segunda-feira, 8 de agosto de 2011

AS PESSOAS PERDERAM A NOÇÃO...


“O caminho do homem tolo é difícil e sinuoso...”.

Aucenir Gouveia
Poeta brasileiro




No dia 03 de agosto de 2011, a jornalista brasileira Ruth de Aquino publicou em sua coluna Nossa Antena, na revista Época, acerca de uma dada epidemia. Seria a da dengue? Muitos poderiam pensar. Não. Longe disso... Por mais incrível que possa parecer, são os acidentes de trânsito, que degolam um. Vejamos o referido texto...




Uma epidemia que mata 100 por dia
Por Ruth de Aquino




“A causa não é fome, guerra, vírus ou bactéria. Uma vida se perde a cada 15 minutos em acidentes de trânsito no Brasil. Olhe seu relógio e pense: “100 brasileiros morrem a cada 24 horas em ferragens, no asfalto e na calçada”. Por ano, são 36 mil – no cálculo mais conservador. Esses são os mortos. Sem contar os amputados e paraplégicos. Motoristas, passageiros, pedestres, ciclistas, motociclistas. Eu sei, você sabe. E quem dirige carros potentes, alcoolizado e a 150 quilômetros por hora também sabe.

Desastres recentes, no Estado de São Paulo, envolveram gente de muita grana e na idade mais perigosa segundo as estatísticas da violência sobre rodas: entre 20 e 30 anos.

A nutricionista Gabriella Guerrero Pereira, de 28 anos, perdeu o controle do Land Rover blindado e atropelou na calçada o administrador Vítor Gurman, de 24, na Rua Natingui, na Vila Madalena, bairro com bares e restaurantes lotados à noite. Gabriella deu entrevista, chorou, disse que assumiu a direção do carro “robusto mas instável” porque o namorado estava bêbado. “A rua é muito estreita para a proporção do carro. O acidente aconteceu”, disse ela. Gabriella não fez exame de bafômetro “porque o PM não pediu”. O PM desmentiu. Disse que ela se recusou. Vítor morreu dias depois do atropelamento.

O engenheiro Marcelo Malvio Alvez de Lima, de 36 anos, dirigia um Porsche na Rua Tabapuã, no bairro Itaim Bibi. Num cruzamento, chocou-se com o Tucson da advogada Carolina Menezes Cintra Santos, de 28 anos. Carolina tinha cometido um erro: ela passava o sinal vermelho lentamente, quando foi atingida pelo Porsche de Marcelo. O engenheiro foi acusado de estar a 150 quilômetros por hora, numa rua que permite velocidade máxima de 60 quilômetros por hora. Ele nega. “Não sou bandido”, disse, em entrevista. Tinha bebido, segundo ele, “não mais do que duas taças de vinho”. Não gostou de ficar conhecido como o “dono do Porsche”. Sobre o desastre, afirmou: “Aconteceu um acidente, ela faleceu, com certeza isso estava nos planos de Deus”. Marcelo pagou R$ 300 mil de fiança. Carolina morreu no instante da colisão.

O administrador João Luís Raiza Filho, de 30 anos, perdeu o controle de seu Chevrolet Camaro, subiu no canteiro de uma praça em São Bernardo do Campo, bateu em árvores e derrubou um muro. Como estava nu da cintura para baixo, um PM precisou emprestar a ele uma cueca para sair do carro. No banco ao lado do motorista, havia uma garrafa vazia de uísque. Raiza Filho já foi personagem de “Nossa Antena”. Em outubro de 2007, o playboy, então com 27 anos, destruiu sua Ferrari na véspera do GP de Fórmula 1 em São Paulo. Bateu sob um viaduto. Deu cabeçada na boca de um cinegrafista. Teve de pagar R$ 3 mil pela agressão. Há quatro anos, esta coluna dizia o seguinte: “Numa sociedade em que nossos atos têm consequência, esse rapaz seria condenado a prestar serviços à comunidade. Se seu castigo for apenas trocar uma Ferrari por um Mercedes, nada mudará em sua vida”. E não mudou mesmo. Errei na marca do novo carro.

Raiza Filho não matou ninguém ainda. Mas é evidente que ele e milhões de motoristas são um perigo real para si e para a sociedade. Pilotam estimulados por álcool, deprimidos por drogas ou excitados pela sensação de onipotência. Ainda há os que simplesmente não sabem dirigir e não poderiam ter carteira de habilitação. Temos ao volante um exército de homicidas e suicidas em potencial. O trânsito brasileiro mata 2,5 vezes mais que nos Estados Unidos e 3,7 vezes mais que na Europa, segundo um estudo divulgado em dezembro de 2009.

“Não é possível que haja no Brasil muitos problemas mais graves do que 100 mortos em acidentes a cada dia.” A declaração é do diretor-geral de trânsito na Espanha, Pere Navarro Olivella, de 59 anos. A Espanha reduziu em 57% as mortes nas estradas. Não basta educar, é preciso vigiar e punir. As campanhas devem ser duras, segundo ele: “Ridicularizar infratores reincidentes, mostrar deficientes e crianças acidentadas na TV”. Acidente de trânsito “não é maldição divina e deve ser combatido como doença grave”, disse Olivella. Chega de culpar o destino e Deus. 



