A FLORA E A FAUNA NÃO SÃO MÍOPES E ESTÃO DE OLHO!
“A prova de que a natureza é sábia é que ela nem sabia que iríamos usar óculos e notem como colocou as nossas orelhas...”.
Jô Soares
Humorista brasileiro
Na semana passada, uma equipe do Greenpeace, organização não governamental de envergadura mundial, que atua em favor do meio ambiente, testemunhou, durante um vôo nos ares dos estados do Pará, do Mato Grosso e do Maranhão, atividades ilegais de extração de madeira na TI Caru, no município de São João do Caru, no noroeste do Maranhão, onde fica localizada a tribo indígena, que, desde a sua criação, em 1982, vem presenciando um desmatamento acelerado na região, sem que nem mesmo o fato da TI receber proteção oficial tenha freado a agressão dos fazendeiros e das madeireiras, que exploram a madeira irregularmente.
Tanto que pelo menos 9% das suas matas já foram derrubados – total esse que corresponde a quinze mil hectares da suas terras, vizinhas, inclusive, de mais duas outras duas tribos indígenas, a do Alto Turiaçu e Awá-Guajá, além da Reserva Biológica do Gurupi. À oportunidade, ainda durante o vôo, foram registrados, no interior da TI Caru, dois caminhões carregados de toras de madeira, algumas estradas estreitas abertas na floresta para o seu escoamento e um acampamento improvisado, que, segundo uma das fotografias feitas pela equipe do Greenpeace, se encontra discretamente protegido por uma espécie de clareira.
Photo: Bruno Kelly
Só que, a bem da verdade, a clareira onde foi registrado um acampamento resume-se a uma pequena área desmatada, cujo acesso dar-se por uma trilha, que, aliás, sai da via, ainda segundo registra a mesma imagem fotográfica, na qual trafega um caminhão transportando várias das já mencionadas toras de madeira. O fato é que, nesta sexta-feira, 19, munido das imagens aéreas colhidas pelos ambientalistas e de demais documentos, o Greenpeace encaminhou respectivas denúncias ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e à Fundação Nacional do Índio - FUNAI.
O objetivo, portanto, do Greenpeace é o que os referidos órgãos competentes tomem as devidas providências a fim de coibir tamanho crime ambiental, embora a organização tenha receio de que, apesar das denúncias feitas, novamente se repita o que aconteceu no segundo semestre do ano passado, após o término das ações da Operação Arco de Fogo na região, uma força tarefa que, entre outros, envolveu agentes do IBAMA, FUNAI, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional de Segurança e o Exército, que deu apoio à operação, visando debelar um já acelerado processo de degradação para a extração da madeira.
À época, toras de madeira, maquinários, armamentos, frota de veículos foram apreendidos; serrarias e fornos ilegais de carvão fechados; empresas autuadas, embargadas; pessoas presas... Enfim! Com o desfecho positivo da Operação Arco de Fogo e a retirada dos seus agentes da região – TI do Caru, do Alto Turiaçu e do Awá-Guajá, além da Reserva Biológica do Gurup – um dos pontos críticos do Maranhão, que, por sua vez, naquele período, era – diga-se de passagem – considerado um dos estados da Amazônia Legal cuja taxa de desmatamento era a que mais estava avançado, tudo, então, voltou a ser como era antes.
Daí, hoje, a preocupação do Greenpeace ser a de que, apesar das denúncias que fez ao IBAMA e à FUNAI da continuidade da extração ilegal de madeira, sobretudo na TI Caru, medidas não sejam tomadas a fim de ser dada uma solução para tão grave problema, como fiscalização, apreensão da madeira extraída e identificação e punição dos infratores, protegendo definitivamente a área – habitat, por direito, dos índios. A FUNAI, por sua vez, em nota ao Greenpeace, informou que tem conhecimento do que anda acontecendo na região e que já está tomando “as devidas providências para conter o desmatamento ilegal nessas terras”.
