sexta-feira, 1 de abril de 2011

LÁ VEM ASSOMBRAÇÃO...

“Acho que se tem um país que não tem problemas é o Brasil...”.

Lula

Ex-presidente da Terra dos Papagaios


Nesta terça-feira, 29, na Assembléia da República, em Lisboa, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, das mãos do presidente português Cavaco Silva, o Prêmio Norte-Sul, atribuído pelo Centro Norte-Sul do Conselho da Europa que, anualmente, de acordo com a Gazeta de Coimbra, distingue personalidades as mais diversas, embora, por suas ações e exemplos, contribuam “para a promoção da solidariedade e interdependência mundiais”. No caso de Lula, a sua escolha deu-se pelo fato de que, quando presidente, ele teria conduzido “uma política externa apostada em promover à escala mundial a luta contra a pobreza, o desenvolvimento econômico e a igualdade social”. Para ele, Lula, em seu discurso à ocasião do evento, “o mundo não pode tolerar a violência contra as pessoas, a violação de seus direitos vitais inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos”, proclamada pela Organização das Nações Unidas - ONU em 1948, embora, ainda hoje, existam países que não a respeitam. Segundo o ex-presidente brasileiro, “a paz que desejamos só será completa e duradoura se forjarmos uma ordem econômica internacional menos desigual e excludente”, afirmou.


Na quarta, contudo, foi a vez de Coimbra, conhecida como a capital do saber português, se tornar palco de outra homenagem a Lula, prestigiado com o título de doutor honoris causa pela Faculdade de Direito da renomada Universidade de Portugal, criada em 1290 e a terceira mais antiga da Europa, cumprindo, assim, com a “tradição” da instituição em homenagear chefes de Estado brasileiros. Segundo o jornal Diário de Coimbra, o primeiro dos presidentes do Brasil a receber o título pela Faculdade de Direito, criada em 1911, foi Café Filho (1899 - 1970), em 1955, Juscelino Kubitschek (1902 - 1976), em 1960; Tancredo Neves (1910 - 1985), em 1985; José Sarney, em 1986, e Fernando Henrique Cardoso, em 1995, o único, aliás, do panteão tupiniquim, a ser laureado pela Faculdade de Economia da referida universidade, “que assim quis realçar a sua faceta de cientista social”. Fernando Collor de Mello, por sua vez, eleito em 1990 e deposto em 1992, e o vice Itamar Franco, que, com o impeachment do titular, assumiu interinamente o poder, governando até 1995, foram as exceções de presidentes brasileiros eleitos após a ditadura militar (1964 - 1985) no Brasil que ficaram de fora da alardeada homenagem.


Para o diretor da Faculdade de Direito de Coimbra, Santos Justo, a ligação entre os dois países explica as homenagens de Portugal aos presidentes do Brasil e “ao povo brasileiro, que é irmão”, disse. Segundo nota da Universidade de Coimbra, o título de doutor honoris causa foi proposto a Lula em reconhecimento ao seu “prestígio internacional”, à atenção que ele tem dedicado “aos grandes problemas do mundo e a sua influência na preservação da amizade que une Portugal e o Brasil”. O que se sabe, contudo, segundo a Gazeta de Coimbra, é que, em tempos remotos, a honraria seria “inimaginável para um operário pobre e pouco instruído”, se referindo a Lula, cujos méritos, entretanto, foram elogiados pelo catedrático José Joaquim Gomes Canotilho durante a cerimônia da entrega do título ao ex-presidente na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e na qual estiveram presentes os presidentes de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, e do Brasil, Dilma Rousseff, bem como o ex-primeiro-ministro português José Sócrates e dezenas de estudantes brasileiros. À ocasião, Canotilho destacou, ainda, a trajetória de Lula após o início da sua carreira política como sindicalista até ele se tornar “um estadista global”.




Doutor Lula da Silva


“A vaidade se abate e entristece quando lhe falta a lisonja...”.

