sábado, 8 de agosto de 2009

BARRO A 3x4



“O meu trabalho é autêntico desde a matéria-prima...”.

Etewaldo Santiago (1939 - 2006)


Genuína. Assim é a arte de Etewaldo Cruz Santiago, que nasceu em Açú – terra dos oleiros –, no Rio Grande do Norte, no dia 14 de janeiro de 1939. Neto de uma louceira e de uma rendeira, gostava, quando criança, de mexer com terra, levando, por isso, palmadas da mãe. “Dava vermes”, ela dizia. Etewaldo? Nada! Não ouvia os conselhos da mãe e continuava a brincar com o barro, criando e moldando os seus próprios brinquedos. Então, novos brinquedos, novas palmadas. A palma que o impulsionava a modelar a sua folia. Mas, já grande, em Natal, trabalhou como letrista. Depois, mudou-se para Ceará-Mirim, onde trabalhou como fotógrafo, fazendo fotos 3x4 e, em seus momentos ociosos, entalhava pequenas peças de madeira.

Mas, Etewaldo gostava mesmo era da terra e, um dia, um cunhado, que fazia bonecos de barro, viu a sua produção com madeira e lhe ensinou a fazer o mesmo com argila. Foi quando tudo começou. Desde então, foram cerca de quarenta anos no ofício. No início, contudo, não foi tão fácil assim manter-se e manter a família também, trabalhando, para sobreviver, na Base Naval de Natal, onde aprendeu noções de desenho arquitetônico – conhecimentos que lhe foram de grande valia para o feitio das suas peças, que costumavam ter 20 cm – feitas com o olhar clínico de um ex-fotógrafo –, mas, sob encomenda, poderiam chegar a 1,70 cm, tendo sido, inclusive, agraciado com várias homenagens, nacionais e internacionais.




“Você não pode conceber um corcunda em porcelana”.

Etewaldo Santiago


Em várias edições da Feira Internacional de Artesanato – FIART, por exemplo, realizada anualmente em Natal, já foi, além de homenageado, premiado e reverenciado oficialmente. Peças de sua autoria estão por toda parte: no Rio Grande do Norte e em vários outros estados do Brasil, inclusive no Palácio da Alvorada, em Brasília, além do Museu do Vaticano e da Casa Branca, nos Estados Unidos. A sua temática, contudo, são idosos, agricultores, pescadores, rendeiras, cangaceiros, violeiros, lavadeiras... Tudo muito expressivo, retratados em sua labuta diária, revestidos em uma tintura em preto com um preparo de sua fabricação, seja a escultura modelada com argila, cimento ou ferro.


O Beijo


Uma das suas mais polêmicas esculturas é O Beijo, que data dos anos setenta, localizada no Bosque dos namorados, em Natal, hoje, entrada para o Parque das Dunas, criado através do Decreto Estadual nº 7.237 de 22/11/1977, sendo a primeira Unidade de Conservação Ambiental implantada no Estado, com 1.172 hectares de mata nativa, parte integrante da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica Brasileira. Motivo de uma disputa jurídica que durou sete anos, O Beijo faz parte do imaginário de todos os que, desde o seu início, conhece o bosque, nele brincava, se criança fosse, ou namorava.

A disputa jurídica envolveu, portanto, Etewaldo Santiago e uma empresa de telefonia do Rio Grande do Norte, que confeccionou cartões telefônicos da referida escultura, sem sequer dar o crédito ao autor. Foi, então, movida uma ação contra a empresa de telefonia, pleiteando indenização por danos morais. Etewaldo, contudo, faleceu no dia 14 de junho de 2006, antes da sentença do juiz dar-lhe ganho de causa. Dois dos seus oito filhos, Ednaldo, o Naldo, e Edvonaldo, o Careca, herdaram a sensibilidade artística e a habilidade manual paterna e, desde adolescentes, vivem do ofício de escultor, a exemplo do pai, que retratava os costumes do povo potiguar.


Nathalie Bernardo da Câmara
Registro profissional de jornalista:
578 - DRT/RN, desde 1989



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