quinta-feira, 10 de maio de 2012

COPA DE 2014: UM GOL CONTRA O BRASIL

“O Brasil vai passar vergonha em 2014. (...) Vai ser o maior roubo da História” do país...

Romário
Ex-jogador de futebol e deputado federal (PSB-RJ), fazendo alusão aos interesses ilícitos, tanto do setor público – poderes executivo, legislativo e judiciário – quanto do privado – CBF, Fifa e congêneres –, que nortearam a elaboração da Lei Geral da Copa de 2014 no Brasil.


Agora é irreversível: nesta quarta-feira (9), por votação simbólica – é bom salientar –, o Senado Federal aprovou a Lei Geral da Copa, que, cumprindo com o protocolo, apenas fica no aguardo da sanção presidencial, que, obviamente, deverá ocorrer o mais breve possível, num tempo mais curto ainda do que, por exemplo, o de um espirro. Segundo a reportagem da jornalista Iara Lemos, divulgada no G1, o texto aprovado pela Câmara Federal e votado – melhor seria dizer referendado – pelo Senado “não sofreu mudança de mérito”, contrariando, contudo, o Estatuto do Torcedor, que – diga-se de passagem – é uma lei federal, já que, durante o período da Copa do Mundo, já está suspenso um trecho do referido documento que veta a venda de bebidas alcoólicas em estádios brasileiros. O motivo da suspensão? “A venda de bebidas é uma exigência da Federação Internacional de Futebol (Fifa) em razão de acordos com patrocinadores do Mundial”. Ou seja, liberou geral!

 


Liberou, mas é bom que se saiba que nem todos os senadores presentes à votação em plenário por mais de três horas aprovaram, mesmo que simbolicamente, de livre e espontânea vontade. Foi o caso, por exemplo, do senador Humberto Costa (PT-PE), que “criticou a permissão de venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante os jogos”. Para ele, o Estatuto do Torcedor foi uma grande conquista da sociedade brasileira e “a exigência da Fifa é irracional”. Ex-ministro da Saúde no governo Lula, Humberto Costa acrescentou que, sem alternativas, a Lei Geral da Copa seria votada, mas sob o protesto de muitos senadores. A relatora do texto no Senado, por sua vez, Ana Amélia Lemos (PP-RS), se mostrou indignada com a venda de bebidas nos estádios, mas disse que a “pressa do governo” federal impediu que fosse feita qualquer tipo de alteração nesse sentido, deixando todos “numa situação sufocante”. Claro! Afinal, não foi senão a cobra a fumar, expelindo cada vez mais fumaça nas suas contínuas baforadas, que provocou toda a lenga-lenga de debates estéreis dentro e fora do Congresso Nacional acerca de uma lei ainda mais estúpida do que o próprio evento em si. Nossa! Quanto tempo e – vale salientar – recursos do contribuinte foram desperdiçados por interesses que, de tão sombrios, deixariam em pânico qualquer criança de hoje, visto serem ainda mais assustadores do que, por exemplo, o imaginário bicho papão que nos atemorizava na nossa infância ou, quiçá, do pedófilo que atrai meninos e meninas com um saquinho repleto de bombons...




Tempo! Quando chamei a Copa do Mundo de estúpida foi porque, de fato, ela o é. “Não que eu não goste de esporte. Ao contrário! Em tempos remotos, até já fui atleta – pratiquei ginástica olímpica, basquete, tênis, natação... –, considerando toda e qualquer atividade física, aliás, extremamente benéfica e necessária para a saúde humana”, escrevi na postagem Um barato que custa caro a todos nós, publicada no meu blog quando, em 2010, a África do Sul sediou o mundial. E isso sem falar que pouco importa o país que, de 4 em 4 anos hospede o evento. Tanto que desabafei: “Quando se fala em futebol – não há como negar –, eu penso logo em máfia, já que o esporte, não mais apenas recreativo, se tornou um instrumento de poder, através do qual é praticado um sem fim de atividades escusas, mais sujas, inclusive, do que qualquer lixão a céu aberto. Totalmente desprovido de ética...”. Assim, para quem tiver interesse em ler a referida postagem, cuja epígrafe, aliás, é assinada pelo saudoso Millôr (1924 - 2012) – jornalista, cartunista, humorista, dramaturgo, escritor e tradutor brasileiro –, basta clicar no link: http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2010/06/um-barato-que-custa-caro-todos-nos-o.html
 
 


