quarta-feira, 10 de outubro de 2012

PROJETO TAMAR: E VIVA AS TARTARUGAS MARINHAS!

Tartaruga verde – Projeto Tamar/Divulgação


Projeto Tamar busca marca de 15 milhões de filhotes salvos na temporada

Por Carlos A. MorenoEfe
Reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo no dia 03 de outubro de 2012


De acordo com dados do projeto, cerca de 13,7 milhões de filhotes foram salvos em 32 anos


Praia do Forte - Os protetores das tartarugas marinhas encaram a nova temporada de desova dos quelônios, que começou no último mês, com um grande desafio: alcançar a meta de 15 milhões de filhotes salvos e soltos no mar.

Temporada de desova termina em março

Esse é o objetivo do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Tartarugas Marinhas (Tamar), organização que em 32 anos salvou cerca de 13,7 milhões de filhotes e que espera conduzir ao mar outros 1,5 milhão na atual temporada de desova, que só terminará em março de 2013.

"Se mantivermos a média das últimas temporadas (1,2 milhão de filhotes salvos), poderemos celebrar essa meta ambiciosa e, ao mesmo tempo, fundamental para as cinco espécies de tartarugas marinhas que costumam visitar a costa brasileira, todas ameaçadas de extinção", afirmou à Agência Efe o oceanógrafo Guy Marcovaldi, diretor do Tamar.

A tarefa não é fácil porque exige atenção às milhares de fêmeas que, como se tivessem bússola ou GPS, retornam todos os anos à praia em que nasceram para cavar um ninho e por seus ovos, que depois são cobertos novamente com areia.

A missão também implica a marcação dos ninhos espalhados ao longo dos 900 quilômetros do litoral brasileiro para impedir que os mesmos sejam pisoteados ou destruídos acidentalmente; colocar proteções para evitar o ataque de animais e predadores, e conscientizar pescadores, banhistas e turistas sobre a necessidade de recuperar as povoações de tartarugas.

Os ativistas também têm que estar atentos à data aproximada de nascimento das tartarugas para ajudá-las a se dirigir ao mar, um processo que também precisa da colaboração dos hoteleiros.

Para não desorientar as tartarugas recém-nascidas e, consequentemente, condená-las à morte por desidratação, os estabelecimentos próximos à praia não devem apontar luzes em direção à areia.

"Uma de nossas principais conquistas foi a aprovação das normas que proíbem o uso de luzes artificiais e a passagem de veículos nas praias em que as tartarugas se reproduzem", explicou Marcovaldi na base do Tamar na Praia do Forte, situada a cerca de 100 quilômetros de Salvador.

A região da Praia do Forte, uma antiga vila de pescadores transformada em centro turístico, concentra a maior quantidade de ninhos do país.

O projeto também ajudou a impulsionar as leis que proíbem a caça de tartarugas, a retirada de ovos dos ninhos e o uso dos cascos em artesanatos.

Nesta árdua tarefa, os ativistas do Tamar contam com a ajuda dos pescadores locais, alguns dos quais no passado se dedicavam à caça das tartarugas para vendê-las em restaurantes que as ofereciam como prato exótico.

Agora, os pescadores recebem um subsídio para percorrer todos os dias um trecho da praia, pelo qual cada um é responsável, na busca dos rastros das tartarugas e dos ninhos.

Todos esses esforços permitiram que, na última temporada, a organização conseguisse localizar e proteger 18,5 mil ninhos e colocar 1,4 milhões de filhotes no mar, embora só uma a cada mil chegará a vida adulta reprodutiva.

O Projeto Tamar, uma organização financiada pela Petrobras e associada ao Ministério do Meio Ambiente, também conseguiu observar e marcar 1,5 mil fêmeas em processo reprodutivo na última temporada.

Com 16 bases, distribuídas entre Sergipe, Bahia, Rio Grande do Norte, Espírito Santo e Rio de Janeiro, o Tamar também alcançará a marca dos 15 milhões de visitantes neste ano.

Entre os destaques da última temporada, esteve o significativo aumento do número de desovas das tartarugas de couro (Dermochelys coriacea), cujo número de ninhos passou de 16 em 2011 para 97 em 2012. Esta é a maior tartaruga marinha do mundo, que chega a medir até dois metros, e uma das mais ameaçadas de extinção.

Em relação à última temporada de desova, o Tamar também destacou o aumento de 20% do número de ninhos da tartaruga olivácea (Lepidochelys olivacea), que passou de 6,6 mil a 7,9 mil em um ano.

As outras duas espécies que costumam visitar o litoral brasileiro são a tartaruga boba ou caguama (Caretta caretta) e a tartaruga marinha (Eretmochelys imbricata).

Além disso, o Projeto Tamar também ajuda a cuidar dos ninhos da tartaruga verde (Chelonia mydas), que desova em ilhas próximas à costa brasileira.

   


Uma dada espécie em especial...