Prosseguindo, a FUNAI adiantou que agentes do próprio órgão, do IBAMA, da Polícia Federal, da Força Nacional de Segurança já estão reunidos no Maranhão e exatamente com o objetivo de realizar outra operação, a exemplo da do ano passado, garantindo, inclusive, que as fiscalizações dos agentes na TI Caru já têm o seu início previsto para os próximos dias. Que, assim, o seja! Afinal, convenhamos, toda sorte de abuso contra a Amazônia tem de ter um fim. Só que, para isso, temos de ser ágeis e garantir a preservação da sua floresta. Ah! Para não nos prolongar, cito, apenas, três dos exemplos de quem defende o nosso bem maior.
Para o ex-ministro do Meio Ambiente, o deputado estadual Carlos Minc (PT-RJ), que, em 2009, acompanhou, de perto, a Operação Arco de Fogo: “O crime ambiental e a impunidade não vão prosperar no Brasil. O nosso sonho é que as pessoas vivam com dignidade”... Para a também ex-ministra do Meio Ambiente, a senadora Marina Silva (PV-AC), que defende o desenvolvimento sustentável, como a Operação Arco de Fogo: “A Amazônia está acima de nós”... O Greenpeace, por sua vez, cuja vocação é a ambiental, diz: “O desmatamento está caindo, ninguém nega, mas os velhos problemas da Amazônia estão bem longe de serem solucionados”...
Quem planta, colhe...
“Oexiste porque este planeta frágil merece ter uma voz. Ele precisa de soluções. Ele precisa de mudanças. Ele precisa de ação...”.
Vindo ao mundo no dia 15 de setembro de 1971 por iniciativa de dozes pessoas, entre ambientalistas e jornalistas, o Greenpeace é nativo do Canadá e do signo de Virgem. E ele só existe, segundo mensagem de um dos seus vários blogs, “para expor criminosos ambientais e desafiar governos e corporações onde eles falham em manter suas promessas de proteger o meio ambiente e o nosso futuro”, acreditando que a luta para preservar o futuro do nosso planeta não diz respeito somente à organização, mas, também, a todos nós, sendo o intuito do seu trabalho em favor do meio ambiente temas tipo florestas, clima, energia, oceanos, agricultura sustentável (transgênicos), tóxicos e desarmamento/promoção da paz, que, a partir de objetivos e estratégias, se transformam em campanhas – “um trabalho de investigação, exposição e confronto a partir das demandas da organização em cada país onde ela atua”.
A missão do Greenpeace, por sua vez, é a de “proteger a floresta amazônica, bioma de grande biodiversidade, hábitat de milhares de espécies, milhões de pessoas e fundamental para o equilíbrio climático do planeta; estimular o investimento em energia renovável e eficiência energética, reduzindo as emissões de gases do efeito estufa, que causam aquecimento global; defender os oceanos com a criação de uma rede de unidades de conservação e o estímulo da pesca sustentável; trabalhar pela paz, enfrentando as causas de conflito e eliminando a produção de energia e armas nucleares, e incentivar a agricultura segura e sustentável, rejeitando os organismos geneticamente modificados.
Quando da ECO-92, no Rio de Janeiro – oportunidade na qual cento e oitenta países admitiram os danos que causavam ao meio ambiente –, o Greenpeace adotou o Brasil, que, vítima de ações internacionais predatórias, não dispunha de ambientalistas de peso para protegê-lo. Foi assim que, durante o encontro, no dia 26 de abril, aniversário da explosão da usina nuclear de Chernobyl, a tripulação do navio do Greenpeace Rainbow Warrior rumou para Angra dos Reis, onde oitocentas cruzes foram afixadas no pátio da usina nuclear, simbolizando o número de mortes ocorridas no trágico acidente na Ucrânia. O evento marcou oficialmente a inauguração do Greenpeace no Brasil.
Enfim! O Greenpeace tem como uma das suas maiores bandeiras a frase do chefe índio norte-americano Seattle: “Quando a última árvore for cortada, o último rio envenenado, e o último peixe morto, descobriremos que não podemos comer dinheiro...” Eu, particularmente, quero o meu ambiente por inteiro. Não pela metade...
Nathalie Bernardo da Câmara
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