EM NOME DO SENHOR!
Têm coisas que, realmente, eu não entendo nem posso entender. Está além da lógica e do bom senso, desafiando a minha sanidade mental. Uma é o padre brasileiro Marcelo Rossi pedir aos ouvintes de um programa radiofônico matinal, que o dito religioso mantém diariamente em uma emissora qualquer, que coloquem um copo d’água diante do aparelho de rádio para que, durante a sua fala, ele possa ser abençoado e, por extensão, o fiel que o colocou. O mais grave é que tem muita gente que o faz, atendendo ao pedido do pop star gospel...
Amém!
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VOLTAIRE E OS HETERÔNIMOS DE EL
"Os representantes de Deus na terra
nunca o viram e não têm a menor prova da sua existência...".
José Saramago
nunca o viram e não têm a menor prova da sua existência...".
José Saramago
Contam que, pouco antes de morrer, o escritor francês Voltaire (1694 - 1778) recebeu a visita de um padre desejoso de lhe dar a extrema-unção e redimir o ateu impenitente em um ato de contrição.
O irônico e cínico Voltaire teria perguntado: — Vens da parte de quem?
O padre respondeu: — Sou um representante de Deus.
De maneira incisiva, apesar dos seus últimos suspiros, Voltaire não se fez de rogado: — Mostre-me as vossas credenciais ou, então, saia já deste quarto!
Divirto-me com a história, que me lembra outra, outra e outra...
Em 2008, um senador americano, Ernie Chambers, do Nebraska, abriu um processo contra Deus, acusando-o de ser o responsável direto por milhões de mortes e de inúmeras catástrofes: inundações, furacões, terremotos, entre outras calamidades. O Juiz encarregado do caso, por sua vez, arquivou o processo, alegando que não fora possível notificar o réu do mesmo por desconhecimento de morada. E ficou por isso mesmo!
Um amigo advogado tentou entender. Reuniu-se com outros colegas de profissão e conversaram a respeito. Ansioso para solucionar o problema, ele disse: — A questão não reside em não saber qual o endereço para onde a notificação deve ser encaminhada, mas saber ao certo a quem ela se destina: se a Deus, a Allah, a Jeová, a Brahma ou tenha lá o nome que tiver essa criatura.
— Mas, afinal – disse um. – Se o cara é tão poderoso, não pode ser possível que o seu nome não conste nem nos arquivos da CIA!
— Sei não... – disse outro. – Como alguém pode se julgar onipotente, onipresente e onisciente? Quanta arrogância! Qual é a desse cara?
— Pelo visto, parece até que está fugindo da Interpol! – exclamou um quarto advogado.
— Eu, particularmente... – disse o meu amigo. – Não abriria processo contra Deus algum. Tenha ele o nome que tiver, já que, tenhamos ciência, ninguém abre um processo contra quem não existe. Pelo menos... – completou. – Até que se prove o contrário.
— E, neste caso, quem provaria? – perguntou um deles.
Ninguém respondeu, a discussão parou aí, mas, diferentemente da história do Senador, a prova não tardou a chegar...
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SOY DIOS Y TENGO UM BLOG
Bom! Se a dúvida sobre a existência ou não de Deus foi dissipada – ele existe, sim, pelo visto –, aproveitemos, então, para acessar o seu blog. Quem sabe se ele também não tem um e-mail?
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NEM TODA SEMENTE GERMINA
O aborto legal realizado no dia 5 de março deste ano na menor brasileira de apenas nove anos de idade, que, seguidamente estuprada pelo padrasto, 23, engravidou de gêmeos foi amparado pelo artigo 128° do Código penal brasileiro e, no caso, duplamente contemplado, já que o referido artigo não classifica de crime o aborto cometido "se não há outro meio de salvar a vida da gestante" e "se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal", provocando, contudo, o maior rebuliço em todo o mundo.
Intransigente, o arcebispo de Olinda e Recife dom José Cardoso Sobrinho posicionou-se contra o aborto, como se não soubesse que o Brasil é um país laico e que as leis do Código penal brasileiro diferem por completo do Código de direito canônico da Igreja católica. À época, decidiu deflagrar uma via crucis para evitar o aborto, tentando, inclusive, impedir o procedimento, alegando que "a lei de Deus está acima da lei dos homens" e que, portanto, as leis civis brasileiras "são contra as leis de Deus", sem esquecer, ainda, de citar o mandamento bíblico Não matarás.