Tartaruga-de-pente

“A tartaruga não vai ser a mesma criatura daqui a milhões de anos. Em algum momento ela vai precisar mudar para sobreviver, assim como todos os seres vivos. O organismo que não se adaptar desaparece. Essa é a única lei da natureza e não está escrita em lugar algum, está na frente dos nossos olhos o tempo todo! Precisamos nos libertar da explicação mais fácil e preguiçosa que a Bíblia fornece. Precisamos estudar e usar a lógica observando a natureza. Veja o vírus da gripe suína. Ele se adaptou para sobreviver e se tornou mais agressivo atingindo humanos. Quando muda o ambiente, ele se adapta e se multiplica mais forte...”.

Alex Peres
Matemático brasileiro, in Evolution, my friend, Evolution


Interessante reportagem sobre o Projeto Nacional de Proteção às Tartarugas Marinhas, o Projeto TAMAR, embora eu tenha reparado numa coisa. Dentre as espécies protegidas no Brasil, o jornalista menciona a tartaruga marinha (Eretmochelys imbricata). Fiquei sem entender, porque, certa feita, no arquipélago de Fernando de Noronha – isso em 1996 –, uma bióloga do TAMAR apresentou-me à referida tartaruga como Aruanã ou Zangada – o formato da sua cabeça se assemelha ao bico do papagaio –, ou seja, a famosa tartaruga-de-pente, que, durante muito tempo, foi a mais ameaçada de extinção no mundo inteiro, principalmente pela beleza da sua carapaça, utilizada na confecção de armações de óculos, anéis e demais adornos. Foi uma viagem interessante. Recebi uma aula teórica em plena Praia do Leão, onde as tartarugas desovam, os pesquisadores acompanham o nascimento do ninho, alimentam e preservam os filhotes das duas únicas espécies encontradas em Noronha, que são a tartaruga verde (Chelonia mydas) e a tartaruga-de-pente. O ciclo evolutivo da tartaruga, contudo, é muito lento! De cada mil tartaruguinhas que entram no mar, por exemplo, uma ou duas chegam a idade adulta, que requer trinta anos para isso acontecer. Curiosamente, uma das medidas de uma campanha criada para arrecadar recursos para o TAMAR foi a da adoção simbólica de uma tartaruga, já que quem adota não pode levar a adotada para casa – medida essa, aliás, que faz tempo. Então! A criatura pode conhecer a tartaruga que adota, escolhe um nome para ela, faz fotografias para guardar de lembrança, mas, na realidade, ela permanece no mar. O interessante é que tem gente que adota tartaruga até pelos Correios! Outro momento, ainda, que preservo com muito carinho foi a minha ida à Baía do Sueste, onde, à época, ficava a base do TAMAR – imagino que seja assim até hoje – e eram possíveis mergulhos para ver as espécies submersas. Não ousei mergulhar, pois respeito muito o mar e, mesmo sabendo que iria acompanhada por uma pesquisadora, achei mais prudente ficar em terra-firme, esperando que ela me trouxesse um exemplar da tartaruga-de-pente. À oportunidade, pude observar o trabalho cotidiano da bióloga e pude conhecer e entender como é feito o controle e o registro das tartarugas marinhas. Antes de tudo, cada tartaruga que visita ou transita por Noronha recebe uma plaqueta que é presa à nadadeira e que consiste em sua carteira de identidade. Por exemplo, caso ela seja encontrada ou capturada em qualquer lugar do mundo, a base do TAMAR, em Noronha, onde ela foi catalogada, pode receber informações sobre o seu paradeiro. Tanto que, de um lado do grampo, tem o número individual da tartaruga e as letras BR, que quer dizer Brasil; do outro lado, a caixa postal do TAMAR. No caso das fêmeas, que são marcadas quando retornam ao mar, após deitarem os seus ovos, esse trabalho é feito para que seja possível observar aspectos comportamentais relacionados à desova, ao tamanho da população e ao estudo de rotas migratórias, o que já não acontece facilmente com os machos que, sempre na água, dificultam o trabalho de marcação. Já os filhotes levam aproximadamente cinquenta dias para nascerem. Nascidos, são contados, identificados e liberados ao longo das praias, mas não sem antes ser feita a marcação da espécie. Depois, alguns exames de biometria, através dos quais pode ser feita uma análise comparativa entre os dados da captura anterior e as posteriores. Finalmente, feitos os exames, a tartaruga é devolvida ao mar, livre para bater as suas nadadeiras ao seu bel prazer... O arquipélago de Fernando de Noronha, por sua vez, um Patrimônio Natural da Humanidade, um Parque Nacional Marinho, protegido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Desse modo, toda a fauna e flora de Noronha, assim como as suas belezas naturais, são utilizadas apenas com fins educacionais, recreativos ou científicos, sendo proibida qualquer forma de exploração dos seus recursos naturais. De fato, um paraíso.

NBC

2 comentários:

  1. Pena q, de uns tempos para cá, o arquipélago virou paraíso de turistas, q nem a administração local consegue administrar - eu soube por um passarinho...

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