“Tudo quanto pode arder arde...”.
Italo Svevo
A Novela do bom velho e da bela mocinha
Ano passado, escrevi um texto no qual eu mencionava um caso de pedofilia para lá de polêmico ocorrido em Brasília, no Distrito Federal. O acusado, preso, referindo-se ao tratamento que dava as meninas que seduzia e fotografava, em trajes íntimos, com a conivência, diga-se de passagem, das mães, que, ao invés de cuidarem, vendiam a inocência das suas filhas para comprar drogas, alegou:
— Eu era bonzinho com elas...
Óbvio que o homem deve continuar preso e não pretendo entrar no mérito dos motivos que levaram as mães a comercializar as suas filhas, mas no problema em si da pedofilia e na maior visibilidade que esse transtorno de conduta sexual, também chamado de parafilia, tem conquistado na mídia nos últimos anos.
Uma relação considerada pedófila caracteriza-se, portanto, entre um adulto e uma criança ou um pré-púbere, sendo exceção os relacionamento entre adolescentes, ressaltando que o pedófilo não é somente aquele que consuma o abuso, mas, também, aquele que alimenta fantasias sexuais e se sente excitado diante de criança e de pré-púberes, sendo, quase sempre, pessoas afáveis e, sexualmente, tímidas. Quanto às seqüelas para as vítimas... Elas são proporcionais à violência do abuso, já que a pedofilia a expõe a algo que ela não tem estrutura nem física nem psíquica para lidar. Daí podendo resultar traumas que, quando o ser torna-se adulto, podem gerar transtornos, bloqueios sexuais e, até, a repetição dos abusos sofridos na infância. Mais perturbadores, ainda, são os casos onde o pedófilo é alguém que a criança conhece ou nutre admiração e respeito.
Segundo a jornalista Ruth de Aquino, “no Brasil, fazer sexo com crianças e adolescentes não é crime, desde que elas já tenham sido prostituídas e que o cliente pague um punhado de reais. Essa é a visão do Superior Tribunal de Justiça, que absolveu no dia 17 de junho Zequinha Barbosa (campeão mundial em 1987 na corrida de 800 metros rasos) e seu ex-assessor Luiz Otávio Flores da Anunciação. Em 2003, eles pegaram em um ponto de ônibus em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, duas adolescentes de 12 e 13 anos. Fizeram sexo com elas no motel, fotografaram as duas nuas e pagaram R$ 80.O STJ confirmou assim a sentença de um tribunal de Mato Grosso do Sul de 2006. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) repudiou o desfecho em nota pública na semana passada. O Ministério público de Mato Grosso do Sul recorrerá ao Supremo Tribunal Federal”, disse.
“A sentença é, para nós, uma surpresa e uma aberração. Imaginava que nossos juízes estivessem mais sintonizados com as reformas legais desde 1988”.
Deputada federal Maria do Rosário (PT-RS)
O diário do padre pedófilo
O drama da pedofilia é tão sério que, inclusive, ultrapassa os adros das igrejas – temos visto os escândalos recorrentes na mídia –, que tem até padre – pasme o leitor – que já fez uma espécie de guia do sacerdote pedófilo. O próprio decálogo! Sim, porque, segundo a revista Istoé, de 16 de novembro de 2005, são dez as orientações elaboradas por ele para atrair a sua vítima. Um caso passado, eu sei, mas nem tão antigo assim, para citar como exemplo de uma realidade que se torna cada vez mais constante e aberrante. E uma situação curiosa, porque forneceu à polícia provas incontestes de culpabilidade. O referido diário foi entregue, portanto, por um mero engano a uma freira, que o repassou à polícia, passando a constar dos autos de um processo movido contra o padre, hoje com pouco mais de cinqüenta anos e condenado a quinze apenas por um dos seus crimes: o de violentar sexualmente uma criança de cinco anos.
Afinal, a prova era contundente demais para a polícia fazer vista grossa igual, no caso, costuma fazer a Igreja católica diante de casos de pedofilia em seu seio. E as estatísticas de casos de religiosos praticantes do transtorno acobertados pelas suas igrejas são tão escabrosas que nem vou perder o meu tempo mencionando-as. Vamos, então, as provas! A começar por um levantamento, feito de próprio punho, das vítimas em potencial do referido padre. Praticamente uma fórmula a ser seguida com sucesso...
A) 1) Idade > 7 > 8 > 9 > 10
2) Sexo > Masculino
3) Condições sociais > Pobre
4) Condições familiares > De preferência um filho sem pai,
só com a mãe sozinha – ou com 1 irmã.