Jaime Balmes (1810 – 1848)

Filósofo e teólogo espanhol

Vaidoso que só ele, ainda mais com um anel de ouro com uma pedra de rubi cor de sangue de pombo – alusão as insígnias vermelhas do Direito –, símbolo do título, no dedo, Lula disse que a homenagem que estava recebendo não teria sido possível “sem a colaboração generosa e leal daquele que foi meu parceiro de todas as horas”, se referindo ao seu ex-vice-presidente, o empresário José Alencar, falecido um dia antes, no Brasil, após uma luta de quase quinze anos contra um câncer. E foi a Alencar, bem como ao povo brasileiro, que, visivelmente emocionado, Lula dedicou o título recebido, acrescentando, ainda, que o seu ex-vice havia sido um dos homens mais íntegros que havia conhecido. Ele, sim, um inesquecível estadista, afirmou, mas, “que perdemos, para consternação de toda a sociedade brasileira” – mania antipática que as pessoas têm de generalizar tudo, arrogantemente falando em nome de outrem, quando, a bem da verdade, deveriam falar apenas por elas!


Afinal, sem querer desmerecer ninguém, como eu haveria, por exemplo, de ficar consternada com a perda de alguém se eu nem cheguei a conhecê-lo e, no caso, se tratando de um político, se nem mesmo cheguei a votar nele? Sem falar que a palavra consternação é muito forte, devendo, portanto, ser reservada aos íntimos. Enfim! Em seu discurso, Lula destacou, ainda, que, em seus oito anos de mandato, cerca de vinte e oito milhões de brasileiros saíram da pobreza e trinta e outros seis milhões passaram a integrar a classe média, ressaltando que “o povo brasileiro voltou a acreditar em si mesmo” e que “deixamos para trás um passado de frustrações”. Nossa! Quanta pretensão! Sim, como se ele fosse uma espécie de redentor do povo brasileiro ou, quiçá, um salvador qualquer de uma dada pátria. Sem falar que, de novo, houve generalização, já que, pelo menos – tendo como referência o resultado das eleições de 2010 –, cerca de 43% de brasileiros votantes continuam frustrados.


Falando nisso, la presidenta Dilma Rousseff por acaso pensa que Portugal fica logo ali, na esquina, a ponto de cancelar o encontro que teria a tarde, após a homenagem prestada a Lula na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, com o presidente de Portugal, Cavaco Silva, para descumprir uma pauta política previamente agendada, apenas porque resolveu antecipar o seu retorno ao Brasil para poder comparecer ao velório do ex-vice-presidente José Alencar? Não que eu tenha nada a ver com isso, mas, convenhamos... Tivesse ela, então, antecipado o seu encontro com o chefe de Estado português e cumprisse com a sua pauta. Depois, aí sim, ela poderia retornar ao Brasil e ainda chegaria a tempo de homenagear o morto. Ou la presidenta, antes de deixar o país do escritor José Saramago (1922 - 2010), já deixou marcada para a próxima semana uma nova reunião com Cavaco Silva? Afinal, Portugal é do lado! Basta atravessar o oceano Atlântico para chegar lá. É tão pertinho...


E é só mandar chamar o piloto, pegar o avião na garagem, arrebanhar uma nova comitiva, abrir os cofres públicos, garantindo o básico para as despesas previstas e as eventuais, e está resolvido. Bom! Independentemente das opiniões e práticas políticas que me diferenciam de Lula, se levarmos em consideração a História da Universidade de Coimbra e os critérios da instituição que determinam quem é merecedor do título de doutor honoris causa, convenhamos que a trajetória traçada pelo ex-presidente do Brasil em praticamente nada se assemelha as dos que, tradicionalmente, são galardoados pelo referido título. De origem humilde, privado da oportunidade de receber uma educação dita formal, Lula foi, paulatinamente, galgando os degraus que culminariam na tomada de posse, por dois mandatos consecutivos, do mais alto cargo político do seu país, sendo a sua atuação à frente do comando do Brasil, inclusive, reconhecida nacional e internacionalmente.


