Digamos que você acorda e, pensando que está a salvo dos cataclismos – o mundo lá fora se acabando –, senta-se diante de um fumegante café expresso, liga o computador, pensando em fazer uma humilde pesquisa sobre as tartarugas marinhas, que, desde criança, você sempre gostou, e entra no Google... De repente, só pensando em se atualizar, achando, claro, que acordou num dia dito normal e que um dos poucos jornais que ainda lê, pois ainda possui certa credibilidade, tem alguma informação nova sobre aquilo que você já sabe tudo a respeito, pois conhece o trabalho do projeto TAMAR. Para sua surpresa, o que lhe aparece na tela do computador? A tal ferramenta de pesquisa, o Google, sem que você mereça, obviamente, pois mal acordou, ainda não viu um dito ser humano enlouquecido na sua frente falando de politicagem – sim, porque não é política o que se pratica no Brasil –, não tendo feito, portanto, mal a ninguém, o que dirá desacatando, lhe joga na cara uma imagem que, brincando com o seu próprio nome, já norteia o caos que será o seu dia, mesmo virtualmente, tornando real o pesadelo que foi a sua noite, véspera de eleições, e quase se engasgar com o café quente, além, não poderia ser diferente, de amaldiçoar a globalização e qualquer outra coisa que lhe apareça na frente. Afinal, a tal ferramenta de pesquisa ou foi paga pelo Supremo Tribunal Eleitoral (STE) para lhe tirar até o direito à liberdade de acordar em paz ou, então, se meteu em algo que nem lhe diz respeito, tentando interferir na (in) disposição moral do indivíduo. Assim, o que você faz? Seria redundante dizer que o café perdeu até a graça e que o cigarro quase caiu no caminho de mesa da sua mãe, que vem passando a vida inteira acreditando que pode salvar o artesanato no Brasil – outra idealista, cuja genética herdei. Imediatamente, já que cada ação desencadeia uma reação, no caso, de repulsa, você se levanta, só pensando num banho gelado, já que, infelizmente, nem Marina Silva, que você, inocente e romanticamente, ainda acredita poder salvar o seu país, consegue minimizar os efeitos do aquecimento global, que provoca o calor que, logo cedo, dói até na alma – imagine quando, de fato, o verão chegar, estação que não lhe é nada aprazível e que só lhe faz pensar no frio aconchegante do inverno de Paris... Enfim! Você toma o seu banho, tenta firmar os pés no Brasil, pelo menos isso, já que a cabeça está na Europa, deixa a água gelada refrescar a sua mente e toma uma das mais sérias decisões da sua vida. Ou seja, se vingar do computador. Ora, coitado, ele, o computador, não tem nada a ver com nada, é só um instrumento, o seu instrumento de trabalho, igual a sua antiga máquina de escrever. Desse modo, preserve-o, igual o TAMAR há mais de 30 anos preserva as tartarugas marinhas. Ok! Cabeça fria, você vai para a cozinha fazer um novo café expresso e decidir qual outra decisão tomar, no caso, sábia. Afinal, você é uma pessoa privilegiada: dormiu sozinha, acordou sozinha, está sozinha, longe da pessoa que ama e sente saudade, e, diferentemente da maioria dos brasileiros, não é obrigada a sair de casa para comparecer as urnas, coisa que você considera extremamente antipática e deselegante para um país cujos governantes insistem em lhe fazer lavagem cerebral, dizendo que você vive num país democrático, tão democrático que insiste em manter Sarney na presidência do Congresso Nacional – coisa apavorante! –, nem, muito menos, justificar a sua ausência do seu domicílio eleitoral, visto que não está em Brasília, que você também adora, e lá, com a graça do Divino, não tem eleições este ano. Então! Fazendo de conta que acabou de acordar, toma um café, acende um cigarro e, após suspirar profundamente, tão profundo que sente o cheiro do mar, pensando já, agora, em camarão com dendê e leite de coco, pede desculpas ao computador, seu companheiro, cumprimenta o bem-te-vi que todo santo dia entra pela janela do seu quarto para lhe desejar bom dia e senta para escrever, a única coisa idiota que, de fato, você ainda sabe fazer. Ocorre que, como não poderia ser diferente e você sabe disso, pois desde que viu a presepada não se esquece dela – o resto foram devaneios –, o que faz, obviamente que indignada? Copia e cola no Word a referida imagem da página de abertura do Google, logo pensando em escrever para o seu blog e divulgar no Facebook. Sim, porque depois que, como num passe de mágica – a internet tem esse poder –, você descobriu que não é a única insatisfeita, repudia o dia de hoje e, em sinal de protesto, decide fazer coro ao Google, mesmo contrariada. Uma contradição, você sabe, mas, não é disso que somos feitos, de contradições? Afinal, somos seres humanos, impregnados de imperfeições, igual o atual governo federal, que não desiste, mas não desiste mesmo, de fazer você e mais de 190.000.000 de indivíduos de idiotas.
Ninguém merece! Isso sem falar que, quando terminei de escrever essas parcas linhas, dei-me conta que a bateria do computador estava praticamente nula e que eu ainda não tinha salvado o arquivo – obviamente que correndo para pegar o cabo e procurar, feito uma desesperada, por uma tomada elétrica. Afinal, era só o que me faltava, ou seja, perder esse meu momento lúdico de inspiração porque me faltou luz...
NBC
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