“Ninguém é superior a ninguém...”.
Paulo Freire (1921 - 1997)
Educador, filósofo marxista e patrono da educação brasileira (lei de 13/04/2012).
Há alguns anos, quando se começou a ventilar a possibilidade de cotas para negros nas universidades públicas brasileiras, senti que alguma coisa estranha pairava no ar... Chamaram-me de racista: deixei chamarem. Depois, vieram cotas para índios... Falei qualquer coisa contra e me chamaram de nem sei mais o quê: deixei chamarem. Na sequência, acho que outro segmento qualquer passou a ser incluído na política de cotas do governo federal – nem lembro mais qual foi –, mas também não me interessei saber a respeito... Chamaram-me de alienada: deixei chamarem. Hoje, por exemplo, não faço a menor ideia dos públicos supostamente beneficiados com a tal política de cotas nem da representatividade numérica desses mesmos públicos... Igualmente, não me interessa: chamar-me-iam do quê, agora? Ocorre que esse tipo de coisa nunca me foi simpático porque, na verdade, o considero algo extremamente preconceituoso e discriminatório, sobretudo se considerarmos a pluralidade de raças existente no Brasil. Desse modo, ao invés de estarem aparentemente preocupados com a cor do aluno, com a sua etnia, deveriam era focar as suas preocupações no pluriculturalismo da população brasileira e adaptarem as grades curriculares das nossas escolas a essa realidade. O censo aplicado no país, por exemplo, não é que uma piada. Felizmente, nunca calhou, como dizem os portugueses, eu responder a nenhum – nem gostaria, aliás, de passar por um vexame desses, já que não saberia fazê-lo, ou seja, dizer qual a minha cor – a não ser, claro, se soubesse o paradeiro da minha certidão de nascimento, a original, não a traduzida, e checasse a informação. Sim, porque muita gente é igual camaleão: nasce com uma dada cor e, com o tempo, se metamorfoseia. E, detalhe: se a criatura for daquelas que pegam sol, expondo-se aos raios ultravioletas a ponto de fazer fotossíntese, aí, então, fica ainda mais difícil classificar o que quer que seja. Se não pega, sol, obviamente, corre o risco de responder: desbotado.
Enfim! Ouvi dizer... Repare bem: ouvi. Ouvi dizer que, recentemente, o Congresso Nacional aprovou uma nova lei de cotas sociais e raciais que está apenas no aguardo de receber ou não sanção presidencial. A curiosidade, contudo, é que a tal lei inicialmente passou pelo Senado Federal; depois, foi para a Câmara dos Deputados e, em seguida, retornou ao Senado, mas apenas porque, digamos, tiveram parlamentares que não entenderam muito bem certos aspectos da referida lei. Bom! Se as dúvidas foram dissipadas, não sei, mas sei que, para não atrasar o calendário dos parlamentares, ansiosos que estão com as campanhas eleitorais nos seus respectivos currais eleitorais, a lei terminou sendo aprovada de qualquer jeito. Isto é, de qualquer jeito não, visto que, para ser aprovada, ela já contava, nos bastidores, com a garantia de que os itens questionados, consequentemente não solucionados, deveriam ser vetados pelo Executivo, ou seja, serão vetados quando da sanção presidencial prevista para os próximos dias... Isso sem falar – também ouvi dizer – que, tudo indica, serão criadas cotas para alunos oriundos de escolas da rede pública de ensino terem facilitado o seu ingresso nas universidades igualmente públicas... Uau! Este, sim, é o Brasil de todos. ½ dúzia diz que sim e mais de 190.000.000 de indivíduos devem dizer: amém! Ocorre que há + ou - 25 anos, a maioria dos alunos aprovados nos vestibulares era egressa de escolas da rede pública de ensino. Desse modo, eu gostaria de saber qual a justificativa das autoridades brasileiras na área da educação para explicar queda tão vertiginosa na qualidade do ensino das nossas escolas públicas. Sim, porque tamanho declínio deve ter uma explicação. Quem sabe se não fizéssemos uma continha básica entenderíamos o motivo dessa paranoia toda por cotas – no caso, é bom ressaltar –, para os alunos das escolas da rede pública de ensino?! Vejamos:
Se somarmos o tempo de mandato de José Sarney como presidente do Brasil, um homem tão culto, de ideias brilhantes, por sinal – um erudito, eu diria! –, que foi de 1985 a 1990, já teríamos 4 anos;
Com + 4 da dupla Collor, que fez escola com Sarney, e Itamar Franco, que ignorou os conselhos de Tancredo Neves (1910 - 1985), dá 8;
Em seguida, acrescentemos 8 anos de Fernando Henrique Cardoso – cuja formação acadêmica é ímpar (ele só esqueceu de aplicá-la na prática) – e chegamos a 16;
Depois, somando + 8 anos de Lula – doutor honoris causa – e + 1 ano e quase nove meses de Dilma Rousseff, que, economista, corrija as minhas contas se estiverem erradas, vai dá 25 e... Opa! Estamos na iminência de um parto.
