sábado, 28 de julho de 2012

O IMPASSE ENTRE CUBA E EUA: ATÉ QUANDO?

“Quase sempre minorias criativas e dedicadas transformam o mundo num lugar melhor...”.

Martin Luther King (1929 - 1968)
Sociólogo e ativista político norte-americano – este sim merecedor do Prêmio Nobel da Paz (1964).


Todos cruzam os braços e ninguém poda, ou melhor, não questiona, reage nem combate a política externa dos Estados Unidos, muito menos revisa, corrige e pontua coerentemente os disparates e as incongruências dos discursos do presidente Barack Obama, que, do alto do seu pedestal, que infelizmente não é de barro, não tem autoridade moral nem direito de julgar quem quer que o seja, muito menos a política interna ou externa de não importa quais países, ganhando ainda, indevidamente, um Prêmio Nobel da Paz. Na quinta-feira, 26, em discurso proferido durante as comemorações de data histórica para Cuba realizado na cidade de Guantánamo, perto da base naval mantida na ilha pelos EUA, o presidente Raúl Castro reiterou a disposição do governo cubano de dialogar em pé de igualdade com o governo norte-americano. Porém, o bloqueio econômico total imposto a Cuba há meio século pelo então presidente dos EUA, John F. Kennedy (1917 - 1963), e a intransigência de Obama são os maiores empecilhos para a realização de um encontro que, se ocorrer, já promete ser histórico. Tal disposição, portanto, do governo cubano, manifestada anteriormente pelo ex-presidente Fidel Castro e pelo próprio Raúl Castro, assumiu, agora, feições de uma iniciativa. De qualquer modo, apesar dos ares cubanos serem favoráveis a um diálogo entre os dois países, Raúl Castro acusou o governo norte-americano de querer a derrubada do regime comunista de Cuba, podendo vir a tentar fazer com o país o que tem feito com os árabes. Isso sem falar que outro tema de divergência entre os dois países foi trazido à tona pelo vice-presidente cubano José Ramón Machado Ventura antes do discurso de Raúl Castro, ou seja, a presença da base naval dos EUA em Guantánamo, instalada mediante acordo firmado em 1903, após a independência de Cuba da Espanha. Para José Ramón Machado Ventura, o governo norte-americano viola direitos internacionais insistindo em manter a instalação militar em território cubano. E Raúl Castro deixou claro: o diálogo entre os dois países deve ser pautado pela paridade dos direitos, adiantando que Cuba não se curvará cordatamente as propostas do governo norte-americano.

— Se querem discutir os problemas da democracia, como eles dizem, a liberdade de imprensa, os direitos humanos e as histórias inventadas nos últimos anos a respeito de Cuba, vamos discutir, mas em igualdade de condições, porque não somos submissos nem somos colônia de ninguém. E vamos discutir os mesmos temas a respeito dos Estados Unidos...

O presidente norte-americano, por sua vez, intransigente como os seus antecessores, insiste em não ceder. Para Obama, antes de qualquer possibilidade de diálogo, que poderia vir a firmar eventuais acordos entre os dois países, o governo de Raúl Castro deve implementar reformas democráticas e humanitárias em Cuba. De fato, a situação é deveras preocupante. Afinal, com esse discurso defensivo, entranhado de pré-julgamentos e com a ganância e o ego circulando livremente nas suas veias, Obama em momento algum reconhece – nem irá reconhecer – que quem deve fazer o dever de casa são os EUA, cuja política externa, predatória e genocida de natureza, considera lucro tudo o que captura quando, criminosamente, lança a rede em não importa qual estação. Tanto é que, quando ainda era pré-candidato a presidente pelo Partido Democrata – só no nome –, o senador Obama proferiu um discurso em Miami dizendo as seguintes palavras:

— Durante a minha vida houve injustiça e repressão em Cuba e nunca durante a minha vida o povo [cubano] conheceu a verdadeira liberdade. Nunca na vida de duas gerações o povo de Cuba conheceu uma democracia. Não vimos eleições durante 50 anos. Nós não vamos dar suporte a essas injustiças. Juntos, vamos buscar a liberdade para Cuba. Essa é a minha palavra, esse é o meu compromisso. É hora de o dinheiro estadunidense fazer com que o povo cubano seja menos dependente do regime de Castro. Vou manter o embargo.

No final, até que rimou... Ocorre que, à época, no dia 25 de maio de 2008, refletindo sobre o discurso do pré-candidato à presidência dos EUA, o então presidente cubano Fidel Castro publicou o artigo A Política cínica do império, no qual diz que, antes de julgar Cuba, Obama deveria visitar e conhecer o país em questão, embora ressalte que o discurso do pré-candidato poderia ser traduzido como uma fórmula de fome, as remessas de dólar como esmolas e as visitas a Cuba como propaganda do consumismo, sustentado, a seu ver, por um modo de vida insustentável. Fidel Castro disse, ainda, que o conteúdo das palavras do referido discurso o eximia da necessidade de explicar o que o levava a refletir sobre o mesmo, reportando-se, por exemplo, num dado momento, a um antigo episódio:

— O próprio José Hernández, um dos diretores da Fundação Cubano-Americana ao que Obama elogia em seu discurso, era o proprietário do fuzil automático de calibre 50, mira telescópica e raios infravermelho capturado por acaso junto a outras armas mortíferas, durante seu transporte por mar para a Venezuela, onde a Fundação planejou assassinar a quem escreve estas linhas, em uma reunião internacional que ocorreu em Margarita, estado venezuelano de Nueva Esparta.

