sábado, 7 de julho de 2012

OS HOMENS DO MAR*

Cada vez mais limitado o espaço da comunidade pesqueira – Praia de Ponta Negra – Natal/RN – 1989 – Foto: Nathalie Bernardo da Câmara.
“Não tem nada igual à sabedoria de pescador...”.

Luiz Ignácio Maranhão Filho (1921 - 1974)
Jornalista, advogado, professor e político brasileiro, natural de Natal, no Rio Grande do Norte, que, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi perseguido, preso, brutalmente torturado e assassinado nos porões da ditadura militar no Brasil (1964 - 1985). O destino dado ao seu corpo, inclusive, permanece uma incógnita. Idealista e romântico, além de demais predicados, era um poeta, mesmo não tendo publicado sequer um livro de poemas, sendo o mar, com os seus encantos e mistérios, uma das suas paixões.


Hoje, primeiro sábado de julho, quando é comemorado o Dia Internacional do Cooperativismo, instituído no Congresso da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) em 1923, além do fato de a Organização das Nações Unidas (ONU) ter proclamado 2012 o Ano Internacional das Cooperativas, republico não somente a fotografia, mas igualmente o poema, originalmente postados no Dia Nacional do Pescador deste ano, ou seja, 29 de junho – data instituída por lei federal em 2009 –, apenas para registrar que, após ser eleito deputado estadual em 1956, Luiz Maranhão foi o fundador da primeira cooperativa de pescadores de Natal, a Cooperativa de Pescadores do Bairro Santo Reis. À ocasião, contudo, ele convidou para assumir a presidência da entidade o educador e escritor norte-rio-grandense Moacyr de Góes (1930 - 2009), idealizador, por sua vez, da campanha de alfabetização popular De pé no chão também se aprende a ler, inspirada no método de ensino dialético elaborado pelo pedagogo brasileiro Paulo Freire (1921 - 1997) – campanha essa, inclusive, posta em prática de fevereiro de 1961 a abril de 1964, no Rio Grande do Norte, quando Moacyr exerceu o cargo de secretário de Educação do município de Natal, cujo prefeito era o jornalista e também educador Djalma Maranhão (1915 - 1971), irmão de Luiz, confesso apaixonado pelo mar. Desse modo, dedico o poema abaixo ao autor do verso que fiz de epígrafe, que, aliás, fez-me lembrar da antiga fotografia, na qual se pode remarcar que, já há vinte e poucos anos, a especulação imobiliária, no caso, a serviço do turismo – ambos promovidos para fins escusos –, era um prenúncio do desmantelo do qual foram vítimas não somente os pescadores, mas todos aqueles que, de uma forma ou de outra, desfrutavam da paisagem natural do local – de há muito um antro de prostituição (várias!) – sem intenções predatórias.
 
 
DOS HOMENS DO MAR

Hora incerta a pesca no mar...
O tempo é quem dita as normas
do pescador embarcar.
E os peixes seguem uma rota
que não se deve mudar.
É aventura na certa,
não carecendo apostar.
Calmaria ou vendaval,
cabe a quem pesca aprumar.
Se mar revolto ou de conforto,
o pescador sabe enfrentar.
É a bússola, o farol,
a estrela que o guia no mar.
E entre ondas que vão e vêm,
a paciência o faz pensar.
Não nas avarias do tempo,
mas no deleite de navegar.
E quando a hora certa chega,
coleta os frutos do seu mar.
Garantir uma mesa farta,
faz o pescador retornar
- sem falar no excedente
para comercializar. 
Uns gostam de causos; outros não,
mas todos têm o que contar.
Só não têm mais a terra-firme
onde possam desembarcar.
É quando se lança a âncora,
guardando os segredos dos homens do mar.

Nathalie
 
 
*Título homônimo, digamos que pescado, de um artigo publicado por Luiz Maranhão no jornal Diário de Natal (24/08/1957) e reproduzido no livro Luiz, o santo ateu, da jornalista, escritora, teatróloga, feminista e política brasileira Heloneida Studart (1932 - 2007), natural de Fortaleza, Ceará.

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