sábado, 19 de março de 2011

A VOZ DAS MINORIAS



“A relação entre Obama e Dilma dependerá da química entre os dois...”.

Michael Shifter
Especialista norte-americano em América Latina,
presidente do Diálogo Inter-Americano dos Estados Unidos




Para não dizer que eu não falei das flores, como diria o saudoso compositor e cantor brasileiro Geraldo Vandré (1935 - 2009) em seu hino de resistência à ditadura militar (1964 - 1985) no Brasil... Depois do encontro reservado com o presidente norte-americano Barack Obama durante a sua visita ao Brasil, no qual, inclusive, ambos assinaram dez acordos bilaterais, la presidenta Dilma Rousseff, acompanhada do visitante ilustre, fez um pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília. Segundo ela, se referindo a Obama, “a sua visita ao meu país me enche de alegria, desperta os melhores sentimentos do nosso povo e honra a histórica relação” entre as duas nações, acrescentando que a presença do presidente norte-americano estava igualmente imbuída de “forte valor simbólico”...

Ora, em uma situação como essa, nem por diplomacia Dilma poderia ter falado em nome do povo brasileiro, sequer dos seus sentimentos, que, aliás, em relação aos Estados Unidos, são bastante adversos. É só fazer uma pesquisa no Brasil para confirmar o alto índice de rejeição do seu povo não somente ao país do Tio Sam, mas, também, aos seus governantes. Bom! Em seguida, ela justificou tais palavras ao dizer que os povos do Brasil e dos Estados Unidos “ergueram as duas maiores democracias das Américas”, bem como “ousaram levar aos seus mais altos postos um afro-descendente e uma mulher, demonstrando que o alicerce da democracia permite o rompimento das maiores barreiras gerando um rompimento de barreiras para a construção de sociedades mais generosas e harmônicas”. Eita!

Porém, não se contendo, Dilma criticou, corajosamente, ainda que sutilmente, o protecionismo norte-americano, pedindo relações justas e equilibradas entre o Brasil e os Estados Unidos, que, para ela, mantêm sintonias... – quais, eu perguntaria? Enfim! Na opinião de la presidenta, “só a relação que não seja unilateral produzirá a paz entre povos”, acrescentando que “o Brasil tem compromisso com a paz que não é conjuntural”, mas com a paz que é “integrante de nossos valores”. O presidente dos estados Unidos, por sua vez, se pronunciando a seguir, considerou a sua visita ao Brasil um momento histórico, durante o qual, inclusive, foram lançadas “bases de grande cooperação” entre os dois países americanos. Sei não, mas eu só gostaria de saber qual o roteirista dessa horrenda ficção...



“Sonho que se sonha junto é realidade...”.
Raul Seixas (1945 - 1989)
Compositor e cantor brasileiro




Como diria o chargista:



“O maior castigo do mal praticado é tê-lo praticado...”.

Sêneca (4 a. C. – 65 d. C.)
Filósofo e poeta romano



Ninguém merece! Muito menos quando, no Itamaraty, durante o almoço com empresários brasileiros e norte-americanos, além de alguns políticos, entre eles, os ex-presidentes brasileiros Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso e José Sarney – valei-me! –, la presidenta Dilma Rousseff reiterou as boas-vindas ao presidente norte-americano Barack Obama. Desta vez, em nome de todo o povo brasileiro. Uma vez mais, nem por diplomacia ou gracejo ela deveria ter dito isso, já que a presença desse homem no Brasil é uma afronta à boa parte desse mesmo povo brasileiro e seria melhor não ter generalizado. Espantosamente, Dilma disse, ainda, que o encontro com Obama era um motivo de honra pessoal para ela, sem falar na sua insistência, desnecessária, em repetir o dobrado de Obama ser o primeiro presidente negro na História dos Estados Unidos e ela a primeira mulher a presidir o Brasil. Que enjôo! Afinal, como disse no texto que postei ontem, “sexo não determina competência, muito menos a raça de uma pessoa”.

E o pior é que la presidenta deu prosseguimento a certos absurdos, sobretudo ao dizer que o Brasil e os Estados Unidos “possuem inúmeros traços em comum”... – quais? E que “aprofundar as afinidades entre nossos povos torna os laços de amizade que nos unem mais significativos e duradouros do que uma relação baseada apenas em pactos formais entre governos”. Mania esquisita que certas pessoas têm de falarem pelos outros! Diacho... Enfim! Para Dilma, ambos os países “compartilham convergências que podem se traduzir em sintonia de propósitos no presente e no futuro, se, para isso, dedicarmos o melhor de nossos esforços”. Segundo “esse espírito”, ela propôs um brinde não somente ao presidente norte-americano, mas, também, ao sonho de esperança do ativista político norte-americano Martin Luther King (1929 - 1968). Elogios à parte, a ocasião mais pareceu um sarau poético, já que, logo a seguir, foi a vez de Obama citar o ex-presidente brasileiro Juscelino Kubitschek (1902 - 1976): “Que é Brasília, senão a alvorada de um novo dia para o Brasil”...




Ócio nada criativo



“Que nem eu só eu...”.

Grafite em Ribeirão Preto



Deu no jornal Folha de São Paulo:

”Luiz Inácio Lula da Silva foi o único ex-presidente brasileiro que recusou convite para ir ao almoço oferecido hoje por Dilma Rousseff, no Itamaraty, ao colega norte-americano Barack Obama, que inicia nesta manhã, por Brasília, sua visita ao país. Todos os ex-presidentes após 1985 foram chamados”.