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No dia 23 de julho de 2010, eu publiquei neste blog uma postagem sobre o assunto, intitulada:





Lombada neles!


“O erro é a regra: a verdade é o acidente do erro...”.

Georges Duhamel (1884 - 1966)
Escritor francês




Confesso que não vi, porque o círculo de gente que estava ao redor não o permitiu, mas que alguém ou um corpo estava estendido no chão, como diz a canção, em pleno asfalto, entre uma faixa e outra, estava. Não tinha foto de gol, reza ou praga, nem, muito menos, um silêncio servindo de amém. Não tinha bar por perto, por isso não podia lotar. Não sei se o alguém ou o corpo era malandro ou trabalhador. Não houve discurso nem camelô vendeu coisa alguma. Tinha de um tudo, menos baiana para fazer pastel e um bom churrasco de gato. Não eram quatro horas da manhã nem nenhum santo baixou no porta-bandeira e ninguém tinha pressa de sair de perto para pensar em mulher ou time. Olhei de longe e atravessei a rua, deixando alguém ou um corpo para trás, estendido no chão. Fui embora...

Lembrei do fato descrito acima, que ocorreu, aliás, em junho de 2009, após a leitura do artigo A Punição sem educação, do ex-reitor da Universidade Estadual de Londrina, professor Wilmar Marçal, postado outro dia neste blog. Assim, como, à época, eu cheguei a fazer algumas anotações sobre o ocorrido, peguei a deixa do artigo do ex-reitor e busquei as tais informações em meus arquivos a fim de revê-las. O acidente, portanto, mencionado no primeiro parágrafo, tem sido, apenas, mais um de uma série incontável, de toda ordem, na rua Jaguarari, uma das principais vias de escoamento da cidade de Natal, que, por diversos motivos, não dá mais vazão à demanda de veículos que por ela trafega diariamente. O que é pior: os motoristas parecem incorporados pelo espírito de Airton Senna (1960 - 1994) ou o de algum kamikaze qualquer.









Sem falar nos que dirigem alcoolizados e nos que, por natureza ou circunstancialmente, desenvolvem instintos assassinos ou suicidas. E isso todos os dias. São colisões, atropelamentos etc. O trecho, por exemplo, onde alguém ou um corpo estava estendido no chão, é um dos mais perigosos da via, sobretudo se o motorista incauto vem das bandas do bairro de Candelária. Pensando que está em um autódromo, ele sai em disparada e, se pegar todos os sinais abertos, melhor ainda, devendo quem quiser escapar ileso, ficar longe do caminho do infeliz. É, infelizmente, as ocorrências não são poucas... A solução? Lombadas de betume, areia e brita. O velho quebra-molas, sim, embora muitos o tenham como ultrapassado. Não, os quebra-molas não estão ultrapassados. Ao contrário!








As lombadas talvez sejam a única solução para coibir certos abusos. Sim, porque, se mesmo colocando lombadas eletrônicas ou pardais, infrações são cometidas e a cobrança da multa chega, mas, logo, muitos dos infratores ou tentam subornar um funcionário do Departamento de Trânsito - Detran, para que ele libere-os da punição, ou liga para um amigo político, no caso de terem algum, e o dito cujo, por sua vez, por amizade ou já tendo em vista as eleições seguintes, também basta recorrer ao telefone para, não importa como, liquidar a dívida que lhe foi notificada, dando um jeitinho. E essa prática corrupta de há muito se tornou lugar-comum, não fazendo diferença alguma o lugar do Brasil onde ela ocorra. Em Brasília, por exemplo, solo capital, nem se fala! Com as suas vias largas, é um deus nos acuda.

Daí insistir nos considerados ultrapassados quebra-molas. E digo isso porque, eu mesma, já fui, e por diversas vezes, atemorizada por veículos conduzidos por insanos, que, por pouco, não me atropelaram. E isso é sério! Tanto que, dias após o acidente mencionado no início deste post, eu estava com um amigo quando encontrei três policiais em um posto de gasolina das redondezas onde o fato aconteceu. O meu amigo, indignado, comentou com os policiais sobre a balbúrdia do trânsito e pediu providências, reivindicando quebra-molas entre um sinal e outro da rua Jaguarari, coibindo, assim, que os motoristas acelerassem mais do que o permitido entre um e outro. Um dos policiais, contudo, no auge da estupidez, foi enfático ao dizer que era contra quebra-molas porque eles danificavam o seu carro.

Sei não, mas, quando me deparo com posturas como essa, fico a pensar nos critérios exigidos para que uma pessoa seja capaz e esteja apta para assumir não importa qual cargo ou função. No caso, a capacidade e a aptidão para vestir uma farda, representando uma força policial que, por sua vez, representa o terceiro poder, que, muitas vezes, indiscutivelmente, abriga uma moral extremamente duvidosa, sem preparo algum, já que, às vezes, nem cumpre devidamente as suas obrigações, que são as de proteger o cidadão. Certas vezes, é até conivente com os abusos e as infrações cometidas por gente sem a menor condição nem de tirar uma carteira de motorista, analfabeta no trânsito que é. Daí reivindicar: quebra-molas, sim! E mais ética para certos policiais que não fazem jus à função que exercem.


Final dos textos e início, para os de bom senso, de reflexões sobre o tema abordado.


Nathalie Bernardo da Câmara



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