Recentemente, um
brasileiro foi fuzilado na Indonésia após ser acusado, julgado e condenado por tráfico
de drogas – o país possui uma das mais rígidas leis antidrogas do mundo e a punição
por tráfico inclui a pena capital, sem exceções para estrangeiros. Na próxima
semana, a partir da terça-feira, 28, outro brasileiro, atualmente no ‘corredor
da morte’, e exatamente pelos mesmos motivos, poderá ser executado a qualquer
momento. Infelizmente, nada a fazer para evitar tal desfecho – um pedido de
clemência do país de origem de um condenado à morte algures é uma prática
internacional, mas não passa de mera formalidade diplomática. Daí serem em vão
os apelos das autoridades brasileiras, já que a execução faz parte de um
protocolo. Eu, particularmente, sou contra a pena capital, que, aliás, em si,
não tem serventia alguma, independentemente dos crimes por ela contemplados. É uma
sentença cômoda demais, além de ineficiente, considerando que, ao tirar a vida
de um condenado, o Estado está poupando-o de, em sua existência, ‘pagar’ pelos atos
criminosos cometidos. Daí que a pena de morte poderia ser substituída por anos a
fio de reclusão, com direito à solitária e, em casos extremos, prisão perpétua –
punições igualmente severas –, privando o condenado de liberdade – não há condenação
maior do que essa.
Enfim! É deveras hipócrita um país corrupto
como a Indonésia aplicar a pena de morte para traficantes de drogas, como a
cocaína e metanfetamina, porque elas matam. Ora, o cigarro e o álcool, apesar
de drogas lícitas, também matam, mas, nem por isso, aqueles que as
comercializam são presos, julgados e condenados à pena de morte. Para Gloria Lai,
diretora sênior de políticas do Consórcio Internacional sobre Política de Drogas
(IDPC, na sigla em inglês), em declaração à revista Southeast Asia Globe (03/02/2015): ─ Se as pessoas morrem pelas drogas, então é uma
questão que precisa ser enfrentada com medidas dentro da área de saúde pública.
Matar pessoas por causa disso é uma resposta totalmente desproporcional ao
problema.
Ocorre que, na administração
do presidente Joko Widodo, segundo Ricky Gunawan, diretor do LBH Masyarakat
(Instituto Comunitário de Assistência Jurídica), sediado em Jakarta, “a pena de
morte é usada como uma ferramenta política para mostrar rigidez contra os
infratores”. Para ele, “é uma forma fácil para Jokowi ganhar notoriedade.”
Porém, ainda segundo Gunawan: ─
O presidente Jokowi ostenta com orgulho sua intenção de matar e é aplaudido de
forma sádica por isso, enquanto os traficantes de drogas que ele quer eliminar
são meramente culpados de tentar fornecer uma substância para um mercado que a
consome voluntariamente.
Sociedade de moral hipócrita,
essa. O fato é que, “em todo o mundo – nas palavras do jornalista Daniel Besant –, a maré da guerra às drogas
parece estar virando. Países como Portugal e Holanda mostraram que a introdução
de leis que descriminalizam as drogas é uma forma eficaz de reduzir as mortes
por overdose e as transmissões de HIV entre usuários de substâncias
intravenosas. Os países da América do Sul que querem acabar com a guerra às
drogas têm pressionado pela antecipação de uma sessão especial na Assembleia
Geral da ONU sobre a questão, de 2018 para junho de 2016.” Enquanto
isso, prossegue Gunawan: ─ A Indonésia
deve avaliar os pedidos de clemência com atenção e implementar passos em
direção à abolição, estabelecendo uma moratória à pena de morte. E aqueles que
estão no corredor da morte devem ter suas sentenças comutadas para prisão
perpétua.
Que
assim o seja.
Nathalie Bernardo da
Câmara
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