“Toda virtude tem os seus privilégios. Por exemplo: o de levar seu próprio feixezinho de lenha à fogueira do condenado...”.
Nietzsche (1844 - 1900)
Filósofo e filólogo alemão
Nietzsche (1844 - 1900)
Filósofo e filólogo alemão
Costumo escrever em meu blog sobre temas os mais diversos. Basta despertar-me algum tipo de interesse, qualquer que seja ele. Na maioria das vezes, por exemplo, escrevo por considerar um assunto pertinente, merecedor de ser abordado, pesquisado, divulgado; noutras, apenas para arejar a mente, passar o tempo, como agora, não importando se o texto possa ou não ser considerado um absurdo. Vejamos... Outro dia, casualmente, deparei-me com uma piada postada no blog de um conhecido. Intitulada O Inferno dos ateus, a historieta fez-me rir, embora discorde em relação aos moldes na qual ela foi ambientada.
Afinal, a idéia que se tem do ficcional Inferno é a de algo perverso. Porém, na piada, o Inferno se traduz em um lugar idílico, aprazível, no qual os que não vão para o também ficcional Céu vivem na mais completa harmonia. Então... Impedido de entrar no Céu por São Pedro, um ateu, resignado, desce, humildemente, as profundezas do Inferno, privilegiado, inclusive, com uma generosa natureza. Assim, acompanhado de Satanás, que lhe oferece uma caminhada de cortesia pelas dependências do Inferno, o ateu espanta-se com a presença, em sua nova morada, de algumas mentes brilhantes.
Entre as quais, o filósofo alemão Nietzsche, autor da epígrafe deste post, o escritor francês Voltaire (1694 - 1778), o político norte-americano Thomas Jefferson (1743 - 1826), o filósofo italiano Giordano Bruno (1548 - 1600), o filósofo alemão Karl Marx (1818 - 1883) e o físico alemão Albert Einstein (1879 - 1940). De repente, enquanto caminham e conversam pelas veredas do lugar, que mais se assemelha ao Jardim do Éden, Satanás e o ateu são surpreendidos por relâmpagos, que ofuscam os seus olhos, e trovões, que estouram os seus tímpanos. Tudo escurece e uma ventania tremula o lugar.
O chão abre-se em fendas, expelindo labaredas, como se quisessem sugá-los para as profundezas, e, em um relance, um homem surge do nada, aos gritos. Ardendo em chamas, ele cai em uma das fendas, logo sendo tragado pelas labaredas. Assim, quando isso acontece, tudo volta ao que era antes, como se nada tivesse acontecido. Impactado com o episódio, o ateu questiona a Satanás o que fora tudo aquilo. Com um sorriso largo nos lábios, habituado a cenas como a recém-presenciada, Satanás, tranquilamente, responde:
— Era um evangélico. Eles preferem o Inferno desta maneira...
Enfim! Eu, particularmente, se fosse criar um Inferno para os ateus e para os que, apesar de crentes em Deus, desagradaram-no em algum momento das suas vidas e, por isso, tiveram as portas do Céu fechadas por São Pedro, escolheria a Idade Média como cenário e daria a Satanás o nome de Inquisidor. Afinal, quer período histórico mais entrevado do que quando a Igreja católica queimava a 3x4, nas fogueiras da Inquisição, aqueles considerados hereges pela instituição? Sim, de fato, seria a Idade das Trevas, que queimou milhares de inocentes vivos, a representar o meu Inferno.
Sei não, mas, se a História que é a História da dita civilização humana está recheada de maldade – visto que nem todos são civilizados e muitos apenas aparentam ser humanos –, ateus e congêneres nunca ficariam a salvo, porque, quando não estivessem temendo e fugindo do Inquisidor, da sua insanidade e torturas, para não padecerem nas chamas da fogueira – quiçá até mesmo empalados –, estariam, o resto do seu tempo, vulneráveis as almas penadas do Purgatório, por este fazer fronteira com o Céu e o Inferno, tentando driblá-las, com o intuito de evitar outros fins de natureza trágica.
Consideradas a escória da raça humana, destituídas, portanto, de humanidade, iguais ao Inquisidor em crueldade, mais desprezíveis do que baratas, mas que, por autodenominarem-se crentes em Deus, proferindo o seu nome a cada novo crime cometido, as almas penadas, também conhecidas como as bestas do Purgatório, teriam escapado ao Inferno, ficando a vagar: corruptos, déspotas, ditadores, tiranos, terroristas, facínoras, nazistas, fascistas, torturadores, assassinos, genocidas, criminosos de todos os matizes... Sem dúvida alguma, as qualificações são muitas e a lista é grande!
Tanto que, para não pecar por omissão, é melhor nem citar nomes. Sem falar que não quero poluir este post citando criaturas tão indigestas. Porém, o estúpido é que, como a morte, arbitrariamente, já põe termo à vida, qual o sentido de morrer de novo, seja no Inferno, no Purgatório ou no Céu? Afinal, cada uma dessas dimensões, digamos assim, teria as suas próprias formas de eliminar qualquer tipo de existência e sempre haveria de ter uma persona non grata para cada uma delas. Enfim! Eis a minha versão para um Inferno dos ateus, embora fique a indagar quem, da raça humana, estaria habilitado para ascender ao Céu...
Nathalie Bernardo da Câmara
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