“Não há pior vilão do que o vilão consciente...”.
Miguel de Cervantes (1547 - 1616)
Romancista, poeta e dramaturgo espanhol.
Instalada oficialmente nesta quarta-feira (16), a Comissão Nacional da Verdade irá se dedicar exclusivamente à investigação de violações de direitos humanos cometidas por agentes do Estado brasileiro durante a ditadura militar (1964 - 1985). Em entrevista ao Estadão, o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, um dos sete integrantes escolhidos por la presidente Dilma Rousseff para compor a comissão, deixo claro: “O único lado é o das vítimas, o lado das pessoas que sofreram violações de direitos humanos. Onde houver registro de vítimas de violações praticadas por agentes do Estado a comissão irá atuar”. Ou seja, o foco da comissão são os militares, independentemente das suas ignóbeis patentes, os vis torturadores e todos aqueles que, de certa forma, contribuíram ou foram coniventes, na condição de agentes públicos, com os atos bárbaros cometidos por tão nocivo e pernicioso regime. E é exatamente, segundo a advogada Rosa Cardoso, igualmente membro da Comissão da Verdade, o que está na pauta do dia, ou seja, a revisão das condutas de agentes públicos, não importando o seu status durante a ditadura militar, se uma autoridade considerada de primeira grandeza ou o mais medíocre dos seus subalternos. Advogada de inúmeros presos políticos – entre os quais Dilma Rousseff, presa nos anos 70 por ser militante da organização guerrilheira Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) –, Rosa Cardoso foi diplomática em relação a reivindicações de militares da reserva que insistem que a comissão investigue a resistência armada, declarando que, por mais que eles tenham a liberdade de se expressarem, o legado de sangue do regime que impuseram ao país não é página virada na História do Brasil.
No Rio de Janeiro, o presidente do Clube Naval, almirante da reserva Ricardo Veiga Cabral, indignado com as investigações, que ele considera “revanchismo”, dos agentes públicos envolvidos nas atrocidades cometidas pelo regime militar no Brasil, criou a Comissão da Verdade Paralela, que contará com um grupo jurídico para assessorá-la no acompanhamento previsto das reuniões da Comissão Nacional da Verdade – eita que povinho perigoso! No entanto, apesar da sua arrogância, o militar ainda não sabe dizer de que forma se dará tal acompanhamento – informação essa, inclusive, que, de tão absurda, me motivou a incluir nesta postagem a charge acima. Então! A iniciativa, contudo, que mais sugere uma provocação aos civis, conta, em todos os sentidos, com o apoio do Clube Militar e do Clube da Aeronáutica, que, aliás, têm sido os porta-vozes diretos dos militares da reserva e da ativa, já que, supostamente obedientes aos regulamentos que, a priori, os disciplinam, não podem se pronunciar a respeito das investigações da Comissão Nacional da Verdade. De qualquer modo, o primeiro encontro da tal Comissão da Verdade Paralela foi marcado para esta quinta-feira (17), quando se pretende definir a atuação dos seus membros. Só que o mais grave de tudo é que isso não é uma piada, nem mesmo de mal gosto, sendo, entretanto, até compreensível. Afinal, como diz certo ditado popular, “pau que nasce torto morre morre torto”.
Nathalie Bernardo da Câmara
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