“A Folha apurou que Lula informou ao Planalto que não iria. Ele tem dito a interlocutores estar no período de ‘quarentena’, e, segundo uma pessoa próxima de Lula, faz um esforço para não roubar os holofotes de Dilma. Quando presidente, Lula teve uma relação de bons e maus momentos com Obama. Por um lado, em encontro de chefes de Estado em 2009, Obama elogiou o brasileiro e o chamou de ‘o cara’. Por outro lado, Obama não veio ao país no governo Lula. Era um desejo do ex-presidente e o Planalto especulava que o motivo da recusa eram as divergências dos dois países sobre Oriente Médio, especialmente o Irã”.

Enquanto isso, o leitor Curt Heise, de Blumenau, em Santa Catarina, mete bronca na coluna do jornalista brasileiro Cláudio Humberto: “É ridicula a afirmação de lula (‘não quero desviar os holofotes da pres. Dilma’) justificando a sua recusa de participar do almoço (junto com outros ex-presidentes) com o pres. norte americano, ora em visita oficial ao Brasil. Para qualquer observador fica patente que a recusa se deve a decisão da 0NU de atacar a Libia - com o voto de abstenção do Brasil - lembrando, também, os gestos de amizade (e seus elogios a Kadafi) protagonizado por lula em sua visita a Líbia”.




Pão-pão, queijo-queijo...



“As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam...”.

Versos de uma composição dos letristas brasileiros
Sérgio Natureza (jornalista) e Tunai (cantor)



Para comemorar a parceria entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos estabelecida durante o dia de hoje, um coquetel foi servido por la presidenta Dilma Roussef ao presidente norte-americano Barack Obama nas instalações do Palácio da Alvorada ao final da tarde da aparente exaustiva jornada de ambos neste sábado. Recém-chegado da Cúpula de Negócios Brasil-Estados Unidos, onde se reuniu com empresários brasileiros e norte-americanos no Centro de Convenções Brasil 21, na capital federal, e escoltado por batedores, Obama desceu do carro blindado da presidência norte-americana e foi recebido pela anfitriã com um cardápio no qual constavam diversas iguarias genuinamente brasileiras: bolos, sanduíches leves e o famoso pão de queijo mineiro – exigência expressa da dona da casa. Para beber, café, sucos e refrigerantes. Entre os presentes ao discreto encontro, a família de Dilma e a de Obama, além de alguns ministros e políticos, bem como de fotógrafos credenciados para que registrassem o encontro dos dois chefes de Estado antes da comitiva norte-americana seguir para a Base Aérea de Brasília com destino ao Rio de Janeiro, onde ficará até a próxima segunda-feira, 21, quando embarcará em direção ao Chile e, em seguida, a El Salvador.


“Desconfio do respeito de um homem com o seu amigo ou a sua bandeira quando não o vejo respeitar o inimigo ou a bandeira deste...”.

José Ortega y Gasset (1883 -1955)
Filósofo espanhol




Curiosamente, logo após a reunião com os empresários, consequentemente, pouco antes de chegar ao Palácio da Alvorada e se despedir de Dilma, Obama informou a jornalistas que já havia autorizado as Forças Aéreas dos Estados Unidos a atacarem a Líbia com sistemas antimísseis, a fim de proteger a população que se opõe ao regime do ditador Muammar Khadafi. Que tal decisão, portanto, sirva de lição para la presidenta. Quem sabe, assim, ela não aprende que não deve confiar demais em Obama, praticamente estendendo com as próprias mãos um tapete vermelho para ele desfilar, esbanjando uma falsa simpatia, na Brasília do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, chegando ao cúmulo de, mais cedo, ainda na conversa reservada no Palácio do Planalto, argumentar ao seu mais novo companheiro que guerras custam vidas e devem ser evitadas. Quanta ingenuidade! Dizer isso justo para um presidente norte-americano, que, não tardou muito, deu ordens para o início de mais um genocídio a ser colecionado pelos Estados Unidos? A ironia, contudo, é que o nome da operação militar que, não duvido, irá destruir a Líbia, se chama Odyssey Dawn, ou seja, Alvorada da Odisséia.


“A ganância insaciável é um dos tristes fenômenos
que apressam a autodestruição do homem...”.

Textos judaicos




Decerto, o dia foi ingrato para o Brasil, já que, por ironia, a palavra alvorada consta não apenas no verso de JK citado pelo chefe do Executivo norte-americano durante o almoço, mas, também, é nome do Palácio tido como residência oficial de la presidenta e onde foi servido o genuíno coquetel de despedida. Daí que, em meu entendimento, apesar do aroma inconfundível do pão de queijo mineiro, o desfecho do encontro de Dilma e Obama terminou foi em pizza, e a de um fast food vagabundo qualquer...



Enquanto isso,
no Rio de Janeiro...

— Acho melhor eu pegar o beco.



Se em Brasília o coquetel servido por la presidenta Dilma Rousseff ao presidente norte-americano Barack Obama teve como principal iguaria o pão de queijo mineiro, os coquetéis que já começaram a ser servidos no Rio de Janeiro, antes mesmo da chegada do senhor das guerras, foram à base de combustível dentro de uma garrafa e um pavio no gargalo, ou seja, os famosos coquetéis molotov – cada um recebe uma visita como pode. Enfim! A repulsa à presença de Obama na Cidade Maravilhosa é tamanha que nem o Cristo Redentor, coitado, a digeriu...



Nathalie Bernardo da Câmara

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