“É sem dúvida mais fácil enganar uma multidão do que um só homem...”.
Heródoto (484 – 420 a. C.)
Historiador grego
Não é à toa que, em Natal, capital do Rio Grande do Norte, a sede da Igreja Universal do Reino de Deus, por sua ostentação e cada vez mais angariando fiéis e dividendos, é chamada por boa parte da população local de Banco Central. Isso sem falar dos fortes rumores que garantem que, após encerrar o seu mandato, a prefeita da cidade, que se converteu à religião evangélica em 2011, irá abrir uma filial de uma Igreja mineira, sendo pastora da mesma, embora ela negue e ninguém também tem nada a ver com isso. De qualquer modo, faz sentido, já que, há pouco mais de um ano, como divulguei neste blog no dia 16 de julho, a prefeitura de Natal inaugurou um monumento à Bíblia numa das praias da cidade quando, a bem da verdade, apesar de o Brasil ser um país laico, permitindo a liberdade de cultos, está vedado o endosso do poder público a iniciativas de caráter religioso – não importa qual –, ainda mais quando essas iniciativas são patrocinadas com dinheiro do contribuinte. Enfim! A íntegra, portanto, da notícia, que tem lá sua pertinência, foi divulgada no dia 22 de julho com o título Tchau e benção: prefeita de Natal quer abrir uma igreja, no blog do jornalista brasileiro Felipe Patury, da revista Época:
“A prefeita de Natal, Micarla de Souza (PV-RN), enfrenta uma rejeição acachapante de 90% da população. Sem grandes perspectivas na política, ela faz planos para o ano que vem, quando não terá mais obrigações na prefeitura. Evangélica, pretende partir em retiro espiritual para Miami, onde quer recarregar as energias para tocar seu novo projeto: abrir uma sucursal da Igreja Batista da Lagoinha, de Belo Horizonte. Agora que perdeu a fé dos eleitores, ela decidiu virar pastora. Até que faz sentido. Os natalenses querem mesmo que Micarla vá com Deus…” – (Leonel Rocha).
Agora, resta apenas encontrar o rebanho para tocá-lo – coisa que, inclusive, é de uma antipatia sem precedentes, ou seja, a prática de arrebanhar fiéis. Afinal, quando se trata de evangélicos e de assédio, no caso, religioso, não tem para mais ninguém a dobradinha que não passa de um insulto para quem não comunga com as suas doutrinas. Exemplo? As abordagens em não importa qual a hora do dia ou da noite em também não importa qual o espaço, se público ou privado, de funcionários das mais diversas empresas evangélicas – as igrejas não passam de um lucrativo negócio (é fato!) –, na busca incessante da fé do outro. E não estou discriminando-os por falar assim não. Na verdade, são eles quem discriminam os que das suas confrarias não fazem parte, na maioria das vezes, inclusive, desrespeitando-os acintosamente. Tanto que, certa vez, andando numa alameda de um centro comercial de Brasília, onde existe uma dada Igreja evangélica que comprou o espaço físico de um antigo cinema da cidade – cinemas e teatros posuem instalações ideais para os seus rituais –, fui abordada insistentemente por um rapaz que queria porque queria que eu o acompanhasse até a sua congregação para que, em segurança, ele pudesse me passar a palavra de Deus. Ora, para aqueles que acreditam, nem hora nem lugar são prerrogativas para quem quer receber ou ouvir a palavra de Deus. Isso sem falar que estar “em segurança” também não é uma exigência para que isso possa vir a acontecer, dando a entender, portanto, que, naquele caso, o tipo de assédio era outro... Não deu outra! Diante de tamanha insistência, já que o rapaz praticamente plantou-se diante de mim, querendo evitar que eu me desvencilhasse e prosseguisse adiante – ele foi tão abusivo que, por segurar um dos meus braços com força, findou por me machucar –, fiz menção de chamar um policial militar que estava nas imediações. Afinal, não é essa a serventia da guarda policial do país, ainda mais depois do que ela tem feito nas escolas da rede pública de ensino do Rio de Janeiro, ou seja, proteger o cidadão, nem que essa proteção consista numa revista de cima a baixo, tornando-se a sua presença algo constrangedor, tal qual a do funcionário da empresa evangélica que nem me dei ao trabalho de querer saber qual era? Enfim! Pensam que o moço se importou? Pelo contrário! Aí é que ele soltou a matraca de vez – a ameaça de um perigo real deveria excitá-lo –, desatando a falar que eu era isso e aquilo apenas por me recusar ao diálogo – diálogo? – e insistiu no assédio. P da vida, eu o empurrei com vontade, tirando-o do meu caminho, e me dirigi ao policial, denunciando o ocorrido. Porém, quando olhei para trás, o infeliz tinha se acovardado e dado o fora – provavelmente porque tinha consciência de que a sua abordagem fora criminosa (de há muito não se respeita mais nem mesmo o nosso direito de ir e vir). A coisa é tão grave que esses parasitas estão por toda parte, igual praga de pardal, não hesitando em ultrapassar limites territoriais tipo faz a internet no seu universo sem fronteiras. É uma caninga! Tanto que, uma vez, nem flanando em Lisboa, no centro da capital portuguesa, escapei do assédio de um evangélico qualquer – obviamente que brasileiro –, da Igreja de nem vou dizer quem, pois a simples menção do seu nome já me deixa ultrajada. Enfim! Lembrei-me disso tudo porque, hoje, logo cedo, ao sair da fisioterapeuta, cujo consultório fica nas proximidades do já mencionado Banco Central, uma situação similar me aconteceu. Assim, como a charge acima já estava no meu banco de imagens, faltando apenas a oportunidade para usá-la, resolvi sentar e rapidinho tecer algumas linhas sobre essas, digamos, inconveniências, ressaltando, contudo, que respeito é bom e só não gosta quem não respeita nem a si mesmo. E que cada um cuide da sua própria vida que já está de bom tamanho! E isso vale, sem exceção, para todas as situações. Agora, se querem abusar, que o façam no seu terreiro, deixando os outros em paz.
Nathalie Bernardo da Câmara
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