terça-feira, 15 de março de 2011

ABRE-TE, SÉSAMO!


“O sonho de um é parte da memória de todos...”.

Jorge Luís Borges (1899 - 1986)
Escritor argentino



Na semana passada, na quarta-feira de cinzas, 9, o jornal O Globo estampou, em primeira página: Comissão da Verdade é alvo de militares, divulgando o teor de um documento no qual o Comando do Exército critica à criação da referida comissão no Congresso Nacional, cujo objetivo deverá ser o de apurar crimes ocorridos durante a ditadura militar (1964 - 1985) no Brasil, alegando que certas investigações poderão provocar “tensões e séria desavenças ao trazer fatos superados à nova discussão”.

O Palácio do Planalto, por sua vez, logo pediu explicações ao Ministério da Defesa, cuja assessoria de imprensa, ainda a tarde, emitiu nota reafirmando a posição da pasta a favor da criação da Comissão Nacional da Verdade, uma das prioridades, aliás, do governo de la presidenta Dilma Rousseff, que, ainda no final de 2010, em reunião com os comandantes da Aeronáutica, do Exército e da Marinha, exigiu discrição sobre o tema – condição sine qua non para que eles permanecessem em seus respectivos cargos.

Em janeiro deste ano, contudo, o ministro da Segurança Institucional, o general José Elito, disse que não era vergonha alguma o desaparecimento de presos políticos no país. Não deu outra: o general foi repreendido por la presidenta, que, inclusive, na última sexta-feira, 11, contrariada com as informações publicadas pelo jornal O Globo, cobrou, pessoalmente, satisfações ao ministro Nelson Jobim, querendo saber em quais circunstâncias o documento foi produzido e quais as providências tomadas por ele a respeito.

Segundo o ministro, confirmando o que havia dito na nota divulgada no dia anterior, o documento teria sido redigido em setembro de 2010, embora o texto que o periódico teve acesso date de fevereiro deste ano. Mistério... De qualquer modo, o fato é que, nos bastidores, assessores da presidência da República definiram como “constrangedor” o documento do Comando do Exército, o qual, como se sabe, foi desaprovado com veemência por la presidenta, e que o seu vazamento foi considerado uma insubordinação.

Ao mesmo tempo, o documento demonstrou, claramente, a insatisfação de certos militares com a Comissão da verdade, cujo Projeto de Lei que a cria, o de n° 7.376/2020, está em tramitação no Congresso Nacional, podendo ser votado, para a ira dos reacionários, ainda este semestre. Procurada pela imprensa, a ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que não iria se pronunciar sobre o assunto, se abstendo de comentar sobre o polêmico documento. Fico à espera do próximo capítulo desse folhetim... 


Nathalie Bernardo da Câmara

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