O fato é que, tal qual a saúde pública no Brasil – o caos no Sistema Único de Saúde (SUS) é um exemplo –, a educação pública no país vem sendo gradativamente estrangulada, posta em segundo plano e, consequentemente sucateada. E eu me perguntaria: como, se, ao longo de duas décadas e meia, só fomos governados por iluminados? Isso sem falar que nem podemos sequer insinuar que todos eles zelaram pela política de fortalecimento das escolas da rede privada, estimulando o surgimento e a proliferação de novos empreendimentos por todo o país, inclusive com o incentivo de polpudas fatias do erário público, em detrimento das escolas da rede pública, porque estaríamos sendo injustos e desonestos nas nossas insinuações. Na verdade, os poderes públicos nunca foram negligentes para com as nossas escolas da rede pública. Pelo contrário! Eles sempre injetaram recursos e ânimo o suficiente para que elas pudessem manter as suas instalações físicas no nível de solidez de edificações em palafitas, bem como a qualidade do seu ensino num nível em momento algum degradante, sem falar nos salários não tão baixos assim, como, dramaticamente, alardeiam os seus profissionais, para que ninguém, mas ninguém mesmo, viva em estado de penúria. Desse modo, não vejo motivo algum que justifique cotas para alunos da rede pública de ensino, que, aliás, se for resumido ao bê-á-bá, já está de bom tamanho. Assim, o melhor mesmo é privilegiar as escolas privadas com tudo o que elas têm direito e aos alunos das escolas públicas, que só dão despesas aos governos, o ideal é que recebam esmolas, prêmios de consolação, quer dizer, as cotas. Afinal, nada justifica investir na preservação do patrimônio educacional do país, neste bem público que é a educação brasileira, ora um antro de marginalidade pedindo aos governos que remanejem policiais militares com o intuito de coibir o uso de drogas nas suas dependências e combata o tráfico nas entradas e saídas das suas unidades.
Sinceramente? Estou com o humor cáustico. Ou seria ironia travestida de bom humor? Não sei, mas, às vezes, cansa falar sério demais e sentir que, infelizmente, nem todos se preocupam com determinadas questões, porque, na verdade, o que parece realmente agradar a maioria das pessoas é o espírito da folia típica do tradicional e alienante carnaval; noutras vezes, a gente fica mesmo p da vida com certos absurdos... Por isso que, se crianças e adolescentes de 6 a 14 anos de idade passam 60% do seu tempo diário na internet, algo incontestavelmente edificante, produtivo e saudável, não há motivo para reclamar. Afinal, sentar com os coleguinhas e se entreter com bolas de gude, por exemplo, soltar pipa ou construir castelos de areia de há muito já se tornaram diversões ultrapassadas – fazer carrinhos de madeira ou brincar de bonecas, então! O negócio, agora, é brincar de esconde-esconde nas redes sociais, muito mais atraentes e dinâmicas, nas quais, inclusive, os seus filhos podem trocar altas ideias com todo tipo de gente, não importa a faixa etária nem o que faça da vida, inclusive com aquele completo desconhecido que tem idade para ser o seu pai e, o que é mais vantajoso, ainda dá aulas grátis de orientação sexual. Não poderia ser mais oportuno! Daí o melhor mesmo ser leiloar as escolas da rede pública de ensino para o setor privado. Desse modo, o Brasil seria uma maravilha! De fato, um país de todos, onde todos, sem exceção, por receberem salários mais do que satisfatórios, poderiam matricular e manter os seus filhos em escolas privadas, que, institucionalizadas, passariam a ser referência oficial do Estado, com direito, inclusive, a todo um aparato de segurança que, nem em sonho, permitiria que um psicopata qualquer saísse atirando em todo mundo e onde nem um cigarro de maconha, por menor que fosse, entraria. Assim, não haveria mais esse problema de cotas, já que o Estado não teria mais de se preocupar com uma rede de ensino pública que só lhe traz aborrecimentos.
Em tempo: a privatização das escolas públicas iria poupar as ditas autoridades do ridículo que é falar de cotas como sinônimo de inclusão social e racial quando, a bem da verdade, sabemos, esse é apenas mais um recurso utilizado pelos governos para não tratarem com seriedade a grande crise enfrentada pelo sistema educacional brasileiro, solucionando-a. E é claro que eu sou contra a privatização. Só que termina que temos de debochar de todo esse descaso do poder público, de toda essa encenação desmedida e desrespeitosa. Por outro lado, é até compreensível tudo isso, já que está escancarado que não se tem interesse político para que o Estado cumpra com a sua obrigação, que é garantir um ensino decente para as suas crianças e jovens. Depois, num acesso de delírio, não sei se alguém lembra – eu lembro, porque guardei uma cópia do seu discurso de posse e já escrevi a respeito –, a presidente Dilma Rousseff alardeia que não descansaria enquanto não erradicasse a pobreza extrema no Brasil – um jargão usado pelos economistas – em seus quatro anos de mandato.
Pobreza absoluta = miséria
Sem maiores comentários, mesmo porque, desde então, Dilma Rousseff não fala mais nisso. Nem poderia! Caiu na real. Afinal, como se desfazer de uma herança de 500 anos em apenas quatro? – deve ser por isso que, outro dia, ela foi eleita a terceira mulher mais poderosa do mundo... Pudera! Esqueceu da besteira de dizer que queria porque queria erradicar a miséria no Brasil. Afinal, tal cenário não seria nada interessante para os investidores estrangeiros que queriam e continuam querendo aplicar o seu capital no país. O que só corrobora, evidentemente, as palavras do jornalista brasileiro Arnaldo Jabor, que chegou a dizer:
— A miséria não acaba porque dá lucro...
Enfim! No que diz respeito ao tema principal desta postagem: se for para falar de inclusão, mas da real inclusão, falemos, por exemplo, da dos políticos honestos – esses, sim, por serem raros, andam a precisar de cotas...
Nathalie Bernardo da Câmara
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