Enfim! Preocupada com os rumos nebulosos que tomavam ao certos, bem como os desacertos, durante a elaboração da Lei Geral da Copa, escrevi um texto, intitulado A Copa dos rombos e o publiquei no meu blog no dia 21 de maio de 2011 (http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2011/05/copa-dos-rombos-um-coracao-sensivel.html), no qual não somente eu disse que la presidenta Dilma Rousseff deveria envergonhar-se “por autorizar a liberação de bilhões, sacados dos cofres públicos, para arcar com despesas que deveriam ser da Fifa”, enquanto “a rede hospitalar, a nível nacional, anda capenga, sem 1 centavo do governo federal para manter, por exemplo, os idosos que ficam nos corredores dos hospitais, sem assistência, à míngua – é deprimente...”, como também divulguei um alerta – motivo da postagem – feito dias antes pela advogada brasileira Andreza Smith, da organização não governamental Sodireitos, de que, com a Copa de 2014, os casos de exploração sexual no país, sobretudo de crianças e adolescentes, por turistas estrangeiros e nacionais, irão aumentar consideravelmente, lamentando, outrossim, que esse grave problema, que se constitui um crime, não estava nem sendo comentado, muito menos debatido – crime esse, segundo ela, de “alta lucratividade”, ainda mais quando sabemos que “o lucro anual produzido com o tráfico de pessoas [segundo informações do Ministério da Justiça], chega a 31,6 bilhões de dólares”... Em resposta, observei que, apesar do “problema” não está recebendo a devida atenção por parte das autoridades competentes nem constar nas pautas da mídia, eu, particularmente, já havia tocado no assunto, mais precisamente no dia 16 de junho de 2009, na postagem A Rota da cópula, que escrevi e publiquei no meu blog e na qual denunciei “que todas as cidades-sedes dos jogos da Copa de 2014 fazem parte da rota de inúmeros tipos de tráfico, principalmente o de mulheres”. À ocasião, ressaltei, ainda, que a mesma portagem havia sido republicada no dia 22 de outubro de 2011: http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2009/06/rota-da-copula.html



Bom! O fato é que o dia escolhido pela advogada para fazer o alerta não foi aleatório, ou seja, 16 de maio, eleito como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Tanto que, à oportunidade, “já com a garantia, por parte do governo federal, do Programa Turismo Sustentável e Infância, que prevê a execução do projeto Turismo e Prevenção à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a senadora Marinor Brito (PSOL-PA), conseguiu que uma demanda, de sua autoria, ou seja, a criação de uma CPI para investigar tráfico de seres humanos no Brasil, fosse aprovada”. Segundo, ainda, a postagem, “em muitos casos, há agentes do Estado envolvidos nessas transações ‘e, por isso, não se investiga a fundo’ esse tipo de comércio para lá de ilegal. E imoral. Pior! De acordo com as palavras da senadora, o país não se esforça de forma eficaz para coibir o tráfico de seres humanos e punir os seus responsáveis, os que cometem o delito, o crime. Daí que a referida CPI visa, exatamente, realizar raios-x do tráfico humano a nível nacional e internacional que atuam no tal mercado, que só tem como objetivo manter pessoas na condição de escravas. Quando não tiram os seus órgãos...”. Daí que, para concluir a postagem, comentei que, tempos atrás, o Ministério da Justiça havia lançado uma campanha contra o tráfico humano para tentar conscientizar a população brasileira a respeito do problema e estimular a denúncia, cujo tema era: Tráfico de pessoas: ajude o Brasil a não cair nessa armadilha. Afinal, como disse o escritor português José Saramago (1922 - 2010): — Estar informado sempre será preferível a desconhecer...




A situação, de fato, é tão gritante que, já em setembro de 2011, a Rede Evangélica Nacional de Ação Social - RENAS lançou oficial e antecipadamente uma campanha de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes na Copa de 2014, cujo slogan é: Bola na Rede: um gol pelos direitos de crianças e adolescentes. De acordo com a organização, “o Governo Federal estima a vinda de 500 mil turistas na época da Copa, o que corresponde a 10% do total que o país recebe em um ano”. Isso sem falar que o que eu disse na postagem A Rota da cópula é corroborado por um levantamento da Secretaria e Direitos Humanos da Presidência da República. Segundo, ainda, a RENAS, “de janeiro a setembro de 2010 foram registradas 698 denúncias de exploração sexual infantil nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 e em João Pessoa (esta cidade foi incluída na pesquisa porque é considerada cidade-dormitório, devido à proximidade com Recife e Natal)”. Em Fortaleza, por exemplo, “agências de viagem chegam a fazer propagandas sobre facilidades de sexo no país”, diz uma nota da organização. E, por aí, vai...


