Dora
Kramer - O Estado de S.Paulo
26 de
março de 2014
Na
tentativa de afrouxar o nó em que se enroscou ao dizer que, quando ministra da
Casa Civil, aprovara um negócio milionário na Petrobrás com base em relatório
incompleto, a presidente Dilma Rousseff complica a cada dia a narrativa do
Palácio do Planalto.
É a
tal história dos equívocos em série cometidos para tentar corrigir o erro de
origem. A explicação dada por Dilma na semana passada se contrapôs à versão
oferecida anteriormente pela presidente e pelo ex-presidente da Petrobrás para
a compra da refinaria de Pasadena. Os dois disseram que o negócio foi feito
porque na época pareceu bom.
Depois,
a presidente resolveu pedir o afastamento de Nestor Cerveró da diretoria da BR
Distribuidora. Não ficou claro o motivo. Ele foi o responsável pelo aludido
relatório, cujas falhas a presidente disse ter tomado conhecimento em 2008.
Levou seis anos para ser punido antes de ter sido promovido.
Ainda
assim, fica a dúvida: foi demitido por que, se o negócio era bom segundo Graça
Foster, Sérgio Gabrielli e vários integrantes do Conselho de Administração que
aprovaram a compra e já se pronunciaram? Ficou parecendo que o Palácio do
Planalto precisava arrumar um culpado e uma demissão para dar verossimilhança à
sua versão.
Agora,
a fim de evitar a criação de uma CPI para investigar a Petrobrás e desestimular
a convocação de Graça, Gabrielli, Cerveró e mais o ex-diretor da estatal Paulo
Roberto Costa, acusado e preso por suspeita de corrupção, o governo tenta criar
uma atmosfera de intimidação geral disseminando versões segundo as quais
congressistas teriam muito a perder se insistirem em mexer nesse vespeiro.
A
manobra obedece à dinâmica de sempre: circulam histórias de que alguém ouviu
dos ex-diretores que estão prestes a explodir ao molde de homens-bomba,
dispostos a contar o que sabem e, com isso, envolver e constranger boa parte da
República. Será verdade?
Em
relação a Paulo Roberto Costa não há como conferir, pois ele está em poder da
Polícia Federal. Corre na capital que seu poder e trânsito eram
"gigantes" entre parlamentares de partidos governistas. Um tanto
vago, mas o suficiente para amedrontar quem tem a temer.
Quanto
a Nestor Cerveró, sua volta ao Brasil (está em férias na Europa) é aguardada
para a semana que vem. Segundo um amigo parlamentar que conversou com ele, está
absolutamente tranquilo, não dá o menor sinal de que pretenda explodir.
Afastado da diretoria da BR, continua funcionário de carreira da Petrobrás e
nessa condição voltará, conversará na empresa para tomar pé da situação e, se
convocado pelo Congresso, irá prestar esclarecimentos.
Para
repetir o que já disseram Sérgio Gabrielli e Graça Foster: que a compra da
refinaria foi baseada em estudos técnicos bem fundamentados. Ou seja, vai
desmentir a presidente da República, já devidamente desmentida pelo silêncio da
atual e pelo pronunciamento do ex-presidente da Petrobrás.
A
tentativa de impedir a criação da CPI pela via da intimidação não parece ser a
estratégia mais inteligente para ninguém. Joga tanto o Legislativo quanto o
Executivo na vala comum da suspeição geral. Parte do pressuposto de que todos
são culpados até prova em contrário.
O
governo, porque usa desse instrumento de chantagem para impedir a abertura de
uma investigação no Parlamento. E o Congresso, pela ideia de que esse tipo de
ameaça seja eficaz mesmo quando dirigida a deputados e senadores da oposição.
Pode
dar certo, mas pode dar muito errado. Vai depender da disposição do Legislativo
de aceitar ou não a regra do jogo em que é posto, a princípio, na condição de
devedor com a faca no pescoço e convidado a compartilhar da lei da Omertá.
O
governo tem maioria para impedir a CPI, com suavidade. Mas, pode acabar em
minoria se insistir em atuar com brutalidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aceita-se comentários...