Além disso, o caro Arcebispo deveria saber muito bem que não falou em nome de nenhum Deus, mas em nome de homens iguais a ele, que, juntos, fazem a Igreja católica, a verdadeira autora do Código de direito canônico. Não o Deus em nome do qual, supostamente, ele fala, como quer nos fazer acreditar. Mesmo porque, como já disse Bento XVI, citando palavras atribuídas a Jesus, transcritas do Evangelho: "O reino de Deus não é deste mundo". Assim sendo, que o Arcebispo nos deixe neste mundo com as leis terrenas, elaboradas por legisladores civis que o próprio povo elege nas urnas.
Ah! Quanta falta nos faz um dom Paulo Evaristo Arns, que, quando ainda na ativa, defendeu, em 1995, mesmo contrariando a orientação oficial da Igreja católica, o direito ao aborto em casos de estupro. E duvido muito que o antecessor de dom Dedé, como o arcebispo é conhecido, dom Hélder Câmara (1909 - 1999) iria se posicionar contra o aborto. Afinal, dom Hélder não era de semear a discórdia, ao contrário do seu sucessor. Pelo contrário! Praticava e semeava a solidariedade e a misericórdia, que, na maioria dos casos, se limitam as pregações de religiosos nos púlpitos da Igreja católica.
Arre!
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MANÉ REZA!!!
Um dia, estou eu em um hospital, após uma crise de esofagite, desencadeada por uma grande contrariedade, que, durante dias, me tirou o sono e o apetite, sem o estômago segurando nem soro caseiro, porque gerações e gerações de sapos haviam se instalado no brejo que construíram no meu esôfago, a fim de que um discípulo do médico grego Hipócrates (460-377 a. C) amenizasse a minha agonia com alopatia – coisa que repudio – e uma dose excessiva de soro.
Furada, medicada e mais tranqüila – estava sob cuidados médicos –, desabafava com uma amiga sobre a causa da minha contrariedade. De vez em quando, sentia o barulho de uma cortina ao lado sendo corrida e um vulto a emergir por trás. Sentia, porque, sem óculos, não dava para identificar o vulto a me espiar a cada repuxe da cortina. E eu a desabafar. Achando pouco me espiar e ouvir a minha conversa, a tal pessoa, aqui e acolá, manifestava-se verbalmente.
Um homem, com certeza, pela voz rouca. E de idade, como se diz. Mas, e daí? Isso dá o direito a alguém de ouvir e tentar interferir na conversa dos outros? Que doido! O pior é que todas as vezes que eu dizia algo de íntimo a pessoa resmungava outro algo, embora praticamente inaudível. Comecei, então, a achar aquilo estranho. Só que antes de eu chamar a enfermeira, o infeliz sugeriu que eu rezasse. Era só o que me faltava!
Sentei na cama, me virei em direção de onde vinha o resmungo e o repuxe da cortina e bradei: — Quer parar de interagir? E aqui tem duas comunistas! Não me mande rezar, não!
Por pouco não sai um barraco no hospital, mas, felizmente, possivelmente por ser avô, o homem deve ter achado que a gente comia criancinha e achou melhor silenciar.
Agora, caro leitor, não tinha outra palavra para eu usar ao invés de interagir? Afinal, o que eu queria dizer mesmo era apenas: "O que o senhor tem a ver com isso?" ou "quer calar a boca?" ou, ainda, "não é da sua conta!" ou, enfim, "não se meta!", mas, interagir?
Depois, após sairmos do hospital, a minha mãe disse que chegou a ver o tal senhor e, segundo ela, era um homem simples, provavelmente, da zona rural. Imagine, então, me ouvir dizer para ele não interagir? Não deve ter entendido nada, coitado. Restou-nos rir da situação.
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Preservar o ecossistema é importante, mas, também, a natureza humana e a ortografia de uma dada língua...
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Errata: O passarinho tinha voado, mas, o tempo passou e eu o resgatei!
CANTO MATINAL
Outro dia, mal nascia o dia, estava lá eu, a escrever sob a janela, quando ouvi um chamado: "Bem-te-vi, bem-te-vi...". Olhei para cima e deparei com um exemplar do pássaro, cujo canto é um triste fardo, pousado em uma antena da casa da vizinha. Respondi: "Eu também te vi...". E, lá, ele ficou; cá, fiquei eu, ainda uma meia hora, despejando, ambos – ele na antena e eu no computador –, um lamento sobre os nossos desalentos...
Nathalie Bernardo da Câmara
Das ondas do rádio...
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