domingo, 6 de março de 2011

UMA DIVINA COMÉDIA TUPINIQUIM


“A grande reserva do mal no universo...”.

Primeira frase da introdução de uma das versões que tenho, em francês, do livro A Divina Comédia, de autoria do escritor italiano Dante Alighieri (1265 - 1321), traduzida por Jacqueline Risset e publicada por GF-Flammarion, em 1985.



Por mais bem informada que eu seja, apenas na noite de sexta-feira, 4, recebi a notícia de que la presidenta Dilma Rousseff passaria o carnaval em Natal, capital do Rio Grande do Norte, onde, infelizmente, também me encontro. Agora, se eu só soube disso com horas de atraso é porque, de fato, em nada me interessa a agenda da jovem. E só escrevo este para manifestar o meu profundo desagravo por ter, durante alguns dias, de compartilhar o mesmo espaço territorial que ela. Enfim! A edição de n° 300 do jornal Tribuna do Norte – um periódico de Natal –, a do domingo, 6, mas que já começou a circular no sábado, 5, estampou: Família presidencial não aparece nem para tomar sol, se referindo à presença de Dilma Rousseff e parentes no Centro de Lançamentos da Barreira do Inferno - CLBI, na praia de Pium, durante o carnaval.

A referida edição comenta, ainda, da segurança montada para receber la presidenta na cidade do sol: além da proteção das polícias militar, ambiental e de trânsito, bem como do Samu Metropolitano, o Exército, a Aeronáutica e a Marinha, que mantém uma corveta fazendo o reconhecimento e patrulhamento da área, estão de prontidão. Todo e qualquer acesso ao local, por terra ou mar, estão bloqueados. O valor das modificações nas instalações do CLBI para receber Dilma Rousseff? R$ 7,9 milhões, embora o gasto seja justificado em função de uma reforma maior, de “caráter técnico”. O valor do buffet, então, para alimentar a comitiva, nem se fala! R$ 8 milhões. Curioso... Outro dia, os parlamentares brasileiros nem hesitaram em reajustar os seus próprios salários em 62% e aprovar um aumento do salário mínimo de apenas R$ 5 reais.

É indecente! O mais intrigante, contudo, apesar de eu saber que certas autoridades têm direito à segurança especial, não importa qual a situação, queria entender o sentido de la presidenta decidir passar o carnaval – poderia até ser outra data –, à beira-mar, supostamente para descansar, e fica trancafiada na referida base de lançamentos de foguetes, se nem dá um mergulho... A não ser que, agora, a Barreira do Inferno virou SPA, algum tipo de retiro espiritual ou sabe-se lá o quê! Sem falar que, além de não tomar banho de mar, ainda impede banhistas habituais de acessar a praia, ou seja, o povo, que, aliás, a elegeu. E, questiono: qual o motivo de tanta prevenção? Consciência pesada por ser um engodo, igual o seu antecessor, o ex-presidente Lula, uma fraude eleitoral? Seja por qual motivo for – não me diz nada –, nada mais me surpreende.

Afinal, embora a dita diplomacia tenha falado mais alto, a primeira viagem ao estrangeiro que Dilma Rousseff fez, em janeiro passado, foi para a Argentina, onde, descaradamente e sem decoro algum, a presidenta Cristina Kirchner ignora, por exemplo, a imprensa do seu país, pisando em cima da mesma. É estranho... Lula deixa o poder, mas não abandona os privilégios e vai para uma praia, no litoral paulista, sob os atentos olhares dos militares. Dilma Rousseff vai pelo mesmo caminho. Mas, como la presidenta brasileira não me tira o sono, já que não votei nela – daí não ter motivo para ficar com insônia –, pois votei conscientemente na ambientalista Marina Silva para presidir o Brasil, que ela, então, faça bom proveito do inferno. Quem sabe, depois, não termina o seu processo de ascensão e aproveita para passar pelo purgatório, em busca, se alcançar, do paraíso?


Nathalie Bernardo da Câmara

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