domingo, 20 de fevereiro de 2011

HOMBRES ARMADOS


“Não há nada tão terrível como a ignorância ativa...”.

Goethe (1749 - 1832)
Escritor alemão



Outro dia, casualmente, revi o filme Hombres armados, do cineasta norte-americano John Sayles, lançado em 1997, cuja ação desenrola-se em um país imaginário da América do Sul, cenário do drama do protagonista, um médico viúvo, o doutor Fuentes, interpretado pelo ator argentino Federico Luppi, que, de férias, sai em busca de antigos alunos de medicina, tempos antes enviados a vilas rurais no interior do país não especificado, a fim de aplicar os conhecimentos terapêuticos adquiridos para a cura de mazelas de populações mais necessitadas. O fato é que, forte e comovente, o filme denuncia uma realidade que, infelizmente, é lugar-comum em várias regiões da América do Sul, onde tiranos de não importa qual orientação política, vivem em constante estado de guerra, desencadeando conflitos os mais diversos e espalhando terror e morte por toda parte, sem clemência alguma.

Aventurando-se, portanto, em recônditos inóspitos do país imaginário onde vive, cuja realidade, contudo, até então, ignorava, o médico segue os rastros dos seus ex-alunos, mas, a cada vila que visita, ele é informado dos seus respectivos assassinatos, causados por insanos armados, no caso, os guerrilheiros, que vivem a trocar balas com os soldados da milícia nacional, invariavelmente, inclusive, alvejando civis inocentes, vítimas de uma violência brutal. E isso porque, em nome de uma causa que dizem defender, os guerrilheiros, por exemplo, não abrem mão da luta armada, menosprezando a palavra para se chegar a um entendimento pacífico com os seus adversários. O pior de tudo é que esses soldados não poupam sequer as crianças, muitas vezes recrutadas para as suas fileiras, onde elas passam a brincar com armas, que são obrigadas a usar – para matar –, soterrando, de vez, a sua infância.

Estarrecedor o drama, nada imaginário, que o diretor John Sayles retrata no filme Hombres armados, mais parecendo um documentário do que uma ficção. Afinal, a esquizofrenia dos instintos violentos anda por toda parte, sempre tão atual e deplorável, a mover um sem fim de pessoas – e isso em qualquer parte do mundo –, que não abrem mão da violência como a única forma de, arrogantemente, conseguir o que se quer, alimentando guerras e tiranias motivadas sejam por interesses econômicos, religiosos ou afins. Não importa! No fundo, quase todos buscam o controle por um poder idiota, que, aliás, produz tentáculos que matam mais do que doenças tropicais, do que a miséria e a desnutrição – e ai de quem se opor a esse surto coletivo! Sem falar que gente assim despreza e debocha de quem repudia a violência, mas apenas porque preza pelo diálogo e pelo entendimento pacífico para alcançar os seus objetivos. Gente assim desconhece, ainda, a força da delicadeza...


Nathalie Bernardo da Câmara


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