quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O VENENO ESTÁ SERVIDO...

O povo precisa “comer comida com defensivo [agrícola] sim, porque é a única forma de fazer um alimento mais barato...”.

Kátia Abreu (PSD-TO)
Senadora brasileira em audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal, revidando o conteúdo da reportagem Brasil envenenado, publicada pelo jornal Le Monde Diplomatique em abril de 2010, mais especificamente as declarações de José Agenor Álvares da Silva, diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sobre a contaminação dos alimentos no país do agronegócio – o maior dos empecilhos, hoje, para a reforma agrária no Brasil.

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“Em nome da produtividade, os agrotóxicos estão sendo permitidos...”.

Eduardo Galeano
Jornalista e escritor uruguaio, criticando a política agrícola do Brasil.


Na postagem anterior, divulguei que, dias atrás, o Greenpeace foi condenado por danos morais, decorrente de uma ação movida pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO) só porque, em 2009, ativistas da ONG invadiram as dependências do Senado Federal para entregar a faixa de ‘miss do desmatamento’ à presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), principal órgão representativo do agronegócio brasileiro. A parlamentar, por sua vez, que se recusou a receber os ambientalistas, achou por bem não vestir a carapuça e igualmente recusou a faixa. No frigir dos ovos, contudo, os ativistas terminaram presos num porão da Casa, embora tenham sido libertados depois de uma intervenção do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e da então senadora Marina Silva. Ora, qual moral tem essa mulher, seja ela uma psicóloga, empresária pecuarista, senadora, presidente da CNA ou não importa qual mais título de nobreza possua para mover uma ação penal contra uma ONG ambiental de renome internacional que não fez senão exercer o seu direito à liberdade de expressão através de um ato político que, com toda razão, criticava a postura da parlamentar que, aliás, nem questão faz de disfarçar o brilho nos olhos quando é para defender “um modelo de produção predatório e não-sustentável que estimula o desmatamento”, como já o bem disse o Greenpeace, nem quando ousa ir a público, ao vivo e a cores, para igualmente defender que o uso do agrotóxico é justificável porque baixa o preço dos alimentos para o consumidor? enquanto isso, os nossos recursos hídricos vão se exaurindo... Enfim! Vestir qualquer que seja a carapuça, em ambos os casos, são, de fato, até uma redundância, já que a senadora assume abertamente que também defende o uso de sementes alteradas em laboratório (os transgênicos) patenteadas por grandes corporações de biotecnologia no Brasil. Ou seja, todos esses e demais artifícios criminosos utilizados para aumentar a produtividade agrícola no país, cujo objetivo não é senão enriquecer ainda mais quem comanda o setor, não apenas degradam o meio ambiente como também provocam graves riscos à saúde humana, desencadeando males os mais diversos que até um leigo sabe que podem matar, mas são omitidos pela senadora, que também se esquece de dizer que os venenos que defende, estufando o peito de tanta propriedade, são, inclusive, por exemplo, transmitidos pelo leite materno e que, por ano, cada brasileiro consome, em média, 5,2 litros de agrotóxicos. Isso sem falar que se a senadora considera desonesta a bandeira da “saúde humana em jogo”, como disse em tom sarcástico na referida audiência pública, referindo-se aqueles que chamam de venenos os produtos químicos com quais ela tanto gosta de brincar, deveria igualmente considerar desonesto quando diz em seus discursos que a alta da produtividade agrícola no país garante alimentos a baixo custo para a população mais carente, embora omita dessa mesma população que o que ela está ingerindo pode simplesmente matá-la. Mas, isso é bobagem, não é? Só que, depois, no alto do seu pedestal, a senadora não entende o fato de ser repudiada e ainda considera levianas as contundentes críticas que lhes são feitas. De repente, talvez se tivesse recebido uma faixa com os dizeres musa do agronegócio, que, em si, já confere mais status à eleita, o ego da pecuarista que pensa que o Brasil é o quintal das suas terras nos quintos do Tocantins, ampliando, digamos, uma espécie de geografia do alimento envenenado, não teria apelado à Justiça e, quem sabe, passaria a proferir as suas pérolas ocas com mais frequência até cair ainda mais no ridículo e no esquecimento por seu escrachado desrespeito ao povo brasileiro. Essa mulher, sim, é de alta periculosidade! E para o Brasil, já que negligencia a importância da saúde para todos, como se o rico, por ter dinheiro, pode comprar e comer alimentos orgânicos, enquanto o pobre, sem opções, come veneno... Agora, como condenar somente a senadora e o setor que ela representa se o próprio governo brasileiro os isenta das suas responsabilidades fiscais e tributárias, estimulando, assim, o uso de toda sorte de veneno? Enfim! No documentário O Veneno está na mesa, do cineasta brasileiro Silvio Tendler, que foi lançado em 2011, podemos, ao longo de quase 1h, entender com mais clareza a gravidade desse problema. O filme, portanto, de grande repercussão, inclusive internacional, é imperdível! Para acessá-lo na íntegra, basta clicar no link abaixo:


Nathalie Bernardo da Câmara

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