E quando Obama diz que os EUA não podem aceitar “a globalização dos estômagos vazios” no hemisfério em que se encontram, defendendo a intervenção norte-americana para debelar a fome, a doença e o desespero, Fidel Castro ironiza, com toda razão, alegando que todos deveriam, então, agradecer aos EUA por essa situação de penúria, que, na verdade, seria fruto da sua política imperialista. Esclarecedor, Fidel Castro diz ainda que, quando Obama “atribui à revolução cubana um caráter antidemocrático e carente de respeito à liberdade e aos direitos humanos”, o seu discurso reproduz exatamente “o argumento que, quase sem exceção, foi utilizado pelos governantes dos Estados Unidos para justificar os seus crimes” contra Cuba, acrescentando:

— O bloqueio mesmo, por si só, é genocida. Não desejo que as crianças norte-americanas sejam educadas nessa vergonhosa ética. A revolução armada em nosso país não teria sido talvez necessária sem a intervenção militar [dos EUA], a Emenda Platt e o colonialismo econômico que esta trouxe à ilha. A Revolução foi produto do domínio imperial. Não podem nos acusar de tê-la imposto. As verdadeiras mudanças poderiam e deveriam originar-se nos Estados Unidos.

Afirmando que as acusações de Obama são um insulto ao povo cubano, Fidel Castro vai mais além, dizendo que os programas de educação, saúde, esportes, cultura e ciências, aplicados de Cuba “não apenas em seu próprio território senão também em outros países pobres do mundo, e o sangue derramado em solidariedade a outros povos, apesar do bloqueio econômico e financeiro e as agressões de seu poderoso país [EUA], constitui uma prova de que se pode fazer muito com muito pouco. Nem à nossa melhor aliada, a URSS, foi-lhe permitido traçar nosso destino”. Para o líder cubano, o governo de Cuba é capaz de “convocar dezenas de milhares de médicos e técnicos da saúde; pode igualmente convocar de forma massiva professores e cidadãos dispostos a marchar a qualquer rincão do mundo para qualquer propósito nobre; não para usurpar direitos nem conquistar matérias primas” de terceiros, diferentemente dos EUA que, para cooperar com outros países “só podem enviar profissionais vinculados à disciplina militar”. E, de fato, é o que estamos acostumados a ver. Além do mais, como bem o disse Fidel Castro:

— Na boa vontade e disposição das pessoas há infinitos recursos que não se guardam nem cabem nas abóbadas de um banco. Não emanam da política cínica de um império.

Ora, para um país onde o direito ao porte de arma pela população civil é garantido por sua própria contituição, como é o caso dos EUA, é até compreesível que aqueles que de há muito o governam sintam-se igualmente livres para manifestar os seus instintos assassinos, focando esses mesmos instintos nos países alheios, onde, aplicando a sua política intervencionista, fomentam e incrementam guerras que não levam ninguém a nada nem a lugar nenhum, e ainda se apropriam de bens que não lhes pertencem. Desse modo, que sejam pelo menos coerentes e, por exemplo, suprimam da bandeira norte-americana a cor branca, que, no caso, deveria simbolizar a pureza e a inocência, ou melhor, a paz – coisa rara, inclusive, diga-se de passagem, até mesmo nos filmes de ficção da indústria cinematográfica do país. O lamentável, contudo, é que muitos norte-americanos tenham de suportar políticos predadores e genocídias que, um após outro, plantam-se na presidência dos EUA. Afinal, eles não merecem. Ninguém merece...


No Brasil, o dia é do agricultor:

“Os agricultores são os heróis anônimos, os verdadeiros artífices do Brasil que deu certo...”.

Amélio Dall Agnol
Engenheiro agrônomo brasileiro.


No dia 28 de julho de 1960, em comemoração ao centenário do Ministério da Agricultura, o então presidente Juscelino Kubitschek (1902 - 1976) instituiu por decreto (nº 48.630) a data de hoje para homenagear os que se plantam na terra para ará-la, semeá-la e cultivá-la, produzindo alimentos, fibras, insumos e combustíveis para o país do agronegócio e campeão em produção sustentável, bem como para o mundo.


Tipo de cena que deixa brasileiro indignado!


Só que vamos continuar plantando, semeando, colhendo, mas não para entregar de bandeja as nossas riquezas a um qualquer...

Nathalie Bernardo da Câmara


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