“Tente colocar bom senso na
cabeça de um tolo e ele dirá que é tolice...”.
Eurípedes (480 - 406 a. C.)
Poeta grego.
Falar do descalabro na política da capital do
Rio Grande do Norte tornar-se-ia redundante, visto que, nesse quesito, de há
muito a Cidade do Sol anda para lá de
desbotada – desbotamento esse que, aliás, foi capaz de contaminar até a sua
paisagem urbana e litorânea, totalmente desfigurada: a acelerada verticalização
de Natal, por exemplo, e os abusos cometidos contra o seu meio ambiente,
literalmente poluído, têm, consideravelmente, comprometido a qualidade de vida
da maioria da população local, outrora refrescada pela maresia e pela brisa do
mar, mas que, sem o menor dos escrúpulos, tem sido impiedosamente esmagada pelo
concreto dos prédios, sobretudo os residenciais, que, sem controle algum por
parte dos órgãos de licenciamentos, se proliferam igual praga de pardal, numa
promiscuidade aparentemente sem fim. Só que o mais grave, ainda, é que, como se
já não bastassem todas as consequências nocivas e desastrosas inerentes ao
aquecimento global, o forno no qual a região transformou-se, decorrente da
ganância da construção civil – predadora por excelência – e do descaso dos poderes
públicos constituídos, além da emissão de gás carbônico dos veículos que,
igualmente incontroláveis, circulam em demasia por vias nada receptíveis para
tamanho tráfego, fizeram Natal gerar o seu próprio “efeito estufa”, perdendo,
com isso, o status de cidade a
possuir o ar mais puro da América do Sul, limitando-se, hoje, portanto, a uma
propaganda enganosa...
E o disparate ainda é maior devido o agravante de
a cidade ter sido escolhida para ser uma das doze sedes da Copa do Mundo de
2014 – oportunismo da Federação Internacional de Futebol Amador (FIFA), que,
aliás, nada tem de amadorismo; dos seus agregados, laranjas e certos políticos que compactuaram com toda essa
armação... Ora, nem no maior pesadelo da sua população, Natal sequer poderia
ter sido indicada para concorrer a um evento que, de tão megalomaníaco, é não
somente esquizofrênico, mas, sobretudo, pernicioso! E ninguém é tolo para saber
que, apesar do seu potencial turístico, a cidade não dispõe de características
urbanísticas favoráveis e infraestrutura logística para a promoção de uma
aberração desse porte. Isso sem falar no transtorno que tem sido para a
população local ser obrigada a conviver com as obras cujos canteiros contêm
dejetos de transações para lá de escusas – não esquecendo que o estádio de
futebol em si é de um mau gosto arquitetônico sem precedentes, ou seja, uma
edificação escabrosa, chamada, diga-se de passagem, de Arena das Dunas, nome
que, inclusive, não poderia ser mais delirante, visto que, além de Natal não
ter histórico de touradas, as suas dunas, uma riqueza natural incomensurável,
estão, desde longa data, seriamente ameaçadas por dólares, euros e todo tipo de
investimentos, inclusive o da já tão desacreditada moeda brasileira, que, de
real, mesmo, só reflete (e muito mal) os índices da inflação da economia tupiniquim.
O fato é que, no bojo de tanto descaramento, as
autoridades ditas competentes ainda afirmam que as supostas melhorias em
andamento na cidade, inclusive as de (i) mobilidade urbana, não visam apenas o
turismo nem os maiores interessados nessa economia, mas a população local, que,
com a realização da Copa do Mundo em Natal, só tem a ganhar – aborrecimentos,
no caso. Isso porque, se a maioria dessa mesma população há tempos está
exaurida com o excesso de veículos por toda parte, o que dirá o aumento dos
congestionamentos e recentes transtornos no trânsito, entre outros desconfortos
e desagravos, acarretados pelas obras em função do vulgo “elefante branco” que
é o novo estádio de futebol! – bilhões “investidos” em vão... E dizer isso é
ser realista, embora, recentemente, numa reportagem de um jornal local, certo
empresário classificou de pessimista quem pensa assim, pois, segundo ele, não
consegue enxergar os benefícios que a Copa do Mundo trará... Tem dó! Só que,
como desperdício pouco é bobagem, chegou o final do ano e, com ele, o Natal Iluminado, projeto que, de
iniciativa dos poderes públicos locais, manterá a cidade iluminada durante o
período natalino – período esse que, no caso de Natal, finda no dia 06 de
janeiro de 2014, quando da Festa de Santos Reis. O detalhe, contudo, é que, considerados
investimentos, os recursos (um total de R$ 4,5 milhões) para bancar todo esse
derrame de energia são provenientes – nenhuma surpresa – do bolso do
contribuinte.
Um contribuinte que, aliás, passa a maior parte
do ano reivindicando uma cidade mais iluminada, mas que, agora, vê as taxas de
iluminação pública que paga, para garantir a sua segurança, serem usadas indevidamente.
Ocorre que toda essa encenação torna-se ainda mais grotesca porque parte desses
mesmos recursos será utilizada pelos órgãos públicos para manter essa
iluminação dispendiosa até o encerramento da Copa do Mundo, ou seja, julho de
2014, num desperdício só – como se a realização do evento na cidade fosse algo
unânime na população, passando, portanto, uma falsa imagem da
realidade, com a previsão, ainda, que essa segunda etapa da iluminação da
cidade terá um componente “especial”, mesclada que será a uma decoração com
motivos bem peculiares em pontos ditos estratégicos da capital potiguar, tipo:
jogadores das seleções; bandeiras dos seus respectivos países; mascotes;
saudações em diversas línguas etc – e eu que achava brega os penduricalhos
natalinos; o pisca-pisca nos pinheiros de plástico em pleno verão... Enfim! Um aparato desnecessário
– e apenas para justificar os quatro jogos que serão realizados no novo estádio
de futebol –, mas, como recebeu a “benção” de técnicos da FIFA... Porém, o mais
indigno disso tudo é que, de certa forma, a “tourada” está vinculada a toda
sorte de tráfico: de drogas a seres humanos, não sendo à toa que as cidades
escolhidas para sediarem a Copa do Mundo fazem
parte de uma rota criminosa. Ninguém merece!
Nathalie Bernardo da Câmara
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