segunda-feira, 20 de agosto de 2012

XEQUE NO REI

“Para o inferno com o seu perdão...”.

Teriam anunciado Nadezhda Tolokonnikova, 22, Yekaterina Samutsevich, 30, e Maria Alyokhina, 24, segundo Nikolai Polozov, advogado das integrantes da banda russa Pussy Riot, diante da possibilidade de um pedido de perdão do trio ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, alvo de um protesto político das artistas no dia 21 de fevereiro deste ano, durante a campanha eleitoral para a presidência da Rússia, que não queriam o seu eventual retorno ao Kremlin, que, aliás, deu-se no dia 7 de maio. O referido protesto, realizado no altar da principal catedral russa, a do Cristo Salvador de Moscou, resultou, na sexta-feira (17), na condenação das jovens a dois anos de prisão.


Se ainda candidato à presidência da Rússia, Putin fez valer a sua influência e poder, já que as três integrantes da banda musical Pussy Riot foram sumariamente presas tão logo foram identificadas, pois no protesto usavam uma espécie de capuz, ficando detidas por cinco meses antes mesmo do julgamento, novamente chefe de Estado, então, ele foi inclemente com as artistas, nada fazendo para evitar – pelo contrário! – a sua condenação e pena, embora elas tenham o direito de recorrer da sentença num prazo de dez dias. Irredutíveis, Putin e as demais autoridades russas não cederam sequer um milímetro nem mesmo diante dos apelos que ecoaram dos 4 cantos do planeta, sobretudo de organizações internacionais que defendem os direitos humanos para libertarem as jovens. Segundo a France Presse noticiou nesta segunda-feira (20), a polícia busca o paradeiro das demais integrantes da banda que participaram da “oração punk” contra o líder russo, que, por mais que exija, não ouvirá o pedido de perdão de Nadezhda, Yekaterina e Maria por seu ato de protesto. De acordo com a defesa, elas estão igualmente irredutíveis: “Nossas clientes não pedirão perdão”, disse Nikolai Polozov. O governo russo, por sua vez, como se já não bastasse o repúdio mundial e de boa parte da população civil do país contra a sua rigidez política no trato dessa questão, entre outras, obviamente, achou pouco e, hoje, informou que o ex-campeão mundial de xadrez, o também russo Garry Kasparov, foi interrogado pela polícia, que o acusa de ter mordido um agente. Detalhe: o suposto delito pelo qual, aliás, ele pode ser condenado a cinco anos de prisão, embora já tenha sido detido desde o momento da agressão da qual é acusado, teria ocorrido durante uma manifestação de apoio à banda Pussy Riot, diante do tribunal que condenava as suas integrantes, ou seja, Kasparov, que nega a acusação, faz oposição ao atual regime da Rússia. Para o ex-campeão mundial de xadrez, a acusação não tem fundamento e, no twitter, registrou:

— Se o policial machucou a mão quando me pegou pela cabeça, fico com pena.

Ao mesmo tempo, Kasparov acrescentou que apresentará uma denúncia por difamação e contra sua detenção, que considera injustificada. Isso sem faar que, além do enxadrista, cerca de 100 pessoas foram detidas na manifestação de protesto. É, uma energia estranha rola no ar, ainda mais quando soubemos, igualmente hoje, que o governo norte-americano teve o desplante de negar que não está perseguindo o jornalista australiano Julian Assange, desde o dia 19 de junho sob a proteção da Embaixada do equador em Londres, tendo oficialmente recebido asilo político do governo equatoriano na quinta-feira (16), embora o governo britânico insista em negar o salvo condutor necessário para que ele deixe o Reino Unido. Neste domingo (19), Assange discursou por dez minutos na sacada de uma janela na embaixada do Equador e repreendeu os EUA, pedindo que o país cessasse com a sua “caça as bruxas”. Enfim! Até quando o governo norte-americano vai teimar em querer fazer a opinião pública mundial de idiota, negando o que todos de há muito têm conhecimento, que é a sua política intervencionista em relação à soberania de demais países, bem como a sua política internacional de desrespeito aos direitos humanos? Agora, colocando na balança, quando dos dois países mais está apelando: os EUA ou a Rússia? Afinal, se o histórico político do primeiro dispensa maiores comentários, o que dirá do segundo, que, daqui a pouco, pelo grau de paranoia em que se encontra, não hesitará em jogar nas águas do rio Moscou as peças de xadrez de um campeão mundial, acusando-as, de repente, de possuírem escutas...

Nathalie Bernardo da Câmara

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