domingo, 19 de dezembro de 2010

TIRIRICA:
O PALHAÇO X O POLÍTICO


MADE IN CEARÁ


“Neste mundo que mais parece um circo de horrores,
eu prefiro ser o palhaço...”.

Carlos Messala
Um brasileiro lúcido



Apelido é um troço curioso... Às vezes, contudo, apesar das tentativas normalmente maledicentes, com intenções depreciativas, ele nem pega, mas, quando pega, e dependendo de qual seja, coitada da criatura apelidada! No caso de Francisco Everardo Oliveira Silva, nascido lá pelas bandas de Itapipoca, no Ceará, nos idos de 1965, a sua alcunha (que nome feio!), Tiririca, traduz, literalmente, o temperamento que ele tinha quando criança: mal-humorado, se zangando com qualquer coisa, ou seja, um geniosinho daqueles! O destino, contudo, lhe reservava algumas surpresas. Tanto é que, não tardou muito, os ânimos de Tiririca mudaram. Com apenas oito anos de idade, ainda em sua cidade natal, começou a trabalhar em um circo, ou barraca, como, à época, eram chamadas pequenas companhias circenses, mudando, radicalmente, o cenário da sua vida. Da noite para o dia, ele se tornou palhaço, o palhaço Tiririca, que, ao invés do mal-humor habitual, passou a ofertar bom-humor, alegria, risos...

Daí em diante, como se diz, a sua vida deslanchou. As apresentações de Tiririca foram tornando-se constantes. Lançou um CD, que bateu índices recordes de venda devido ao seu carro-chefe, a música Florentina, cuja composição, dizem, é sui generis – recuso-me a versar sobre... Afinal, não sou crítica musical. Bom! Na televisão, outros recordes de audiência em diversos programas e mais algumas músicas controversas a lhe garantir dividendos. E um processo por racismo, pois uma das músicas do seu primeiro CD sugeria, segundo a legislação brasileira, algo desse tipo. Fosse o que fosse, ele foi inocentado. Outros CDs vieram. E mais participações em programas televisivos. Conquistou a fama. Virou o que chamam de celebridade. No auge, se candidatou a deputado federal pelo Estado de São Paulo, elegendo-se como o mais votado deputado federal na História do Brasil. Um fenômeno! E, como negar isso? Impossível. É fato. E, sobre isso, falaremos agora...



A Cara do Brasil 
 
 
“Os verdadeiros analfabetos
são os que aprenderam a ler e não leem...”.

Mário Quintana (1906 - 1994)
Poeta brasileiro



O jornal francês Le Monde, que considerou a democracia brasileira “uma das mais vibrantes do mundo”, estampou: Um palhaço é o deputado mais votado do Brasil. Na reportagem, a pergunta: “O que faz um deputado?”, sendo que Francisco Everardo Oliveira Silva, ou melhor, Tiririca (PR-SP), o candidato a deputado federal mais votado nas eleições de 2010, com mais de 1,3 milhão de votos, já havia dito que não sabe, mas que irá descobrir. Bom! Eleito, o palhaço em questão foi acusado de fraudar impostos e de apresentar uma declaração de alfabetização falsa, que se caracteriza em crime de falsidade ideológica. Em função disso, o promotor eleitoral Maurício Lopes chegou a pedir que o humorista fosse enquadrado e cumprisse cinco anos de prisão. Submetido a testes específicos, de leitura e ditado, pelo Tribunal Regional Eleitoral - TRE de São Paulo, a fim de que fosse provado que ele é capaz de ler e escrever, Tiririca comprovou que pelo menos noções básicas de leitura e de escrita possui.

Assim sendo, o juiz Aloisio Silveira, da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, o absolveu da acusação de falsidade ideológica, alegando que “a Justiça Eleitoral tem considerado inelegíveis apenas os analfabetos absolutos e não os funcionais”, caso, segundo a sentença, o de Tiririca, que teria demonstrado “um mínimo de intelecção do conteúdo do texto, apesar da dificuldade na escrita”, tendo, portanto, segundo o seu advogado de defesa, Ricardo Vita Porto, “instrução para ser deputado”, ou seja, exercer os seus direitos políticos. Ainda segundo o advogado, ao denunciar o humorista por “estelionato eleitoral”, fazendo, com essa denúncia, nada mais do que “uma tempestade em copo d'água”, o promotor Maurício Lopes buscava, apenas, se auto-promover, já que o fez simplesmente por não aceitar que um palhaço fosse campeão de votos. Daí que, na opinião de Vita Porto, o promotor e a denúncia não têm nenhuma credibilidade, visto limitar-se a uma perseguição pessoal a Tiririca e ao seu bom resultado nas urnas.

