28 de março de 2014
Dora Kramer - O
Estado de S.Paulo
Notícia ruim
não anda só. Caminha em bando, como bem pode atestar a presidente Dilma
Rousseff de seu gabinete no Palácio do Planalto com vista para a Praça dos Três
Poderes, onde bem ao centro localiza-se o Congresso Nacional.
Ali é que
terá, nessa altura, maior repercussão a pesquisa CNI/Ibope que registrou a
queda de sete pontos porcentuais no índice de avaliação positiva, agora em 36%.
A população ainda não está eleitoralmente mobilizada, mas para os partidos e os
políticos a hora de armar o jogo é agora. Muitos à espreita de Dilma na
esquina. E aqui falamos dos ditos governistas.
De acordo
com os pesos e medidas usados por especialistas no tema, um governante
candidato à reeleição é considerado competitivo quando tem pelo menos 40% das
indicações nos quesitos ótimo e bom.
Por essa
régua, no momento a presidente Dilma estaria fora da zona de razoável conforto.
Longe da faixa entre 45% a 50% em que o candidato é tido como franco favorito e
mais distante ainda dos 50%, patamar acima do qual dificilmente alguém é
derrotado.
Na semana
passada se ouviu cantar esse galo, mas como ninguém sabia direito onde, correu
a boataria de que uma pesquisa do Ibope registraria a queda das intenções de
voto da presidente. Divulgados, os números desmentiram os boatos: ela
continuava com os mesmos 43% da consulta anterior, feita em novembro.
Ontem
apareceu o fundamento do falatório. A queda referia-se à avaliação do governo,
comumente traduzida como popularidade da presidente. Esse era um ativo que
Dilma ainda mantinha para lidar com uma base parlamentar tão ampla quanto
insatisfeita, embora sem ter para onde correr, com resquícios de reverência
decorrentes do favoritismo numérico diante de pretendentes da oposição.
Esse capital
dá sinais concretos de erosão que os políticos captam no ar e transformam
rapidamente em ação. Para começo de conversa, se reduz o receio do confronto
com o governo. Quando eclodiu a última crise com o Parlamento liderada pelo
PMDB, a versão do departamento de propaganda do Planalto é que a briga seria
excelente para a presidente, pois ela ficaria com os dividendos da
intransigência e os políticos, com os prejuízos da má imagem junto à opinião
pública.
Como se viu
pelo resultado da pesquisa, não se observou ganho algum junto à população. A
ideia de se aproveitar do desgaste dos políticos evidentemente não cai bem
entre eles, o que resulta em má vontade, principalmente entre deputados, no
empenho pela reeleição da presidente. Ora, quando a isso se soma uma queda
acentuada na popularidade, a insatisfação se manifesta mais abertamente e cada
vez com menos cerimônia.
Tal ambiente
não foi criado por obra da oposição. Tanto não foi que os dois candidatos,
Aécio Neves e Eduardo Campos, ainda não têm o grau de conhecimento da
presidente e continuam com índices baixos de intenção de votos. Todos os
problemas que o governo enfrenta foram confeccionados internamente e são do
conhecimento geral.
Condução
errática da economia, insuficiência de desempenho na saúde, educação,
segurança, ausência de diálogo com setores importantes da sociedade, menosprezo
às críticas, manipulação da realidade, submissão dos interesses de Estado a
conveniências partidárias, predominância eleitoral sobre todas as coisas, a
presunção de que ao PT tudo é permitido e quem discordar é ingrato ou golpista.
A presidente
não mede consequências. Não mediu no confronto com sua base aliada, não mediu
quando acreditou que sua palavra bastava para encerrar um assunto relativo à
Petrobrás e prosseguiu sem medir ao entrar na base da força bruta para impedir
a CPI para investigar negócios da estatal. Foi ela quem colocou a empresa na
berlinda.
A oposição
não tinha número, mas tanto o governo ameaçou fazer e acontecer que as
assinaturas apareceram em reação. O esforço para a retirada proporcionará cenas
do arco da velha. Para quem pedir e para quem aceitar voltar atrás. Um prato
para a oposição.
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