segunda-feira, 20 de agosto de 2012

ASSANGE: DO REFÚGIO PARA O MUNDO

Le Telégrafo

“Eu peço ao presidente Obama para fazer a coisa certa: os Estados Unidos devem renunciar a sua caça as bruxas contra o Wikileaks...”.

Julian Assange
Jornalista australiano num discurso de dez minutos na sacada de uma janela da embaixada do Equador em Londres neste domingo, 19, sendo esta a sua primeira aparição pública desde que, no dia 19 de junho, buscou a proteção do governo Equatoriano, que, por sua vez, lhe concedeu asilo político na quinta-feira, 16, apesar do governo britânico insistir em negar o salvo conduto necessário para que ele possa deixar o Reino Unido.


O fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, repreendeu os Estados Unidos por “ameaçar” a liberdade de expressão, apelando ao presidente norte-americano, Barack Obama, que dê fim a sua perseguição aos que se erguem contra a sua opressão. O jornalista denunciou, ainda, que a polícia britânica tentou entrar na embaixada do Equador em Londres na quarta-feira, 15, mas que desistiu diante da presença de seus simpatizantes e da imprensa. No dia seguinte, o seu asilo político foi concedido pelo governo do Equador, apesar do Reino Unido não demonstrar interesse algum em deixá-lo sair de território britânico, a não ser se for para extraditá-lo para a Suécia, que pretende julgá-lo por supostos crimes sexuais – situações essas, segundo Assange, que foram forjadas apenas para facilitar um interesse maior, que é a sua extradição para os EUA, onde ele acusado de espionagem, mas que, caso seja julgado pelas autoridades norte-americanas, corre o risco de ser condenado à pena de morte. Nesse contexto, o jornalista reconhece o papel fundamental do Equador, um “valente país sul-americano”, e do presidente Rafael Correa, que, zelando por sua integridade, lhe concedeu asilo no seu país. Assange também pediu a libertação do soldado norte-americano Bradley Manning, preso por vazar segredos militares dos EUA, e disse que o militar é um “exemplo para todos nós”. Em seu discurso, o jornalista aproveitou para mencionar dois outros exemplos de recentes perseguições políticas, que foi a prisão do ativista Nabeel Rajab, presidente do Centro de Bahrein para os Direitos Humanos no Oriente Médio e vice-secretário-geral da Federação Internacional de Direitos Humanos, que, por criticar a família real que governa o seu país, foi preso no dia 6 de junho e condenado a três meses de prisão, bem como a condenação, na sexta-feira, 17, de três integrantes da banda russa Pussy Riot, a dois anos de prisão.

Neste domingo, como também estava previsto, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) reuniu-se e decidiu apoiar o Equador ante a “ameaça” que o país diz ter recebido do Reino Unido, de invasão da sua embaixada em Londres para prender Assange. A cúpula de chanceleres, que se encontrou na cidade equatoriana de Guayaquil, pediu para que o impasse seja solucionado através do diálogo e que os dez países ali presentes, Colômbia, Venezuela, Bolívia, Perú, Brasil, Chile, Uruguai, Argentina, Guyana e Suriname – com exceção do Paraguai, excluído do bloco devido o golpe de Estado contra o ex-presidente Fernando Lugo, manifestassem a sua solidariedade e respaldo ao país andino “diante da ameaça de violação do local de sua missão diplomática”. O ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, por sua vez, advogado de Assange, afirmou igualmente neste domingo, na porta da embaixada do Equador em Londres, que seu cliente não se nega a comparecer perante as autoridades suecas para desmontar a inconsistência das acusações de supostos crimes sexuais, mas ele teria de ter garantias mínimas suficientes para fazê-lo, coisa que, até agora, não foi concedida. Daí a sua resistência, pois não quer arriscar uma possível extradição para os Estados Unidos. De acordo, ainda, com o advogado, Assange, que sempre lutou pela verdade e pela justiça, já “pediu para que se inicie a batalha legal para se conseguir um salvo-conduto (para deixar o Reino Unido) e para que os seus direitos fundamentais, da Wikileaks e das pessoas relacionadas sejam respeitados”. Enfim! Enquanto o caso corre envolvendo países os mais diversos, já foi marcado para o próximo domingo, 26, um panelaço diante de todas as embaixadas do Reino Unido no mundo inteiro – uma forma de manifestar a rejeição da população mundial da decisão do governo britânico em não conceder o salvo conduto ao jornalista. Agora, resta esperar...

Nathalie Bernardo da Câmara

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