Uma mascote que deveria ser nome de bola

“A ideia não era ser um boneco ou uma figura de cartoon, sem desmerecer isso, mas sim animal da biodiversidade brasileira...”.

Rodrigo Castro
Biólogo brasileiro, fundador e secretário-executivo da Associação Caatinga referindo-se à escolha do tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), proposta da organização, para ser a mascote da Copa do Mundo de 2014, como a um “legado ecológico”.


Concorrendo ao título de mascote da Copa de 2014 com a onça-pintada, a arara, o jacaré – quiçá com demais seres da fauna brasileira –, bem como com o folclórico Saci-Pererê, o tatu-bola, que se encontra ameaçado de extinção, podendo, entretanto, se extinguir em dez anos, é natural da caatinga e do cerrado, embora raríssimos exemplares possam ser encontrados no norte de Minas Gerais, em estados do Nordeste e em algumas regiões do Centro-Oeste, e, segundo o biólogo, que culpa a caça, o desmatamento e as queimadas pelo desaparecimento crescente da espécie, é 100% brasileiro. A característica, contudo, da espécie, é que, quando ameaçado, o tatu-bola, para se proteger, se curva sobre si mesmo, adquirindo a forma de uma bola. Daí, a meu ver, sobretudo considerando os aspectos nebulosos nos quais se desenrolou a elaboração da Lei da Copa de 2014, a escolha do animal para ser a mascote do megaevento resumiu-se a um grande equívoco. Na verdade, a mascote da Copa de 2014 deveria ser a onça-pintada, o maior dos predadores das matas brasileiras. Afinal, não foi dilapidando o erário público – e continuará sendo assim –, que se comportaram muitos dos que participaram da elaboração da Lei da Copa de 2014, estando dentro ou fora dos bastidores? Senão, uma segunda alternativa para mascote do evento seria um dos nossos mais cultuados mamíferos, que é a preguiça – desnecessário mencionar os verdadeiros predicados do bicho que, inclusive, levou muita gente a pensar no seu nome, mesmo que por mera especulação, para ser a mascote.

 


O fato, convenhamos, é que o tatu-bola deveria realmente ter sido eleito não para mascote, mas para dar nome à bola da Copa de 2014. Aí, sim, seria uma escolha não somente acertada, mas de extrema criatividade. Ocorre que, como não estamos referindo-nos a artistas, mas com seres desprovidos de toda e qualquer sensibilidade – a não ser, claro, a de sentir na palma da mão o tilintar de certos dobres –, não poderíamos esperar nada parecido. Ah!


A pergunta que não quer calar...

 Não roubarás – 7º dos dez mandamentos enviados por Deus ao profeta Moisés...

Bom! Na língua portuguesa, mas apenas para os mais íntimos, o verbo transitivo direto burlar significa – digamos – cometer fraude ou lesar, algo ou alguém, bem como lograr, enganar, ludibriar... – dá até para rimar com driblar, o que faz um jogador com outro por meio da bola. Tá! Quem sabe não seria uma boa sugestão chamar a bola da Copa de 2014 de Burlinha?! Afinal, convenhamos, soa até bem melhor do que, por exemplo, Gorduchinha... Enfim! Na última Copa do Mundo, ocorrida na África do Sul em 2010, o nome escolhido para a bola do evento foi Jabulani, que, em Bantu isiZulu, uma das onze línguas oficiais do país, significa celebrar. Infelizmente, no Brasil, com a copa de 2014, não temos nada a comemorar... Por fim, o que me importa é que, no caso em questão, estou com a minha consciência tranquila, pois não elegi ninguém que votou na Lei Geral da Copa. Assim sendo, não sou conivente com as aberrações que já foram cometidas nem com as demais que, com certeza, ainda estão por vir em nome sabe-se lá do quê. A minha única curiosidade, contudo, é a de saber quantos miligramas de Bromazepam certas pessoas tomam a noite para dormir, pois não consigo imaginá-las dormindo o sono dos justos, como se nada tivesse acontecido de anormal, após jornadas e mais jornadas de atos e decisões – não importam quais – que, cada vez mais, apenas colocam em xeque a sua suposta idoneidade, revelando, muitas vezes, quem elas são de verdade. A solução? Simples: está em suas mãos...






C’est tout! E, por hoje, basta.




Nathalie Bernardo da Câmara






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