LUTO NA BN!
(Publicado originalmente em abril de 2009)
“Uma biblioteca deve ser como um par de braços abertos...”.
Roger Rosenblatt
jornalista e escritor norte-americano
E foi assim, ou seja, de braços abertos, que, apesar do meu descabido melindre, sempre fui recebida na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, aos poucos me aproximando daquela que considero um santuário do saber e que, portanto, merece toda a minha consideração e respeito. Não temor. Temores costumam sentir alguns supersticiosos de plantão por acharem que certas bibliotecas, principalmente as mais antigas, são verdadeiros mausoléus, com espectros a vagar em suas dependências, sobretudo os dos finados autores, subindo e descendo escadas, arrastando não correntes, mas exemplares de livros que eles escreveram.
Os livros, por sua vez, também não devem ser temidos, porque, em suas páginas, muitas, inclusive, já amareladas pelo tempo, residem poesia, beleza e verdades as mais diversas, já que, convenhamos, não existe verdade que seja absoluta. E os próprios escritores, aliás – os não arrogantes, é claro –, sabem disso. Além do mais, independentemente da qualidade do seu teor e da sua escrita, os livros são vaidosos e, despertos, nos proporcionam, como disse o poeta brasileiro Mário Quintana (1906 - 1994), uma “dupla delícia”, já que trazem “a vantagem de a gente poder estar só e, ao mesmo tempo, acompanhado”.
No caso da BN, que, em 2010, completará dois séculos de existência, haja companhia! E de companhia os livros entendem porque, se pudessem, optariam por morar apenas em bibliotecas, que também têm muitas histórias a contar e onde estão protegidos por zelosos guardiões, que, por devoção, cuidam da sua preservação. Eu só espero que, em nenhum momento, o leitor ouse comparar os guardiões aos quais me refiro ao maquiavélico Jorge de Burgos, bibliotecário espanhol cego de uma abadia medieval famosa por sua biblioteca, personagem criada pelo escritor italiano Umberto Eco em seu livro O Nome da rosa, publicado em 1983.
O fato é que, mentalmente doentio, Jorge de Burgos não permitia o riso nem o acesso dos monges a um determinado livro. Um dia, contudo – isso no séc. XII –, o monge William de Baskerville e o seu assistente, chegam à abadia com a missão de investigar uma série de mortes ocorridas no local. Ao final da narrativa, ficamos sabendo que, além de guardião da biblioteca, Jorge de Burgos era obcecado pelo misterioso livro, não hesitando em matar, sobretudo por envenenamento, quem se atrevesse a tocá-lo ou, porventura, se constituísse em uma ameaça ao seu segredo, que, finalmente, é descoberto por Baskerville.
Ou seja, tratava-se do livro Elogio ao riso, do filósofo grego Aristóteles (384 - 322 a. C.), que, apesar de inofensiva, motivou os assassinatos cometidos pelo bibliotecário. A título de ilustração... De origem grega, o substantivo feminino biblioteca significa depósito de livros. Sei não, mas, para mim, o nome depósito soa feio para definir um espaço físico onde se guarda livros, como se fosse um armazém abandonado em um cais de porto qualquer, no qual é largado todo tipo de tranqueira. E, segundo me consta, livros não são tranqueiras – nem mesmo os de qualidade considerada inferior e mal escritos – e bibliotecas não são quartos de despejo.
Não importa se o seu acervo seja limitado nem as suas instalações físicas precárias. Além disso, nem só de livros vivem as bibliotecas, mas, também, de documentos os mais diversos. O importante é que contenham histórias ou contribuam para o conhecimento da História. Curiosamente, apesar da sua atmosfera fria e sombria, como diriam os supersticiosos, as bibliotecas são calorosas e sóbrias, acolhendo, sem distinção, todo tipo de livro, enquanto os seus guardiões, bibliotecários e biblioteconomistas, acolhem não importa qual pesquisador e são a garantia de que estamos – livros, documentos, escritores e pesquisadores – em cuidadosas e boas mãos.
