O DIA QUE BOLA DE GUDE VIROU BARRA DE SABÃO*
A inteligência é uma espécie de paladar que nos dá a capacidade de saborear idéias...”.
(1933 - 2004)
Escritora, cineasta e ativista política norte-americana
Outro dia, diante de um comentário que me foi feito por minha mãe a respeito de uma receita exótica à base de caviar, publicada em um jornal – não lembro qual –, comentei que não apreciava o prato, o dito original, feito a partir de ovas de estrujão, cujo nome científico é Acipenser oxyrinchus, um peixe que remonta à época dos dinossauros, que, inclusive, experimentei em Paris e que, confesso, não gostei. Imaginem, então, as receitas, com pitadas de tropicalismo, criadas utilizando a tal ova! De há muito, contudo, o estrujão anda a navegar em águas doces e salgadas de várias partes do mundo, existindo, atualmente, em torno de 24 tipos da espécie, embora, das quais, segundo pesquisei, apenas 03 – sevruga, asetra e beluga –, procedidos do mar Cáspio, considerado livre de qualquer poluição, são, majoritariamente – cerca de 90% – consumidos a nível mundial. Eu, particularmente, embora seja um prato considerado para lá de chique, não suporto caviar. Ora! Não que eu seja esnobe ou arrogante a respeito do caviar de estrujão. Eu, simplesmente, não gosto, embora adore lagosta, camarão e outros frutos do mar. E, afinal, é um direito que eu tenho de não apreciar certos pratos, independentemente de eles serem oriundos do mar, da terra ou do ar, considerados nobres ou não. Tanto que, segundo a minha mãe, a melhor ova que ela já comeu é a do peixe que se chama curimatã, sem definição de um nome científico específico e, inclusive, com algumas variações da espécie. Qual, então, a relação do caviar com a rapadura? Afinal, histórica e respectivamente falando, uma é burguesa e a outra proletária. No caso da rapadura, considerada um subproduto da cana-de-açúcar, cuja fabricação é originária das Canárias, ilhas espanholas, no Atlântico, também chamada de raspadura, ela é um produto que, apesar de ser tido como rústico, é de alta qualidade nutricional. Por isso que, de há muito, ela não se resume mais a ser um complemento alimentar de muitos tropeiros brasileiros, que a carregavam em suas matulas, resistindo as mais diversas condições climáticas, nem, também, se limitando a uma guloseima qualquer, adicionada que já foi à merenda escolar de muitos alunos da rede pública de ensino do Nordeste do Brasil e aos subsídios que dizem respeito à alimentação das populações mais carentes do país.
Querendo entender...
“A imprensa perseguida e amordaçada é, de fato, o único partido de oposição deste país [Brasil]!...”.
Priscilla Wilmers
Jornalista brasileira, uma grande amiga. Há mais de 20 anos, desde a universidade, companheira de jornalismo. Trabalhamos juntas e, até hoje, buscamos lutar contra as injustiças. Todas!
Enfim! Dependendo do paladar de cada um, cada alimento tem a sua importância – as variantes que levam a isso são muitas! Um exemplo, no caso, de carência alimentar? A informação de boa qualidade. Como se explica, então, o jornal O Estado de S. Paulo encontrar-se sob censura há 685 dias (à época em que publiquei este post) – hoje, 697? E isso apenas porque o senador José Sarney (PMDB-AP), à época com a conivência do ex-presidente Lula, quis calar o periódico brasileiro em função de seus interesses escusos? O curioso é que, em seu discurso de posse, no dia 1° de janeiro de 2011, quando assumiu o comando do Brasil, la presidenta Dilma Rousseff disse preferir “o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras” já que, durante o regime militar no Brasil (1964 - 1985), lutou “contra o arbítrio e a censura”... Que ela se prontifique, então, a acabar com a censura no país, pondo, de vez e definitivamente, um ponto final nessa história, promovendo, assim, o resgate ao direito à liberdade de expressão e à de opinião dos jornalistas, bem como nos garantindo o direito ao exercício da imprensa livre das amarras que a cerceiam.
Desse modo, obviamente, estariam igualmente garantidos os anseios democráticos e de liberdade do povo brasileiro. Sem falar que, segundo eu escrevi no post A Criação, publicado neste blog dia 03 de janeiro do corrente: “Espero que Dilma também não se esqueça de aproveitar a influência dos ditos novos ares pairando sobre o também dito novo Brasil desperto, fazendo a diferença, para apoiar a Proposta de Emenda Constitucional - PEC nº 33/2009, que restabelece a exigência do diploma de nível superior para o exercício da profissão de jornalista, cuja votação, no Senado, foi adiada para 2011, bem como a PEC nº 386/2009, igualmente prevista para ser votada este ano. E que sejam votações favoráveis, já que, no dia 17 de junho de 2009, a categoria dos jornalistas foi sumariamente injustiçada pelo Supremo Tribunal Federal – STF”.
O mais estranho, contudo, é que, diante de inúmeros acontecimentos quem estão acontecendo no mundo inteiro, muitos acham que andamos a viver um processo de revolução social, cultural e política – sabem-se lá mais o quê! –, já que estamos a exigir o pleno exercício da democracia, com manifestações populares a favor dos direitos humanos e fundamentais eclodindo por toda parte. Ledo engano! O atual período é de convulsão de valores. No caso do Brasil, por exemplo, onde já se viu – aconteceu no dia 10 do corrente –, o governo do estado do Rio de Janeiro prender quase todos os bombeiros da Cidade Maravilhosa apenas porque eles reivindicaram aumento salarial e melhores condições de trabalho para a categoria? Quanto retrocesso, o do governador Sérgio Cabral e o da sua milícia, já que, histórica e tradicionalmente – no mundo inteiro –, bombeiros salvam vidas e não podem ficar detidos por meros caprichos de quem quer que seja. Que libertem, então, todos os bombeiros, que são trabalhadores, e atendam as suas reivindicações. Todas! É o mínimo a se fazer...
