uma frase do
escritor norte-americano Ambrose Bierce (1842 - 1914), autor de novelas fantásticas
e macabras, humoristicamente cáustico, que chamou a minha atenção: — A política
é a condução dos assuntos públicos para o proveito dos particulares.
Tão
Brasil...
Nathalie Bernardo da Câmara
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