sábado, 1 de agosto de 2009

1° DE AGOSTO:
DIA NACIONAL DO SELO



“Considere o selo postal: a sua utilidade consiste na habilidade de aderir a algo até que ele atinja o seu destino...”.

Josh Billings (1818 - 1885)
Escritor americano


Há exatos cento e sessenta e seis anos, em 1843, nascia o selo postal brasileiro. Ou melhor, uma série de três selos, intitulada Olhos-de-boi. Produzidos à época do imperador dom Pedro II (1825 - 1891), os trigêmeos, digamos assim, constituíam-se em peças lisas, de cor preta, sem picotagem e valiam, respectivamente, 30, 60 e 90 réis. Terceira série de selos postais emitida do mundo é, até hoje, uma das mais cobiçadas por filatelistas de todo o planeta e custam os olhos da cara. Além do seu pioneirismo, conta, também, para caracterizar o grau de raridade dos Olhos-de-boi – eu já fui filatelista e nunca vi um sequer –, a sua tiragem limitada: o de 30 réis, por exemplo, teve uma tiragem final de 1.148.994 selos. Já o de 60 réis, 1.502.142, enquanto o de 90 réis 349.182 selos.

Em 1866, contudo, os selos passaram a representar a efígie de dom Pedro II, quando teve início a picotagem; em 1878, foi emitido o selo auriverde, o primeiro selo postal em duas cores: verde e amarelo; em 1900, é emitida a primeira série de selos comemorativos, aludindo ao quarto centenário do achamento do Brasil. Anos antes, em 1889, foi criado o primeiro Museu Postal Brasileiro. À época, os selos adesivos já circulavam fluentemente no Brasil e algures. Sem selo, contudo, fossem os Olhos-de-boi ou outro qualquer, seguiu a famosa carta do português Pero Vaz de Caminha (1450 - 1500) a dom Manuel I (1469 - 1521), escrita no dia 1° de maio de 1500, que descreve ao rei de Portugal as características da Terra dos Papagaios e é considerada a certidão de nascimento do Brasil. Rara, rara!


Falando em raridades...




O PAU VERMELHO

“Nessa costa, não vimos coisa de proveito, exceto uma infinidade de árvores de verzino...”, escreveu o navegador italiano Américo Vespúcio (1454 - 1512), referindo-se ao pau-brasil, em carta intitulada Lettera a Soderini, no dia 4 de setembro de 1504, após viagem realizada ao Brasil, entre maio de 1501 e julho de 1502.


O pau-brasil nunca foi um privilégio exclusivo do Brasil. A diferença é que, nas terras recém-achadas pelos portugueses, em 1500, a árvore nascia em abundância em meio à exuberância da Mata Atlântica, mais precisamente entre o Rio Grande do Norte e o Rio de Janeiro. Segundo o jornalista Eduardo Bueno, em seu livro Náufragos, traficantes e degredados – As Primeiras expedições ao Brasil, o fato é que, quando o pau-brasil foi encontrado no Brasil, a Europa já estava familiarizada com a árvore desde o séc. XI. Exportada da Sumatra para a Índia desde tempos imemoriais, o pó de sapang (do sânscrito patanga ou vermelho), tingia “as sedas e os linhos trajados pelos nobres do Oriente”. Da índia, pelo mar vermelho, os mercadores árabes a levavam ao Egito.

Ainda segundo Bueno, as primeiras referências ao pau-brasil na Europa datam de 1085, quando do desembarque, registrado, de uma kerka de bersil (carga de bersil) nas alfândegas de Saint-Omer, na França. Pouco depois, o termo francês teria evoluído para Brezil. Em italiano, bracire ou brazili e, mais tarde, verzino. Como o nome de Brasil, a cobiçada árvore já estava em Portugal e na Espanha por volta de 1220. No Brasil, é provável que as primeiras toras de pau-brasil tenham sido extraídas logo após o seu achamento. No entanto, não era tão eficiente como o seu similar oriental, que, por sua vez, já havia se tornado um produto caríssimo – fato que contribuiu para a procura do pau-brasil da Terra dos Papagaios, que, aliás, era de uma fartura sem precedentes.

Classificado em 1789 pelo botânico francês Jean Baptiste Lamarck (1744 - 1829), o pau-brasil do Brasil foi chamado de caesalpinia echinata, uma homenagem a outro botânico, o italiano Andrea Cesalpino (1519 - 1603). Já a denominação echinata provém do étimo grego ouriço e se refere aos espinhos abundantes da árvore, igualmente conhecida como pau-de-tinta, o bois rouge (madeira vermelha) dos normandos, e ibirapitanga, o pau vermelho dos índios. Na língua celta, foi chamado de bress, origem do inglês to bless, que significa abençoar. Nascia, assim, o nome Brasil, de onde, no séc. XVI, portugueses e franceses “levaram, em média, oito mil toneladas da madeira por ano para a Europa”. Uma devastação. Afinal, cada embarcação levava cerca de cinco mil toras por viagem.

Bueno diz, ainda, que, já em 1558, as melhores árvores só podiam ser encontradas a mais de 20 km da costa. Tanto que, no início do séc. XVII, a fim de evitar o corte indiscriminado do pau-brasil, a Coroa portuguesa passou a controlar a sua extração, pondo, inclusive, “guardas-florestais nas zonas onde a extração era mais comum”. No entanto, prossegue o jornalista, “a árvore estava virtualmente extinta”. E com a ajuda, é claro, dos cordatas nativos, que derrubavam, descascavam, atoravam e transportavam os troncos de pau-brasil até as embarcações portuguesas e francesas. Em troca, inicialmente, eles recebiam espelhos, vidrilhos, contas, pentes e pedaços de pano, entre outras quinquilharias; depois, tesouras, anzóis, facas e machados.





Poderíamos dizer que foi assim que “as tribos tupis do litoral brasileiro saíram da Idade da Pedra para ingressar na Idade do Ferro. Uma revolução instantânea. (...) Atualmente, a árvore cujo nome foi usado para batizar o Brasil sobrevive praticamente apenas em reservas florestais e jardins botânicos e só lentamente começa a ser reintroduzida em seu ambiente natural”. A título de curiosidade, “os homens engajados no tráfico de pau-brasil eram chamados de brasileiros”, que terminou se estendendo a todos os nascidos no futuro país. Porém, “se as regras gramaticais tivessem sido corretamente aplicadas, como disse o historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen (1816 - 1878), citado pelo jornalista Eduardo Bueno, os nativos do Brasil deveriam se chamar brasilienses”. Tarde demais para corrigir...


PLANTEMOS PAU-BRASIL!



Nathalie Bernardo da Câmara
Registro profissional de jornalista:
578 - DRT/RN, desde 1989




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