Hoje, Dia Nacional do Escritor, acordei com o título acima tirando a minha criatividade do torpor, inspirando-me, já que, desde ontem, não sabia por onde começar uma postagem para homenagear todos aqueles que fazem da escrita o seu ofício de vida – para muitos, o leitmotiv do ato de viver – e, embora eu não seja afeita a esse tipo de reverência, tecer algumas palavras para registrar a data. Assim, como já conhecia a charge que ilustra o presente texto, guardada, aliás, no meu banco de imagens para usá-la sabe-se lá quando, pois tudo depende muito do contexto que se apresenta, desengavetei-a tão logo senti o estalar da ideia. Eis, portanto, a ocasião mais do que oportuna para não somente saudar todos os escritores, bem como recordar o saudoso escritor português que há pouco mais de dois anos optou por morar no reino encantado onde habitam as personagens dos seus livros, os depositários fiéis dessas mesmas personagens que, durante décadas, se firmaram como porta-vozes do seu criador. Afinal, é isso o que é um escritor, ou seja, um criador, já que dá vida as personagens que cria, as suas criaturas, e que povoam não somente o imaginário dos seus leitores, mas o seu próprio. Daí esta postagem, visto que em nada me agradava republicar, e pela terceira vez, outra que versa sobre a data comemorativa em questão, mesmo porque, pelo que pude perceber nos registros de acesso deste blog, o texto ao qual me refiro, provavelmente por causa do dia de hoje, já foi e continua sendo visitado, ou revisitado, ao longo desta semana.
Enfim! Não podemos reconhecer um escritor e merecê-lo apenas porque ele escreve aquilo que gostaríamos de ouvir ou de dizer e não sabemos como, mas pela qualidade da sua produção. Tanto que, certa feita, o escritor irlandês Oscar Wilder (1854 - 1900) ressaltou que “o que há são livros bem escritos ou mal escritos”. De fato! O teor dos livros, por sua vez, sejam eles ficcionais ou não, é, muitas vezes, posto em questão e, infelizmente, sofre algum tipo de censura, apesar disso ser repulsivo, já que o pensamento é livre e a sua expressão um direito a ser respeitado, tal qual a liberdade do leitor de ler ou não o que ele bem entender. Desse modo, se, de antemão, o leitor já sabe quais são as posições de um dado escritor sobre determinado tema e se as mesmas não se coadunam com as suas, apenas lhe despertando indignação e uma imensa vontade de se desfazer do veículo que as transmite, seja um livro, um jornal, uma televisão, um computador ou outro meio qualquer, ao mesmo tempo lhe instigando a desejar debater e polemizar – o que seria improfícuo –, ou mesmo chegando ao extremo de querer esfolar quem as defendem, o mais indicado, no caso, é não lê-los. Agora, se a compreensão do leitor for tolerante, nada impede que ele leia de tudo um pouco, até mesmo para se informar da diversidade de opiniões existentes, apesar de muitas serem divergentes entre si e de sabermos, é óbvio, que a sua atenção irá recair sobre as obras dos autores de sua predileção – acontece com a maioria dos leitores e é a coisa mais natural do mundo.
Um detalhe, contudo, todos os escritores têm em comum: eles escrevem, servindo o exemplo, igualmente, para as artes em geral. As curiosidades, entretanto, referentes aos escritores, embora nem todos considerem todas pertinentes, são muitas. Quando se diz, por exemplo, que, para escrever, os escritores dependem de tantos por cento de inspiração e outros tantos de transpiração, é verdade. O que varia, no caso, e de escritor para escritor, é o percentual da primeira, que vai motivá-lo a escrever, e o da segunda, que normalmente determina o afinco com o qual ele vai debruçar-se sobre a sua ideia e desenvolvê-la, moldá-la, modelá-la – percentual esse, aliás, que depende do grau do seu talento. A data de hoje, portanto, é simbólica. O dia do escritor? Todos – creio –, já que até no ócio, quando se permite cultivá-lo, ele tem ideias, está criando, sendo, provavelmente, o exemplo que mais se afina com a tese do ócio criativo difundida pelo filósofo italiano Domenico de Mais. O ócio em si, por sua vez, para a escritora britânica Virginia Woolf (1882 - 1941), possui as condições favoráveis para que as verdades submersas possam emergir – em 1929, Virginia Woolf publicou o ensaio literário Um teto todo seu, que trata do ofício de escrever. Porém, um fato não pode ser desprezado: os escritores, como todo ser humano, não estão isentos de equívocos e desconhecem faces de si mesmos. Como diria em um dos seus livros a psicanalista e escritora Julia Kristeva, nascida na Bulgária, mas radicada na França: a verdade é que somos estranhos a nós mesmos...
Nathalie Bernardo da Câmara
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