O fato é que, como resultado de uma representação do Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP, órgão de controle externo das atividades do Ministério Público, a Corregedoria do Ministério Público de São Paulo investiga e apura eventuais excessos do promotor na condução do processo contra Tiririca. O autor da representação, por sua vez, o conselheiro Bruno Dantas, disse que o promotor manisfetou-se publicamente de maneiras “inadequadas, exageradas e preconceituosas” contra o humorista, querendo desmoralizá-lo, por ele não possuir histórico de uma educação dita formal, “em vez de pautar a sua atuação na técnica processual, como faz a maioria dos membros do Ministério Público que não depende dos holofotes”. Sem falar que eu fiquei profundamente chocada ao ler no jornal uma inusitada declaração da atriz brasileira Fernanda Torres, dizendo que a eleição de Tiririca “foi apenas uma piada niilista do eleitor, que vai se voltar contra ele mesmo”.

Depois ainda dizem que o brasileiro vive em um regime democrático de direito... A verdade é que a eleição do cearense Francisco Everardo Oliveira Silva tem incomodado muita gente. E não duvido nada que todos esses preconceitos e discriminações estão fundados nas origens nordestinas humildes de Tiririca, no sucesso que obteve com o esforço do seu próprio trabalho e porque em seu histórico de vida não constam registros de que tenha recebido educação formal. Ocorre que - não é nenhuma novidade - Tiririca apenas reflete a realidade da maioria do povo brasileiro, que é ou analfabeta funcional ou absoluta. Que, então, a educação seja levada a sério e o analfabetismo seja, de vez, erradicado no país, bem como a miséria. Enfim! Desmacaradas as intenções escusas do promotor e sendo absolvido das duas acusações, já que a Justiça Eleitoral também emitiu parecer favorável em relação as contas da sua campanha, o recém-deputado eleito Tiririca visitou, na quarta-feira, 15, o Congresso Nacional.

Foi a sua primeira vez em Brasília - ocasião que, para ele, não poderia ter sido melhor: “Cheguei em um bom dia”, disse, ironicamente, pouco antes da votação de um reajuste salarial, e em caráter de urgência - qual a urgência? -, de 61%,8 para os parlamentares a partir do dia 1º de fevereiro de 2011... Engraçado, quando se trata de aumentar o salário mínimo esses mesmos parlamentares inventam toda sorte de argumentos para não fazê-lo (que coisa feia!). Então... Dois dias depois do aumento desproposital e surreal dos parlamentares, Tiririca, motivo deste post, foi diplomado deputado federal na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, sendo o primeiro a receber o diploma - gesto que lhe valeu aplausos -, dizendo ser o primeiro de muitos que ainda receberá, adiantando que está estudando. À oportunidade, Tiririca também disse que pretende focar os seus projetos nas áreas de educação e cultura, bem como na defesa dos artistas circenses em geral e dos ciganos.

Sei não, mas, diante de um cenário que insiste em se manter desolador, eu só espero que Tiririca não se corrompa - coisa que acontece à maioria que chega ao Congresso Nacional. Nem, muito menos, que se torne o bobo da Corte tupiniquim, já que, infelizmente, é alvo de uma série de estigmas. E o meu receio é exatamente porque de bobo ele não tem nada! Que permanecesse, portanto, como diria o cineasta britânico Charles Chaplin (1889 - 1977), a ser uma coisa só, ou seja, um palhaço, condição que o colocaria em um nível mais alto do que o de qualquer político, ainda mais se levarmos em consideração a realidade da política brasileira, onde contamos nos dedos os políticos idôneos. Porém, queiram ou não, Tiririca é um palhaço que, por contingências, se tornou um político. Que nunca se torne, então, um político palhaço, como muitos que existem por aí, a envergonhar o povo brasileiro, ainda mais quando já está sendo ventilada a possibilidade da sua vida ser transposta as telas dos cinemas. Quem diria!

 
Nathalie Bernardo da Câmara

Um comentário:

  1. Cara Nathalie Bernardo, sou Alcides Pablo Silva, secretario do tiririca, encontrei seu blog através da Marina Silva que ver seu blog sempre.
    vai ai meu email, pra vc falar comingo: alcidez_sp@r7.com

    vou mandar pra ele esse post.

    Abraços

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