5) Onde procurar > Nas ruas, escolas e famílias.
6) Como fisgar > Aulas de violão, coralzinho, coroinha.
7) Importantíssimo > Prender a família do garoto.
8) Possibilidades > Garoto carinhoso, calmo, sem bloqueios,
carente de pai, sem moralismos.
B) ATITUDES MINHAS
9) Ponto de vista alheio > Ver o que o garoto gosta e partir desta premissa para
atendê-lo em cobrança a sua entrega a mim.
10) Como apresentar-se > Sempre seguro – sério –
dominador – pai – nunca fazer perguntas, mas ter certeza
Quais são as possíveis soluções?
R. 1 – Sentir-me bem em gostar de garotos.
2 – Sentir-me socialmente aceito em expressar meu afeto aos garotos.
3 – Ter equilibrio e sentir-me amado por eles aceitando também o namoro
como algo bonito e não apenas sexo.
4 – Ter os garotinhos seguros de segredo e sem escrúpulos para sexo.
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Só agir sexualmente quando tenho certeza absoluta de que o garoto guarde segredo.
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... social, tendo assim a visão do todo.
Me preparo para a caça... olho para os lados... com tranqüilidade, porque tenho os garotos que eu quero sem problema de carências, pois sou o jovem mais seguro do mundo
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– Sei que chovem garotos, seguros, confiáveis e que são sensuais
e que guardam total segredo e que são carentes de pai e só com a mãe.
– Eles estão em todos os lugares – basta só ter um olho clínico
e agir com leis seguras no campo social.
– Eu por isso sou seguro e tenho calma... não me afobo não, eu sou o galã – e o garotinho, depois de aplicada a lei corretamente, estará caindo direitinho na minha... seremos felizes para sempre...
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Depois dos fracassos no campo sexual, aprendi uma lição!!! e esta é minha mais
solene descoberta: “Deus perdoa sempre, mas a sociedade jamais!”
A POLÍTICA DO SILÊNCIO
O problema da pedofilia não é um privilégio de padres católicos e congêneres, mas, também, de sacerdotes de outras religiões. Porém, como a Igreja católica é a maior do mundo, a quantidade de religiosos pedófilos que integram o seu clero é proporcional a sua representatividade. Assim, segundo o Código de direito canônico da Igreja católica, que, aliás, não prescreve crime algum, qualquer abuso sexual cometido por um religioso é considerado apenas pecado e, portanto, não denunciado os agressores, que são protegidos e as denúncias abafadas. Pior! Para encobrir os escândalos, a Igreja católica baseia-se em seus mandamentos da impunidade, supostamente acreditando que os padres, bispos ou diáconos pedófilos vão se arrepender, obtendo, então, o dito perdão divino:
- Averiguação discreta do ocorrido.
- Reconhecido o abuso sexual e constatado que a imagem da Igreja será prejudicada, iniciar ações dissuasórias com agressor e vítima. Os bispos dedicam-se ao convencimento das vítimas e de seus familiares, assegurando-lhes que o agressor foi punido e estaria arrependido, persuadindo-os a não perpetrarem a denúncia para não prejudicar a Igreja
nem a si mesmos.
- Encobrimento dos fatos e do agressor antes que
venham a público.
- Medidas para reforçar o ocultamento. A hierarquia adota um expediente canônico contra o agressor, apenas para defender-se de eventuais acusações de passividade.
- Negar o ocorrido. Sob o argumento de que o sacerdote, chamado por Deus, é um homem de virtude, uma figura
sacra. Quando não é mais possível negar o fato, este é
tratado com exceção.
- Defesa pública do agressor, ressaltando seus bons serviços prestados à Igreja. Apela-se para o sentimento
cristão do perdão ao pecador arrependido.
- Desqualificação pública das vítimas e de suas condições.
- Atribuição paranóica de denúncia a campanhas orquestradas por “inimigos da Igreja”.
- Possibilidade de negociação com a vítima.
- Proteção do sacerdote agressor.
igual o homem faz com a mulher...”.
V. R. D., adolescente abusado
sexualmente por um padre
*
“Ele diz aos garotos que tudo o quem fazem
é um segredo entre eles e Deus...”.
Mãe de V. R. D., referindo-se ao padre que
abusou sexualmente do seu filho
DENUNCIE!
DISQUE 100
Nathalie Bernardo da Câmara
Registro profissional de jornalista:
578 - DRT/RN, desde 1989
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