Pudera, já que até padroeiro os bibliotecários têm! O santo? São Jerônimo (347 – 419/420), que, imagino, deve, igualmente, proteger os biblioteconomistas. Ávido leitor e poliglota, o padre dalmácio Jerônimo, além de memória prodigiosa, possuía a biblioteca mais importante da Roma antiga, tendo, inclusive, traduzido o Novo testamento do grego antigo e do hebraico para o latim. Foi canonizado em 1767. Não é a toa que os guardiões da BN, sob a proteção de São Jerônimo, estão sempre de prontidão, seja para proteger os livros e congêneres, seja para nos acolher e, generosamente, atender as nossas solicitações.
Daí reconhecer o mérito de todos os seus guardiões, mas, no caso, o de um especialmente. Melhor dizendo, o da minha guardiã, que, recentemente, sem aviso prévio, deixou vago o seu posto, embora eu ache que ela poderia apenas ter mudado de turno. Ocorre que uma fatalidade privou-a não somente da sua função, mas, sobretudo, da sua própria vida. O nome da guardiã, registrado na sua certidão de nascimento e no seu RG? Maria das Graças Gonçalves da Silva, embora todos a chamassem de Graça – um amor de pessoa. E uma dádiva para a BN tê-la na Divisão de Informação Documental - DINF, onde era lotada.
Infelizmente, no dia 3 de abril, Graça foi vítima de um acidente vascular cerebral. Entrou em coma e, no dia 14, um dia depois do meu aniversário, silenciou, fenecendo igual as flores de um jardim não regado, longe do cheiro dos livros que tanto apreciava. Afinal, ela estava na flor da idade. Nascida no dia 29 de dezembro de 1957, tinha, apenas, cinqüenta e um anos de idade e, como boa capricorniana, buscava, em suas realizações, conhecer a si mesma, seguindo, ao pé da letra, a máxima de um sábio grego, o filósofo Sócrates (470 - 399). No entanto, não teve tempo para prosseguir em sua busca...
Assim, sem restar-lhe opção, bateu as asas e levantou vôo. Sem passagem, sem bagagem, sem nada! E, com destino ignorado, sem deixar rastros, sequer uma pista, partiu. Porém, para o nosso consolo, ela, agora, pode estar em qualquer lugar! Quiçá, até mesmo no Egito! Por que não? E, não duvido nada, em colóquio com Ptolomeu II Filadelfo (309 - 246 a. C.), propondo ao rei a reconstrução da Biblioteca de Alexandria, a partir das suas próprias ruínas, a fim de resgatar o maior acervo cultural e científico que existiu na Antiguidade. Afinal, tudo é possível e, nesse caso, para uma biblioteconomista, então! Como eu sei disso?
Elementar, meu caro leitor, como diria Sherlock Holmes ao seu assistente Watson, personagens criadas pelo escritor britânico Arthur Conan Doyle (1859 - 1930), já que, igual aos bibliotecários, os escritores também têm o seu santo protetor, no caso, santa: Teresa D’Ávila (1515 - 1582), canonizada em 1622. Ocorre que, outro dia, em um encontro nada casual, São Jerônimo revelou o paradeiro de Graça à ex-monja espanhola, que, por sua vez, me repassou a informação. Está explicado? Bom! Certa vez, o escritor argentino Jorge Luís Borges (1899 - 1986) disse que imaginava o paraíso “uma espécie de biblioteca”. Daria até um epitáfio...
O fato é que eu soube da inesperada viagem da Graça – cortesia da companhia aérea estatal Egyptair? – de maneira para lá de inusitada. Afinal, três dias depois da sua partida, ainda sem saber de nada, enviei um e-mail para ela, pedindo-lhe uma gentileza. Qual não foi, então, a minha surpresa quando, não demorou muito, recebi um e-mail, em resposta ao meu, enviado da sua caixa postal, embora assinado por uma colega de trabalho, amiga e chefe da DINF, comunicando-me que Graça não estava mais entre nós? Inicialmente, pensei que ela não trabalhava mais na BN, que tinha sido transferida da DINF para outro setor, pedido demissão ou sido demitida.
