quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

NATAL: O ÚLTIMO A SAIR, APAGUE AS LUZES...

 “Tente colocar bom senso na cabeça de um tolo e ele dirá que é tolice...”.

Eurípedes (480 - 406 a. C.)
Poeta grego.


Falar do descalabro na política da capital do Rio Grande do Norte tornar-se-ia redundante, visto que, nesse quesito, de há muito a Cidade do Sol anda para lá de desbotada – desbotamento esse que, aliás, foi capaz de contaminar até a sua paisagem urbana e litorânea, totalmente desfigurada: a acelerada verticalização de Natal, por exemplo, e os abusos cometidos contra o seu meio ambiente, literalmente poluído, têm, consideravelmente, comprometido a qualidade de vida da maioria da população local, outrora refrescada pela maresia e pela brisa do mar, mas que, sem o menor dos escrúpulos, tem sido impiedosamente esmagada pelo concreto dos prédios, sobretudo os residenciais, que, sem controle algum por parte dos órgãos de licenciamentos, se proliferam igual praga de pardal, numa promiscuidade aparentemente sem fim. Só que o mais grave, ainda, é que, como se já não bastassem todas as consequências nocivas e desastrosas inerentes ao aquecimento global, o forno no qual a região transformou-se, decorrente da ganância da construção civil – predadora por excelência – e do descaso dos poderes públicos constituídos, além da emissão de gás carbônico dos veículos que, igualmente incontroláveis, circulam em demasia por vias nada receptíveis para tamanho tráfego, fizeram Natal gerar o seu próprio “efeito estufa”, perdendo, com isso, o status de cidade a possuir o ar mais puro da América do Sul, limitando-se, hoje, portanto, a uma propaganda enganosa...

E o disparate ainda é maior devido o agravante de a cidade ter sido escolhida para ser uma das doze sedes da Copa do Mundo de 2014 – oportunismo da Federação Internacional de Futebol Amador (FIFA), que, aliás, nada tem de amadorismo; dos seus agregados, laranjas e certos políticos que compactuaram com toda essa armação... Ora, nem no maior pesadelo da sua população, Natal sequer poderia ter sido indicada para concorrer a um evento que, de tão megalomaníaco, é não somente esquizofrênico, mas, sobretudo, pernicioso! E ninguém é tolo para saber que, apesar do seu potencial turístico, a cidade não dispõe de características urbanísticas favoráveis e infraestrutura logística para a promoção de uma aberração desse porte. Isso sem falar no transtorno que tem sido para a população local ser obrigada a conviver com as obras cujos canteiros contêm dejetos de transações para lá de escusas – não esquecendo que o estádio de futebol em si é de um mau gosto arquitetônico sem precedentes, ou seja, uma edificação escabrosa, chamada, diga-se de passagem, de Arena das Dunas, nome que, inclusive, não poderia ser mais delirante, visto que, além de Natal não ter histórico de touradas, as suas dunas, uma riqueza natural incomensurável, estão, desde longa data, seriamente ameaçadas por dólares, euros e todo tipo de investimentos, inclusive o da já tão desacreditada moeda brasileira, que, de real, mesmo, só reflete (e muito mal) os índices da inflação da economia tupiniquim.




O fato é que, no bojo de tanto descaramento, as autoridades ditas competentes ainda afirmam que as supostas melhorias em andamento na cidade, inclusive as de (i) mobilidade urbana, não visam apenas o turismo nem os maiores interessados nessa economia, mas a população local, que, com a realização da Copa do Mundo em Natal, só tem a ganhar – aborrecimentos, no caso. Isso porque, se a maioria dessa mesma população há tempos está exaurida com o excesso de veículos por toda parte, o que dirá o aumento dos congestionamentos e recentes transtornos no trânsito, entre outros desconfortos e desagravos, acarretados pelas obras em função do vulgo “elefante branco” que é o novo estádio de futebol! – bilhões “investidos” em vão... E dizer isso é ser realista, embora, recentemente, numa reportagem de um jornal local, certo empresário classificou de pessimista quem pensa assim, pois, segundo ele, não consegue enxergar os benefícios que a Copa do Mundo trará... Tem dó! Só que, como desperdício pouco é bobagem, chegou o final do ano e, com ele, o Natal Iluminado, projeto que, de iniciativa dos poderes públicos locais, manterá a cidade iluminada durante o período natalino – período esse que, no caso de Natal, finda no dia 06 de janeiro de 2014, quando da Festa de Santos Reis. O detalhe, contudo, é que, considerados investimentos, os recursos (um total de R$ 4,5 milhões) para bancar todo esse derrame de energia são provenientes – nenhuma surpresa – do bolso do contribuinte.

Um contribuinte que, aliás, passa a maior parte do ano reivindicando uma cidade mais iluminada, mas que, agora, vê as taxas de iluminação pública que paga, para garantir a sua segurança, serem usadas indevidamente. Ocorre que toda essa encenação torna-se ainda mais grotesca porque parte desses mesmos recursos será utilizada pelos órgãos públicos para manter essa iluminação dispendiosa até o encerramento da Copa do Mundo, ou seja, julho de 2014, num desperdício só – como se a realização do evento na cidade fosse algo unânime na população, passando, portanto, uma falsa imagem da realidade, com a previsão, ainda, que essa segunda etapa da iluminação da cidade terá um componente “especial”, mesclada que será a uma decoração com motivos bem peculiares em pontos ditos estratégicos da capital potiguar, tipo: jogadores das seleções; bandeiras dos seus respectivos países; mascotes; saudações em diversas línguas etc – e eu que achava brega os penduricalhos natalinos; o pisca-pisca nos pinheiros de plástico em pleno verão... Enfim! Um aparato desnecessário – e apenas para justificar os quatro jogos que serão realizados no novo estádio de futebol –, mas, como recebeu a “benção” de técnicos da FIFA... Porém, o mais indigno disso tudo é que, de certa forma, a “tourada” está vinculada a toda sorte de tráfico: de drogas a seres humanos, não sendo à toa que as cidades escolhidas para sediarem a Copa do Mundo fazem parte de uma rota criminosa. Ninguém merece!


Nathalie Bernardo da Câmara

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