sexta-feira, 16 de março de 2012

UM CORAÇÃO TRANSTORNADO...


“Um psicopata já nasce psicopata...”.

Hilda Morana
Psiquiatra forense brasileira


Na noite da última terça-feira, 13, o empacotador Cássio Silva Fonseca, de apenas 21 anos de idade, se apresentou à delegacia de Polícia Civil do município de Três Corações, a 290 km de Belo Horizonte, em Minas Gerais, foragido que estava desde que havia sido expedido um mandado de prisão preventiva contra ele por ter confessado, por mensagens enviadas a terceiros do seu celular, ter assassinado, dois dias antes, no domingo, 11, com golpes de faca no coração, a sua ex-namorada, Bruna Vilela Silva, também de 21 anos de idade, cujo corpo foi localizado num matagal no bairro Jardim América na manhã seguinte ao dia do crime. Na delegacia, segundo a delegada Ana Paula Gontijo, apesar de acompanhado de três advogadas e de não ter nem assumido nem negado ter posto termo, de maneira brutal, à vida da ex-namorada, literalmente empacotando-a, fazendo jus, no caso, ao seu ofício – ao mesmo tempo em que insistia em não querer se lembrar de nada, pressupondo, claro, que algo de muito ruim havia feito –, como já havia o mandado de prisão preventiva, o suspeito foi preso e encaminhado ao presídio regional de Três Corações. Antes disso, contudo, o jovem, possivelmente previamente orientado, disse à delegada que, por fazer uso de remédios controlados, não se considerava uma pessoa normal, como se essa declaração fosse a sua tese de defesa. Ocorre que, em uma das mensagens enviadas a uma amiga da vítima, Cássio assumiu o crime, embora não tenha revelado onde estava o corpo da ex-namorada, mas apenas que ele estava bem escondido, e confessou ser um psicopata.

 


O fato é que, apesar de, na delegacia, não assumir nem negar o homicídio, bem como, em hipótese alguma, insistir em não querer se lembrar de nada do que havia acontecido no domingo, o empacotador matou Bruna, ligou para a sua mãe em torno das 18h, comunicou o ocorrido, disse haver abandonado o corpo atrás do hipódromo da cidade, e que, em seguida, iria fugir da cidade. Informada, a polícia militar decidiu apurar a denúncia, mas, devido à baixa luminosidade e à alta vegetação no local indicado pelo suspeito, as buscas foram suspensas, sendo, contudo, retomadas na manhã do dia seguinte. Assim, encontrado o corpo de Bruna, foi igualmente encontrada a faca usada para matá-la, além de um bilhete deixado pelo assassino justificando o motivo do crime, que teria sido um suposto aborto feito pela vítima, que, aliás, havia mantido um relacionamento conturbado de três anos com o seu algoz – um dos quais o casal morou junto. No último carnaval, por exemplo, Cássio teria agredido fisicamente Bruna. Porém, na delegacia, ela se recusou a registrar um Boletim de Ocorrência contra o rapaz, que, inclusive, contabiliza em seu histórico episódios de ataques contra a própria mãe e a avó, que nunca prestaram queixas. Enfim! Conforme a delegada Ana Paula Gontijo, o inquérito deve ser encerrado até o próximo dia 22. Indiciado por homicídio qualificado e, se condenado – o empacotador, segundo ainda a delegada, “tem ao menos uma qualificadora, que é o motivo torpe” –, deverá cumprir uma pena que varia de 12 a 30 anos de prisão. Se adiantasse alguma coisa!



Enquanto isso, na Bélgica...

Foto: Reprodução/Daily Mail

“Ele fez de mim um monstro (...). Arruinou a minha vida como mulher...”.

Patricia Lefranc
Fotos do antes e o depois da belga submetida a 86 cirurgias após ser atacada com ácido sulfúrico por ex-amante divulgadas pelo jornal inglês Daily Mail.


Teve início na última segunda-feira, 12, o julgamento de Richard Remes, o também belga de 57 anos de idade, casado e com filhos, acusado de tentativa de assassinato da sua ex-amante, Patricia Lefranc, de 48 anos de idade, quando, no dia 1º de dezembro de 2009, ele não hesitou em jogar óleo de vitríolo (ácido sulfúrico) no seu rosto e busto. Pouco antes do julgamento, contudo, Patricia declarou à imprensa estar determinada a “olhá-lo nos olhos e mostrar ao júri o que ele me fez”, acrescentando que espera “convencer a Corte de que ele queria me matar”. Segundo a rádio belga RTL, Remes, que, à época do relacionamento com Patricia era casado, descreve o relacionamento dizendo que a amava sinceramente. De qualquer modo, ela pôs fim à relação. E, por isso, ele a agrediu, confessando: “Queria deixá-la marcada, mas jamais imaginei que [o efeito do óleo de vitríolo] seria tão rápido”. A defesa de Remes, por sua vez, alega que ele não pretendia deformá-la, mas não percebeu que o ácido teria um efeito tão devastador.