Nenhuma das alternativas! Foi somente, então, no parágrafo seguinte, que, de fato, tomei conhecimento do real motivo da sua ausência e, confesso, a sensação que eu tive foi uma das mais estranhas. Sei apenas que, de imediato, o instante estancou e, ao reler a mensagem duas, três vezes, voltei no tempo... E se a minha memória, sempre tão pontual, não estiver com preguiça, apesar de eu andar trocando a noite pelo dia, noctívaga que nem morcego – quando não estou escrevendo estou dormindo e vice-versa, praticando o ócio criativo –, o primeiro contato que tive com Graça data de 1997, logo após o meu retorno ao Brasil.
À época, eu escrevia um roteiro para realizar um documentário sobre a vida e a obra da educadora, escritora e feminista norte-rio-grandense Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 - 1885), embora, ao mesmo tempo, estivesse traduzindo para o português um dos seus livros, publicado em Paris no ano de 1878. Desde então, ou seja, desde a primeira vez em que Graça e eu nos falamos, ela se responsabilizou pela minha pesquisa sobre Nísia Floresta na BN, encarregando-se de me enviar, pelos Correios e Telégrafos do Brasil, toda documentação que encontrasse referente ao meu tema de pesquisa, e não deixamos mais de nos falar.
Em 1998, por exemplo, quando viajei ao Rio de Janeiro para pesquisar in loco lugares e tudo o mais que estivesse relacionado à vida de Nísia Floresta, uma das primeiras coisas que eu fiz foi ir à BN. Queria conhecer Graça pessoalmente e agradecer pela sua pontualidade no atendimento dos meus pedidos, além de aproveitar a oportunidade para pesquisar alguns documentos. Assim, quando, pela primeira vez, ultrapassei o umbral da porta principal da BN, senti uma sensação indescritível. Afinal, era o meu batismo na edificação cuja pedra fundamental havia sido lançada no dia 15 de agosto de 1905 e inaugurada no dia 29 de outubro de 1910.
A data da fundação oficial da biblioteca, entretanto, remonta ao dia 29 de outubro de 1810, após a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, e foi uma iniciativa de dom João VI (1767 - 1826), que, inicialmente, acomodou o acervo, trazido de Portugal, em uma das salas do Hospital do Convento da Ordem Terceira do Carmo, na Rua Direita, hoje Primeiro de Março. Considerada pela UNESCO uma das dez maiores do mundo e a maior da América Latina, a BN é, de fato, impressionante. E, ao pôr os meus pés em seu piso, não nego que senti uma espécie de magia e encantamento, sobretudo porque eu adoro antiguidades.
Como diria a poetisa brasileira Ana Cristina César (1952 - 1983): “Sou uma mulher do século XIX disfarçada de século XX”. É, devo ter aberto a porta do tempo errada! Mas, voltando ao meu début na BN... À ocasião, senti-me como se estivesse em Paris, quando, também pela primeira vez, sob os auspícios do outono, entrei na Biblioteca Nacional da França. A diferença, contudo, das duas situações, era que, naquele momento, eu estava no Rio de Janeiro e no inverno. O fato é que eu estava lá, compondo, embevecida, um ambiente que mais parecia cena de filme, logo sendo recebida por Graça, que, de braços abertos, me acolheu na recepção da biblioteca.
Em seguida, ela levou-me à DINF, o setor onde trabalhava. Foi quando lhe dei uma rede, de fio cru, made in Baía Formosa (RN), retribuindo a sua desvelada atenção para com a minha pesquisa. Porém, imagine o leitor o alvoroço que a rede causou nas pesquisadoras, tornando-se um súbito objeto de desejo do mulherio – no bom sentido, é claro! Tanto que vi a hora de, em um piscar de olhos, a rede transformar-se em uma colcha de retalhos, pois as colegas de Graça passaram a cobiçar um cadinho daquela cujo balanço é repouso garantido após um dia de trabalho exaustivo, sobretudo quando se passa toda uma jornada a vasculhar arquivos nas estantes do tempo.
