Por Dora Kramer
Estadão – 18/09/2014
Descontada
a brisa de esperança que os quatro pontos a mais devem ter produzido na
campanha do tucano Aécio Neves, em termos numéricos a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo não trouxe grandes novidades.
Mas se
considerarmos o panorama do ponto de vista do objetivo da louca ofensiva da
campanha da presidente Dilma Rousseff sobre a candidata do PSB, Marina Silva, é
de se notar algo inesperado: a ausência de resultado da artilharia pesada.
Marina
não disparou na subida, mas tampouco despencou como o PT pretendia. A
presidente oscilou três pontos a menos no primeiro turno, a ex-senadora apenas
um e ficaram as duas no patamar de 36% a 30%.
Para
quem iria tirar a comida da mesa dos brasileiros, acabar com programas sociais
e, de quebra, vender a Petrobrás em contraponto com a presidente de um partido
cujo governo representa a salvação do Brasil, convenhamos, o saldo não é
favorável à atacante.
Ainda
mais se consideradas suas condições desproporcionalmente vantajosas. Se postas
na balança - a começar pelo tempo de televisão cinco vezes maior -, o lado mais
fraco saiu ganhando. Ao menos por enquanto. No segundo turno, permanece o
empate (43% para Marina, 40% para Dilma) quando a ideia, a julgar pela força do
ataque, seria provocar um abalo ao menos significativo.
O que
terá acontecido são hipóteses a serem examinadas pelos especialistas. O PT pode
ter exagerado na dose e Marina aproveitado bem a posição da atacada. E a subida
de Aécio, com redução de 15 para sete pontos da distância entre ele e Dilma no
segundo turno? Tudo indica uma retomada do eleitor que vê nele a possibilidade
de derrotar o PT.
Seja
como for, confirmado esse movimento do cenário, a campanha da reeleição
precisará no mínimo de fazer uma pausa para meditação sobre a eficácia do
método da demolição.
Velha
senhora. Muita gente experiente, e até bem intencionada, põe
a culpa da degradação da política no instituto da reeleição. O ex-presidente do
Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa foi além em palestra nesta semana
dizendo que a possibilidade de um segundo mandato é "a mãe de todas as corrupções".
Se a
premissa é verdadeira e considerando que a reeleição passou a existir na
Constituição brasileira só a partir de 1997, teríamos de aceitar que antes
disso a corrupção ainda não havia nascido no Brasil. O que, evidentemente, não
corresponde aos fatos.
A
extinção pura e simples da lei não impedirá o governante transgressor – como de
resto nunca impediu – de usar a máquina pública para eleger o sucessor.
'Pour
mémoire'. Ninguém no Congresso tinha a menor dúvida sobre a
impossibilidade de Paulo Roberto Costa falar qualquer coisa na CPI da Petrobrás
em sessão aberta ou fechada.
A
presença dele, contudo, serviu para que parlamentares - de oposição, claro - se
sucedessem aos microfones para recordar e repetir por horas tudo o que há de
suspeito contra a estatal, acrescentando ligações dos personagens atuais com os
que transitaram pelo escândalo do mensalão. Em suma, a sessão serviu para
passar em revista o caso.
Sendo
a CPI foro político e politicamente manejado pelos governistas para impedir as
investigações, ontem os oposicionistas tiveram a sua chance de dar à comissão
de inquérito a mesma utilidade.
Toque
de classe. A presidente Dilma nessa ofensiva contra Marina
já vinha dando sinais, mas a incorporação do estilo Lula tornou-se ontem
definitiva ao responder a empresários que a legislação trabalhista não mudará “nem
que a vaca tussa”.
* As ilustrações foram escolhidas e inseridas no artigo por este blog.
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