A pergunta que não quer calar: caso a casa do governador do Rio de Janeiro pegasse fogo, quem iria apagá-lo?
Nesta vida, tudo é possível!
“Chamam-me de idiota porque fumo maconha, mas chamam de gênio quem inventou a bomba atômica...”.
Bob Marley (1945 - 1981)
Compositor, cantor e guitarrista jamaicano
De fato, o Supremo Tribunal Federal - STF do Brasil é uma incógnita. Para não dizer uma piada, um filme de ficção ou um conto da Carochinha... Afinal, ora os magistrados decidem contra não importa qual matéria, ora decidem a favor. Quando não, eles retornam à opinião anterior. Brincadeira! Quem entende isso? Tal prática, esquizofrênica, voltou a acontecer recentemente, quando, em menos de 15 dias, despontou no país o desejo de muitos em querer legalizar o uso da maconha, ou seja, liberá-la para consumo, sem que este seja considerado crime, mas reconhecido pela legislação brasileira. Qual a dúvida, então, do STF? Reconhecer as chamadas marchas pró-maconha no país, que aconteceram no dia 18 em várias capitais brasileiras?
Enfim! Dúvida vai, dúvida vem... No dia 15, eis que, acatando a proposta da Procuradoria-Geral da República - PGR, em defesa da liberdade de expressão, o STF, baseado na Constituição Brasileira, que garante o direito dos cidadãos se reunirem para expressar idéias, se posicionando sobre elas, decidiu ser favorável as ditas marchas, ou seja, as manifestações em prol da descriminalização – não confundir com discriminação – do uso da maconha no Brasil, na condição, entretanto, que as referidas manifestações sejam pacíficas e não estimulem a violência, promovendo, ainda, um debate “necessário”, segundo disse o ministro Celso de Mello, relator da matéria, e não fazer apologia à droga. Segundo a ministra Cármen Lúcia, em relação as manifestações pró-maconha:
“A liberdade é mais criativa do que qualquer algema que se possa colocar no povo. (...) Alguns avanços se fazem dessa forma, postulando algo que neste momento é tão grave e com o tempo passa a ser normal para todo mundo. Tenho profundo gosto pela praça porque a praça foi negada a nossa geração”, afirmou a ministra, fazendo referência à proibição de manifestações públicas durante o regime militar (1964-1985) no Brasil, segundo a jornalista brasileira Débora Santos, do G1, direto de Brasília.
Enfim! Como disse a própria Dilma, citando, em seu discurso de posse, o escritor mineiro Guimarães Rosa, seu conterrâneo: “A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem...”. E eu perguntaria: ter coragem para suportar as indecisões e os equívocos de la presidenta?
Nathalie Bernardo da Câmara
* No dia 16 do corrente, publiquei este post com o título original O Dia que caviar virou rapadura. Infelizmente, vítima de uma censura insensata – todas as censuras são insensatas –, já que nos nega, a todos, o direito à liberdade de opinião e o direito à liberdade de expressão – direitos garantidos pela Constituição Brasileira –, o exclui do meu blog sem maiores questionamentos, visto eu não ter o menor interesse em alimentar polêmicas estéreis nem confusão – não importa o tema, pois considero esse tipo de coisa a improficuidade em pessoa –, muito menos por causa de um mero título, que, aliás, no caso, reconheço, pesquei a idéia de outrem no ar, embora não tenha visto nisso crime algum, já que, fruto de uma fala coloquial, um bate-papo, o mesmo nem registrado estava. De qualquer modo, em respeito aos leitores do meu blog, que, aliás, adoraram a referida postagem –, mudei o título inicial e decidi republicar o post, com algumas modificações, é claro, aproveitando para retirar toda e qualquer referência ao autor do referido título. Só que, daqui para frente, diante de tanta repressão e sandice, vou andar com um exemplar da Constituição Brasileira pendurada no pescoço e um exemplar do Código Penal, também brasileiro, arrastado pelos pés, defedendo os meus direitos... Qual é mesmo o artigo constitucional que me concede a liberdade de expressão e a de opinião? Quem quiser, que pesquise. E só usei esse título porque foi bom demais! Afinal, em meus vários anos de jornalismo, sou, modéstia à parte, super criativa em títulos. Nem precisava disso. De repente, fiz até um favor, no caso da criatura, em divulgar a sua idéia. Mas... Se o "dono" da frase me censurou, deixa quieto. Problema meu que não é! Mas, como sou profissional, reconheço que o meu ficou bem melhor. Afinal, só quero divulgar as minhas idéias e, convenhamos, não vivemos mais na Idade Média... Et voilà!
Olá Nathalie!
ResponderExcluirParabéns pelos textos produzidos...
Me identifiquei muito com o 1º. Só para acrescentar, o nome científico sempre é escrito com a primeira letra da palavra, que representa o gênero em maiúsculo e a segunda letra da palavra, que representa a espécie em minúsculo. Resultado: Acipenser oxyrinchus.
Ah! E a palavra sempre vem destacada com itálico, negrito ou sublinhado... Não sei fazer esse recurso aqui. Rsrs!!! Sobre o peixe curimatã, o nome científico é Prochilodus vimboides.
Novamente, parabéns!!!!
Abraço forte de GoiÃnia...