Eis o motivo do meu presente: proporcionar à Graça o sono dos justos pelas horas que passou dedicando-se a minha pesquisa. Felizmente, o qüiproquó teve um fim e, após um cafezinho, a minha anfitriã levou-me para fazer um tour pelas dependências da BN. Começava, aí, a minha viagem ao túnel do tempo... Foi, então, que, de repente, não sei se para retribuir à gentileza que lhe fiz, presenteando-a com a rede, quando eu menos esperei, estava na sala onde se encontra o acervo de obras raras – privilégio, aliás, apenas concedido a raros mortais. Daí eu nem precisar dizer que, nos dias em que se seguiram, recebi tratamento vip ao realizar a minha pesquisa.
Obviamente que era só chamar que Graça dava um jeitinho de se desvencilhar do que estava fazendo para ir ter comigo. Desse modo, facilitou-me o acesso a documentos, que, normalmente, levam-se dias para obtê-los. E, convenhamos, qual pesquisador não almeja esse tipo de acolhida? Porém, vale salientar que cai nas graças de Graça não apenas por causa dos meus belos olhos, mas, também, porque ela, como pesquisadora e mulher, ficou fascinada pela trajetória de vida de Nísia Floresta – o meu objeto de pesquisa –, inclusive contaminando toda DINF com a pérola descoberta. Prova disso – fiquei sabendo depois...
Por mais que estivessem encarregadas de outras pesquisas, as meninas da DINF foram, por completo, envolvidas por Graça no affaire Nísia Floresta. Assim, quando, casualmente, encontravam algum documento referente a mais augusta das brasileiras, elas logo repassavam o achado à Graça, que, por sua vez, se encarregava de enviá-lo para mim, sem nem mesmo consultar-me se a informação era ou não do meu interesse. Enfim! Como se diz hoje em dia, ela, de certa forma, deixou todo o setor focado em minha pesquisa e, um belo dia, quando eu menos esperava, me escreveu uma carta – ainda não usávamos e-mail para nos comunicar.
Informou-me, portanto, ter encontrado um microfilme de um documento que, com certeza, ia ser de grande utilidade para a tradução que eu estava fazendo do livro de Nísia Floresta. E como o foi! Autorizei, então, o envio do tal microfilme e, ao recebê-lo, logo dei um jeito de analisar o seu conteúdo utilizando um antigo projetor russo, que eu havia trazido de Paris, e não tardei a enviar o rolinho à Editora da Universidade de Brasília para tirar uma cópia e anexá-lo a minha tradução, que, aliás, foi publicada com o título Fragmentos de uma obra inédita – Notas biográficas, em 2001, com prólogo da historiadora brasileira Maria Lúcia Pallares-Burke.
Concluída, portanto, a etapa livro, restava-me concluir o roteiro para o documentário sobre a vida e a obra de Nísia Floresta, embora, ao mesmo tempo, continuasse com as minhas pesquisas, recebendo, aqui e acolá, uma graça da BN. Infelizmente, o roteiro do documentário continua guardado nos arquivos do meu computador, já que ainda não consegui produtor nem patrocinador para realizá-lo. Mas, aí, o tempo passou e, anos depois, envolvida em outra pesquisa, cujo tema era a Festa do Divino, que, aliás, me tomou cerca de seis anos, voltei a contatar Graça, que, com a sua presteza habitual, enviou-me as informações que eu precisava.
No caso, cerca de vinte fotografias, algumas das inúmeras que ilustram o meu livro, e, como sempre, furei a fila. O setor de iconografia ia fechar temporariamente para reforma e eu só teria as tais fotos em, no mínimo, seis meses. Graça as conseguiu em quinze dias... Acontece que este livro, um registro textual, iconográfico e musical sobre a Festa do Divino, bem como os demais que já escrevi, mas que, ainda, não foram publicados, nem outros que, com certeza, pretendo escrever, Graça não irá ler. Nem, muito menos, possuir um exemplar autografado pela autora, como foi o caso dos Fragmentos..., de Nísia Floresta.
