quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

CUNHA E RENAN: LAVA (I) NÓS, LAVA (I) NÓS, LAVA (I) NÓS...

 “Na presidência da Câmara está sentado um desafeto da presidente da República e na presidência do Senado um inimigo do ministro-chefe da Casa Civil. Que situação...”.

Dora Kramer
Jornalista brasileira.


Esta postagem limita-se a ser apenas um breve registro da posse dos 513 deputados federais (198 assumiram o mandato pela primeira vez) e 81 senadores (27 também assumiram o mandato pela primeira vez) dia 1º do corrente no Congresso Nacional, em Brasília – fato esse que, criticamente, foi tão bem retratado pelo chargista.


Senadores e...

 “Não jurei, apenas li as palavras do juramento...”.

Ovídio (43 a. C. - 17)
Poeta latino


No dia seguinte (02/02), o ano legislativo foi oficialmente aberto, numa cerimônia realizada no plenário da Câmara com a Mesa Diretora do Congresso Nacional, já formada pela mistura das mesas da Câmara e do Senado, com o presidente Senado assumindo a presidência do Congresso – para a ocasião foram convidados os presidentes dos Poderes Executivo e Legislativo. Enfim! Nem carece escrever demais, já que, embora eleitos pelo voto direto, democraticamente – pelo menos é o que dizem –, nenhum deles me representa, muito menos os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, ambos, diga-se de passagem, do PMDB – o lendário e politicamente degredado Sarney anda a soltar rojão, lá no Maranhão.


PEIA NELE!

 “Às vezes, os economistas são melhores do que os escritores para contar contos de fadas...”.

Mario Vargas Llosa
Escritor, jornalista e político peruano – Prêmio Miguel de Cervantes (1994) e Nobel de Literatura (2010).


Caiu como a uma luva a frase do autor de Sabres e utopias (2009) – epígrafe acima – para aludir ao novo presidente da Câmara dos Deputados, o parlamentar Eduardo Cunha (PMDB-RJ), eleito com 267 votos e com o maior bloco de apoio da disputa, já que, oficialmente, 14 legendas declararam apoio a sua candidatura: PMDB, PP, PTB, DEM, PRB, SD, PSC, PHS, PEN, PRTB, PSDC, PRP, PMN e PTN. Só que, “desafeto público da presidenta Dilma Rousseff, a eleição de Cunha não representa apenas uma dor de cabeça ao Palácio do Planalto, mas cai como um balde de água fria em questões como criminalização da homofobia, democratização dos meios de comunicação e descriminalização da maconha, pautas que o parlamentar já se colocou publicamente contra”, diz a versão eletrônica do portal Fórum (02/02). Ridicularmente, contudo, segundo o portal da revista Exame (01/02), “a vitória do candidato já era dada como certa mesmo antes da votação. No bolão realizado por seus aliados, os lances variavam de R$ 50 a R$ 1.500.” – Bolão?

Porém, grave mesmo, deveras preocupante, é o histórico do recém-empossado presidente da Câmara dos Deputados – listas, aliás, contestando a idoneidade do político Eduardo Cunha é o que não falta! E todas mais assustadoras do que o temido bicho-papão. De qualquer modo, não irei, aqui, reproduzi-las, mas apenas passar alguns links para (03) três delas – caso o (a) leitor (a) tenha interesse em saber dos podres poderes do parlamentar, é só acessá-los, ficando, contudo, a sugestão: vale conferir...





Então... De acordo, ainda, com o portal da Fórum, “se por um lado o governo federal terá que rearticular a sua base e negociar pautas de seu interesse com o novo presidente da Câmara, os parlamentares progressistas e os movimentos sociais que atuam com questões ligadas aos direitos humanos terão de organizar suas respectivas bases, pois os dois anos com Cunha frente à Câmara não deixa margem para luz no fim do túnel. – não é à toa que, nas redes sociais, deputados federais lamentaram a vitória do candidato do PMDB.

— O Legislativo será comandado por Eduardo Cunha. Considero um retrocesso grave na questão das pautas progressistas, à esquerda, e demais áreas que se referem ao futuro democrático do país. Não o vejo como um parlamentar aberto às reivindicações populares, muitas delas pulsadas dos movimentos sociais, pelas reformas estruturantes, liberdades individuais, laicismo no Estado e pluralidade do povo. Péssimo. Contudo, quem realmente ditará os rumos da Casa será a sociedade brasileira, detentora do poder máximo’... – Deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), em seu perfil oficial no Facebook.

— A eleição da Câmara hoje abre um período de obscurantismo e retrocesso pois com um presidente que já anunciou que não apreciará matérias que vão na direção contrária das suas concepções pessoais podemos esperar um Parlamento ainda mais fundamentalista. Este dia de hoje fica marcado pelo retrocesso e por uma profunda ameaça à democracia. – Deputada Erika Kokay (PT-RJ), que divulgou um vídeo nas redes “no qual também lamentou a vitória de Eduardo Cunha, mas reafirmou que é a hora de organizar a sociedade por pressão popular e que será necessária uma articulação de ‘fora para dentro’”.

— Com a derrota nas eleições para a presidência da Câmara e a consequente perda de posições na Mesa Diretora, o PT fará questão de pegar a presidência de três comissões de peso legislativo – o que significará deixar, de lado, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (como o PC do B também não optará por esta comissão, o provável é que ela caia nas mãos de algum partido que tenha, como objetivo, impedir o avanço legislativo em relação aos DHs de minorias e às liberdades individuais, como, por exemplo, PSC, PP, PR et caterva). – Deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ).

