DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
23 de março de 2014
Para fins de análise do
ambiente pré-eleitoral, muito mais significativos que os números da pesquisa do
Ibope divulgados na noite de quinta-feira foram os efeitos provocados pela
boataria nos três dias anteriores, de que a presidente Dilma Rousseff
apresentaria acentuada queda nos índices de intenção de votos.
Era pura especulação.
Ou, a julgar pela euforia prévia que se via nos corredores do Congresso e pelo
otimismo do mercado financeiro materializado na valorização das ações da
Petrobrás, Eletrobrás e Banco do Brasil na Ibovespa, torcida forte.
A pesquisa mostrou Dilma
no mesmo patamar de 43% na preferência do eleitorado, bem à frente dos
oponentes e ainda dentro do limite em que o Palácio do Planalto considera ser
possível acreditar em vitória no primeiro turno.
Conviria, porém, que
assessores palacianos prestassem atenção a esse dado de realidade algo
inusitado. Não é normal que notícias de caráter negativo para o governo gerem
uma expectativa positiva na economia e na política.
Natural, principalmente
no caso de governante que se posiciona com o favoritismo da presidente da
República, seria o contrário. O porto visto como seguro para políticos,
investidores e empresários em geral é o governo. Em tese, a oposição representa
a dúvida.
Quando se tem um
acontecimento como esse da semana passada é sinal de que há mudança de ares. No
mínimo. Durante três dias o zunzum correu em Brasília e São Paulo. Dizia-se que
uma pesquisa do Ibope registraria uma queda significativa de Dilma.
No Congresso,
notadamente na Câmara, os deputados cumprimentavam-se numa alegria quase
infantil. Vingativa. Como se a suposta derrocada confirmasse que a opinião
pública teria dado razão aos parlamentares no embate que haviam tido com a Presidência,
sob o comando do PMDB.
Na Bolsa de Valores,
três dias seguidos de alta nas ações das estatais atribuídas pelos próprios
operadores à expectativa da queda de Dilma nas pesquisas é o reflexo do
desagrado com a política governamental.
O esperado, porém, não
aconteceu. Mas os boatos e a reação a eles evidenciaram o ambiente de mau humor
generalizado com a presidente. No ambiente do Congresso, uma pergunta simples -
"Se Dilma não ganhar, para onde vai a base hoje governista?" - recebe
uma resposta objetiva: "Para Eduardo Campos ou Aécio Neves, qualquer um
dos dois, tanto faz, pois são políticos e compreendem muito melhor o mundo
político".
A preocupação desse
pessoal é com a perspectiva de piora nas relações de Dilma com o Congresso caso
ela seja reeleita. Como não poderia mais concorrer a mandato algum, os
parlamentares acham que a tendência seria que ela deixasse de lado de vez o
Legislativo. Por esse raciocínio, a recomposição da harmonia no Parlamento
passaria pela eleição de um dos candidatos da oposição. Ou pela candidatura do
ex-presidente Lula.
Dentro do PT já começam
a se inquietar mesmo aqueles que não achavam que era hora de voltar. Ninguém
sabe a confusão que o voluntarismo de Dilma é capaz de arrumar e se reduz a
esperança de que ela se reinvente a fim de transpor os percalços da campanha.
Refém. A
necessidade de barrar a CPI da Petrobrás e nova série de convocações para
explicar a compra da refinaria em Pasadena reforçam o poder do PMDB, que na
crise ficou ao lado da presidente. Vale dizer, o vice Michel Temer, o
presidente do Senado, Renan Calheiros e o senador José Sarney.
A bancada da Câmara não
pretende ajudar e espera que o Palácio não atue em tom de retaliação. Se houver
ameaças e confrontos, a animosidade latente pode se tornar de novo evidente.
A saída para o governo
nesse caso será fingir que quer "apuração rigorosa" e, nos
bastidores, atuar com suavidade e habilidade para que nada aconteça.
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