Sim, porque, apesar da BN ter recebido alguns exemplares para o seu acervo, enviados pela própria Editora da Universidade de Brasília – é de praxe –, eu fiz questão de, à parte, presenteá-la com um exemplar autografado pela autora. No caso, euzinha. Além disso, nas páginas introdutórias do livro, onde agradeço a todos que, de certa forma, perpassaram o meu caminho no período em que realizei a tradução, quando mencionei o apoio que recebi da equipe da DINF, o seu nome veio em merecido destaque, sendo, ainda, mais uma vez citado no posfácio, que, afinal, foi escrito apenas para justificar o anexo do livro.
E o anexo, por sua vez, não é que a transcrição do conteúdo do microfilme que Graça havia me enviado. Porém, o fato de eu ter feito uma pausa em meus pedidos para alguma pesquisa que, porventura, eu estivesse desenvolvendo, nunca foi empecilho para que continuássemos a manter contato já através de e-mails. E lembro até que, certa vez, ela chegou a reclamar da política do governo federal, falando de achatamento salarial, mudanças no plano de carreira, condições de trabalho precárias etc. Ou seja, essas coisas que todo funcionário público, não importa a esfera, costuma se lamentar.
E, como estava em minha lista de contatos de e-mails, ela sempre recebia as crônicas e artigos que, de vez em quando, eu costumo escrever. Tanto que, em janeiro deste ano, quando criei um blog, enviei o seu link para todos os nomes da referida lista, inclusive o dela, que, imagino, deve tê-lo acessado. De qualquer forma, gostaria de saber se ela chegou a ler a crônica intitulada Gatos e homens, divididos em duas partes: Gatolândia e Os Escritores, os livros e os gatos, sendo que, na segunda e última parte, falo do “fascínio que as letras devem exercer sobre os gatos, já que muitos costumam morar em bibliotecas...”.
Na referida crônica, falo, também, que, pesquisando na internet, até descobri a existência de uma listagem da Library Cats Map, com sede em Boston, sobre os chamados gatos de biblioteca do mundo inteiro. “Gostariam, então, os gatos do farfalhar das folhas dos livros e do seu cheiro, quando algum leitor, por exemplo, os folheiam, ou seriam os ácaros que, por algum motivo, os atraem?”. Fiquei, então, a pensar se, de repente, outra possibilidade que poderia justificar a opção de certos gatos por bibliotecas seria o grau da sua intelectualidade, decorrendo daí a atração de muitos pela palavra escrita.
Agora, lamento não ter consultado Graça quando da criação da crônica, para saber se, à época, algum bichano, porventura, morava na BN. Vai ver, até mora. Afinal, pelo que eu pude perceber, toda biblioteca que se preza tem o seu gatinho de estimação. Enfim! Se a Graça quiser um exemplar autografado do meu livro sobre a Festa do Divino, que também contou com a sua prestimosa ajuda, vai ter de voltar de Alexandria para poder recebê-lo de presente, mas, se preferir, pode até postar um e-mail, passando-me um endereço para onde eu possa enviá-lo, tão logo, é claro, ele seja publicado. Afinal, não importa a situação nem o contexto...
Como disse o teólogo e escritor brasileiro Leonardo Boff: “Cada um lê com os olhos que têm e interpreta a partir de onde os pés pisam”. Quanto a mim, que não acredito nem em Deus nem no Diabo, muito menos no céu e no inferno – o que dirá no purgatório! –, só resta-me formular a pergunta que não quer calar: Quais seriam, então, agora, os olhos de Graça e onde estariam pisando os seus pés? Pelo que eu também andei sabendo, parece que nadando na Baía da Guanabara... Sei não, mas acho que já não estou mais dizendo coisa com coisa. O fato é que eu nunca soube muito bem lidar com perdas e, talvez, seja melhor eu ir dormir.
Gostaria, contudo, de ressaltar que, ao final da conclusão desta crônica, soube que em uma das gavetas da mesa de trabalho de Graça foi encontrado um envelope contendo cópias de documentos relacionados a minha pesquisa sobre Nísia Floresta, que, ao longo dos anos, desde 1997, ela havia me enviado – gesto que só confirma o carinho e a deferência que tinha por mim. Assim, nada mais justificável a homenagem que ora lhe presto, fazendo minhas as palavras do escritor português José Saramago (1922 - 2010), que diria ser ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, “mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido”...
Nathalie Bernardo da Câmara
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