À ocasião, o ataque aconteceu na entrada do prédio onde Patricia morava, logo sendo socorrida por funcionários de uma empresa vizinha ao prédio onde ela morava. Hospitalizada, passou três meses em coma induzido. Perdeu a visão do olho esquerdo, a audição do ouvido esquerdo e teve amputado o dedo anular da mão direita. Curiosamente, mais de dois anos depois da tragédia, o ácido ainda continua a afetar a sua pele. O seu nariz, por exemplo, precisará, em breve, ser substituído por uma prótese. Outro inconveniente, contudo, permeia o dia a dia de Patricia, que, devido as feições deformadas passou a ser alvo de estigmas vários, tipo, no caso, ser usada por terceiros “como exemplo do que pode acontecer a uma mulher que põe fim a um relacionamento” amoroso. Sinceramente, um gesto abominável o cometido contra a belga, revelando, simplesmente, mais um caso de psicopatia – um grave e irreversível transtorno de personalidade relacionada ao caráter que, felizmente, cada vez mais, tem ganhando maior visibilidade na mídia.



Os talentos naturais de um psicopata:
mentir, enganar, manipular...

“O psicopata está livre das alucinações e dos delírios que constituem os sintomas mais espetaculares da esquizofrenia. (...) A sua aparente normalidade, a sua ‘máscara de sanidade’, torna-o mais difícil de ser reconhecido e, logicamente, mais perigoso...”.

Hervey M. Cleckley (1903 - 1984)
Psiquiatra americano, pioneiro no campo da psicopatia


No dia 09 de abril de 2011, publiquei neste blog a postagem Psicopatia: maldades a 3x4 (http://abagagemdonavegante.blogspot.com/2011/04/psicopatia-maldades-3x4-concordo.html), comentando a respeito de uma tragédia que, dois dias antes, havia abalado o Brasil e alcançando, por suas dimensões, repercussão internacional, ou seja: um jovem brasileiro invadiu uma escola no Rio de Janeiro e, aleatoriamente, disparou cerca de sessenta tiros contra alunos do estabelecimento de ensino. “Alvejado pela polícia, o assassino, um ex-aluno da escola, se matou em seguida. O triste episódio, portanto, por sua gravidade”, gerou polêmica não apenas “devido à exposição da precariedade da segurança nas escolas brasileiras, mas, sobretudo, ao comportamento demasiadamente violento do atirador”.

À época, se destacou na mídia a psiquiatra forense brasileira Hilda Morana, que passou a tirar dúvidas as mais diversas de inúmeros interessados no tema que muitos nem sabiam – outros tantos continuam sem saber – do que se trata, ou seja, a psicopatia. Enfim! Segundo a psiquiatra, “a psicopatia, não é determinado pela criação dada pelos pais a uma criança nem pela educação que ela recebe, muito menos pelo ambiente, não sendo, portanto, o referido transtorno adquirido ao longo da sua vida”. Em sua opinião, como evidenciei na epígrafe que abre esta postagem, “um psicopata já nasce psicopata. Daí a psicopatia não ter cura. Ocorre que, quando um caso é diagnosticado, o recomendável é que haja um acompanhamento médico, estimulado pela família, devendo o paciente ser monitorado pelo resto da sua vida”.

E a psiquiatra acrescenta: “O pior é que os psicopatas não se reconhecem como tal, o que, na maioria das vezes, dificulta o tratamento, visto que, por natureza, eles são pessoas extremamente arrogantes”. Prosseguindo, a médica afirmou ainda que “os psicopatas têm a exata noção do que é certo e do que é errado. E isso apenas porque o seu transtorno não reside no intelecto, mas no caráter, alertando, por fim, que um adulto com esse quadro clínico já demonstra, desde a mais tenra idade, comportamentos de risco e agressividade, além de ser egoísta e mentiroso”. Já para a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro Mentes perigosasO Psicopata mora ao lado, lançado em 2008, “identificar um psicopata não é uma tarefa nada fácil”, já que eles dominam a arte de interpretar.