“Como se vê, prossegue a reportagem, os parlamentares que estão à frente das pautas progressistas possuem uma perspectiva pessimista para a questão dos direitos humanos.”

O fato é que já está mais do que evidenciado os aspectos obscuros da mente obtusa de Eduardo Cunha, um parlamentar nocivo ao Congresso Nacional e ao povo brasileiro. Tanto que, devido a conchavos escusos, uma das suas primeiras resoluções foi presentar o dito Partido Progressista (PP), a agremiação partidária mais enrolada na Operação Lava Jato, com duas importantes poltronas: a primeira vice-presidência da Câmara para o deputado federal Waldir Maranhão, do Maranhão, suspeito de ter ligações com os integrantes do esquema de lavagem de dinheiro e desvio de recursos de fundos de pensão investigado na operação Miqueias, da Polícia Federal, e o comando da Comissão de Constituição e Justiça para o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), em cujo currículo consta um indiciamento na Lei Maria da Penha por agredir fisicamente uma ex-companheira... – pelo visto, tais resoluções estão bem distantes da altivez do parlamento que Eduardo Cunha disse querer buscar durante o seu mandato.  

Enfim! Seguidor da Igreja Sara Nossa Terra e um dos expoentes da bancada evangélica no Congresso Nacional – uma das mais nocivas no Congresso Nacional, sendo, portanto, igualmente nociva para o povo brasileiro –, o deputado federal Eduardo Cunha, formado em economia, representa, entre outros, um retrocesso no item direitos humanos.



E agora, José?

 “O abuso de juramento é uma confissão implícita da insuficiência moral dos homens...”.

Nicolas Boileau (1636 - 1711)
Escritor francês.


Outro que tem a ficha para lá de suja – são raros os políticos que não têm – é o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), reeleito para a presidência do Senado Federal pela quarta vez – ninguém merece! Em votação secreta, segundo o portal da Folha (1º/02), “o parlamentar recebeu 49 votos contra 31 para o senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), seu adversário na disputa. Um senador votou nulo. A candidatura de Luiz Henrique promoveu um racha no PMDB, já que o catarinense decidiu entrar na disputa mesmo sem o apoio de seu partido para enfrentar o colega de sigla. Renan foi o candidato oficial, com o apoio do partido”, bem como “o apoio do Palácio do Planalto, que mobilizou ministros para garantir sua vitória. O PT, partido da presidente Dilma Rousseff, anunciou publicamente apoio à reeleição do peemedebista – mesmo enfrentando divergências internas de um grupo pró-Luiz Henrique”, que, oficialmente, recebeu “o apoio de sete partidos: PSDB, DEM, PP, PDT, PSB, PSOL e PPS, além de apoios individuais em outras siglas, como PMDB e PT. Todas as bancadas somadas garantiriam pelo menos 34 votos ao candidato independente. Na prática, porém, Luiz Henrique não conseguiu garantir a unanimidade dos votos das siglas que lhe prometeram apoio.”

Quanto à ficha suja do senador Renan Calheiros, quem ainda não a conhece?! Por via das dúvidas, uma amostra: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/as-denuncias-contra-renan-calheiros/

Mais? Está tudo no Google.


Enquanto isso...

“Na política não há amigos, apenas conspiradores que se unem...”.

Victor Lasky (1919 - 1997)
Jornalista norte-americano


Fechando esta postagem, pois já estou enojada, esperando, contudo, que Dilma Rousseff, que, apesar de tudo, é a chefe do Executivo, possa conduzir o país sem maiores estragos e cumprir o seu mandato, democraticamente.  Se a contento de cada um de nós, brasileiros ou não que moram no país, isso eu já não sei, mas que pelo menos tente. E com lisura, já que, afinal, nada podemos esperar de positivo dos atuais presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado – o histórico de ambos é mais sujo do que pau de galinheiro. Isso sem falar que eles estão comprometidos até o pescoço com a Operação Lava Jato! No quesito direitos humanos, Cunha e Renan não têm interesse algum em possíveis avanços da sociedade brasileira nesse sentido. Bom! Como disse o ator, humorista, escritor, roteirista e empresário brasileiro Gregório Duvivier, em entrevista ao jornal Zero Hora (31/01/2015): — Há tempos não tínhamos um congresso tão reacionário...

Só que, detalhe: a presidente do Brasil, por mais que tenha apoiado a candidatura de Renan Calheiros para presidir o Senado, não deve sair da linha. E por hipótese alguma! – só de apoiar tal candidatura, já saiu. – Caso o faça, valerá uma metáfora que o meu pai sempre gostava de proferir, ou seja, corre o risco de o trem passar por cima...

E se alguém agora questiona se votei em Dilma Rousseff? Não. Na verdade, não votei em ninguém. Isso porque, quando se dorme, o mínimo que se quer é descanso. E eu nunca que dormiria em paz sabendo que contribui com a sua eleição ou a de qualquer outro que, ano passado, concorria ao pleito – prefiro a consciência tranquila.

Enfim! Enquanto escrevia esta postagem, dei de cara, meramente por acaso, com uma frase do escritor norte-americano Ambrose Bierce (1842 - 1914), autor de novelas fantásticas e macabras, humoristicamente cáustico, que chamou a minha atenção: — A política é a condução dos assuntos públicos para o proveito dos particulares.

Tão Brasil...


Nathalie Bernardo da Câmara

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