Em 2010, por exemplo, o Fórum Econômico Mundial, reunido em Davos, na Suíça, concedeu a Lula, por seu empenho na luta a favor do meio ambiente, da erradicação da pobreza, da redistribuição de riqueza e de demais ações sociais, a distinção inédita de Estadista Global. A ONU, por sua vez, igualmente não hesitou quando, também em 2010, condecorou o então presidente do Brasil com o Prêmio Campeão do Mundo na Batalha Contra a Fome, enquanto a revista Times o elegeu o homem mais influente da atualidade por “mudar o mundo no início do séc. XXI ao dirigir o renascimento do seu país”. Em 2009, entretanto, Lula já havia sido considerado o Homem do ano pelo jornal francês Le Monde e pelo espanhol El País. No mesmo ano, o jornal britânico Financial Times, segundo informou o Diário de Coimbra, o considerou uma das cinqüenta pessoas “que moldaram a década pelo seu ‘charme e habilidade política’ e também por ser ‘o líder mais popular da História’ do Brasil”.


Em 2011, além de ter recebido, em janeiro, o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal de Viçosa - UFV, em Minas Gerais, “por sua permanente luta em defesa das causas sociais brasileiras”, segundo informou, o conselho superior da instituição, que decidiu pela homenagem, eis que, em março, um espectro paira no ar... De Moscou, segundo a Agência Efe de notícias, a Fundação Gorbachev promoveu, por ocasião do 80° aniversário de nascimento do ex-líder soviético, a primeira edição do Prêmio Mikhail Gorbachev, homenageando o ex-presidente na categoria Perestroika por sua contribuição “ao desenvolvimento da civilização global”. Dias depois, “por sua luta contra a pobreza e a exclusão social”, Lula foi contemplado com o 3° Prêmio Liberdade Cortes de Cádiz, na Espanha. É, olhando assim, as homenagens – parece – estão só começando! No que diz respeito ao título de doutor honoris causa de Coimbra, coisa que ainda atiça a cobiça de certos intelectuais...


Bom! Eu percebi que para prestigiar, pelo menos no que diz respeito aos presidentes brasileiros, com um grau honorífico que remonta há séculos, os critérios eleitos pela tão conceituada universidade de Coimbra se tornaram por demais ecléticos. Daí ser até compreensível Lula ter sido agraciado com o título em questão, ou, de repente, com qualquer outro que o valha, restando, para quem defende a democracia, respeitar a diversidade. E em todos os sentidos. Afinal, tudo é uma questão de ponto de vista, ainda mais se levarmos em consideração a relatividade dos conceitos. Porém, quando se costuma defender com veemência uma dada crença, que uma qualidade seja observada e mantida, ou seja, a coerência, coisa que não reconheço em Lula. E exemplos não faltam. Só que um deles diz respeito ao título considerado nobre. E concedido por Coimbra ao cara, como o cognominou o presidente norte-americano Barack Obama, a besta do mal – maldade herdada por DNA político.


Enfim, de novo! Em muitos dos seus discursos, ao longo de oito anos, até cansava ouvir Lula meter o pau em quem tinha curso de graduação e, o que é pior, em quem tinha pós-graduação. Se ele fosse, portanto, coerente, teria recusado a honraria, a exemplo de dom Manuel Edmilson da Cruz, bispo de Limoeiro do Norte, no Ceará, que, em dezembro de 2010, constrangeu os parlamentares brasileiros e deu um exemplo de coerência, sem falar no exemplo de cidadania, ao recusar a comenda de Direitos Humanos Dom Helder Câmara, mas apenas por achar que o reajuste salarial dos ditos poderes Executivo e Legislativo estava para lá de desproporcional se comparado ao reajuste do mínimo, alegando que, se recebesse o prêmio, estaria afrontando o povo brasileiro. Eu, particularmente, e não me joguem à fogueira por causa disso, não confio em Lula. E tenho dito. Ponto final, mesmo. Mas, deixemos tudo isso para lá, já que 1° de abril é o Dia da Mentira....



Nathalie Bernardo da Câmara

Um comentário:

  1. Agora me tire uma dúvida, Nathalie: O fato de Café Filho também ter recebido o titulo de "Doutor Honoris Causa" é verdadeiro mesmo ou é primeiro de abril?

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