Segundo Ana Beatriz, “os psicopatas representam papéis os mais diversos melhor do que muitos atores profissionais”, visto que são “inteligentes, eloquentes, charmosos e sedutores”. Hábeis em mascarar a sua natureza perniciosa, eles dissimulam, assim, as suas reais intenções. Infelizmente, incógnitos, estão em todos os setores da sociedade, sem exceção, e compreendem, ainda, 4% da população: 3% são homens e 1% é mulher. Ou seja, independentemente de sexo, faixa etária, raça, credo, grau de instrução, profissão, poder aquisitivo, classe social, orientação sexual etc, a proporção é de um psicopata para cada vinte e cinco pessoas. Segundo Ana Beatriz Barbosa Silva, os psicopatas “transitam tranqüilamente pelas ruas, cruzam nossos caminhos, frequentam as mesmas festas, dividem o mesmo teto, dormem na mesma cama...”.

E Ana Beatriz acrescenta que “apesar de mais de vinte anos de profissão, ainda fico muito surpresa e sensibilizada com a quantidade de pacientes que me procuram totalmente em frangalhos, com suas vidas arruinadas, alvejadas por esses ‘seres bípedes’ que sugam o nosso sangue e vampirizam a nossa alma”, ressaltando, ainda, que “os psicopatas possuem níveis variados de maldade: leve, moderado e severo”. Neste caso, ela faz uma ressalva, como escrevi na referida postagem: “A de que nem todos os psicopatas são assassinos, mas apenas aqueles cujo transtorno de personalidade é diagnosticado severo. E, aí, dependendo da situação, eles não hesitam em matar. E sem arrependimento”. Enfim! Na mesma postagem, ainda, a psiquiatra dá dicas que podem ajudar na identificação de um psicopata.

O problema, contudo – prossigo –, é que “se já não é fácil reconhecer de cara um psicopata, o que dirá, no caso de reconhecer um, ter nem que seja uma vaga idéia do grau da sua maldade, até onde o seu transtorno psicológico pode conduzi-lo. De qualquer modo, a psiquiatra adverte que não importa a variação do grau da maldade de um psicopata, visto que, por possuírem um talento nato para a mentira, a trapaça e a manipulação, ‘todos, invariavelmente, deixam marcas de destruição por onde passam, sem piedade’. Afinal, por serem, de natureza, frios e calculistas, transgredindo regras morais e sociais a 3x4, sempre focados em seu próprio universo e desprovidos de sentimentos de compaixão e arrependimento, os psicopatas são potencialmente capazes de, a seu bel prazer, arruinar empresas e famílias, provocar intrigas, destruir sonhos e até vidas...”.

O psiquiatra Robert Hare, por sua vez, afirmou que “os psicopatas têm total ciência dos seus atos”, sendo o seu cognitivo ou racional perfeito: “Eles sabem perfeitamente que estão infringindo regras sociais e por que estão fazendo”. Afinal, o déficit dos psicopatas diz respeito ao “campo dos afetos e das emoções”, não ao da razão. Assim, “para eles, tanto faz ferir, maltratar ou até matar alguém que atravessa o seu caminho ou os seus interesses, mesmo que esse alguém faça parte de seu convívio íntimo”. Em sua opinião, “esses comportamentos desprezíveis são resultados de uma escolha exercida de forma livre” e sem qualquer culpa. Porém, no quesito sentimentos, os psicopatas “são absolutamente deficitários e pobres de afeto e de profundidade emocional”.

Para a escritora e novelista brasileira Glória Perez, que assinou o prefácio de Mentes perigosas... Por nos fazer “descobrir que estamos sempre correndo o risco de ser a próxima vitima”, o livro é “perturbador”, embora nos ofereça armas para que possamos reconhecer os psicopatas, nos defender e nos afastar, já que a incapacidade dessas pessoas de sentirem empatia pelo outro é, segundo ela, a prova da sua anormalidade: “Psicopata não tem semelhante”, disse. “Não?” – questionei. “Nem que esse semelhante, digamos, seja outro psicopata? Bom! Sei que os que estão dentro dos ditos padrões de normalidade são vítimas em potencial de psicopatas. (...) Enfim! Sem querer defendê-los, os psicopatas, por sua vez, como atestam os próprios psiquiatras, também são vítimas. No caso, da psicopatia – um erro de fábrica...”.

Nathalie Bernardo da Câmara



2 comentários:

  1. ESSA MATERIA É MUITO INTERESSANTE , E PERTUBADORA?

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  2. Não é interesse meu q esta seja a terceira postagem mais lida do meu blog desde q o criei, em 2009. Isso sem falar q a mesma nem tem um ano de publicada... Ocorre q o problema existe. É real. E acho q se tem muita gente lendo é pq tem muito psicopata solto por aí. Cabe aos ditos normais, portanto, mantê-los à distância...

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