BRASÍLIA - A senadora Marina Silva (PT-AC), ex-ministra do Meio Ambiente do governo Luiz Inácio Lula da Silva por mais de cinco anos, confirmou ontem sua saída do PT, depois de 30 anos de filiação. Com a decisão, Marina avança nas negociações para se filiar ao Partido Verde (PV) e disputar a Presidência da República em 2010. Uma eventual candidatura da senadora ao Palácio do Planalto pode causar prejuízos tanto à estratégia eleitoral governista quanto à da oposição.
Marina deixa o PT sem receber de Lula um gesto no sentido de tentar demovê-la da decisão. No PV, a adesão da ex-ministra e sua candidatura a presidente são consideradas certas. Ontem, ela anunciou apenas a saída do PT, mas admitiu sentir-se " livre " para discutir o convite do PV para participar de uma " revisão programática " , com atualização do programa e do estatuto. O objetivo é apresentar ao país um modelo de desenvolvimento baseado na " sustentabilidade ambiental, social e econômica " .
Em carta ao presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), Marina lista algumas " conquistas " de sua gestão no Ministério do Meio Ambiente - a queda do desmatamento da Amazônia, a estruturação e fortalecimento do sistema de licenciamento ambiental e a criação de 24 milhões de hectares de unidades de conservação federal - e diz que " faltaram condições políticas para avançar no campo da visão estratégica " . Em entrevista, afirmou que o meio ambiente " não deveria ser algo periférico, onde você faz uma militância quase que à margem do processo decisório do governo " .
Ao comentar a decisão de Marina, Berzoini descartou a possibilidade de o partido reivindicar, na Justiça Eleitoral, o seu mandato no Senado. Segundo ele, a ação " não faria sentido " , já que a ex-ministra " não agiu em detrimento do PT " , nem " em postura dissonante " da legenda.
Decisão tomada em 2007 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), posteriormente confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), deu aos partidos o direito de preservar a vaga de político que, eleito pela sigla, pedir desfiliação sem justa causa. O partido tem 30 dias, depois do pedido de desfiliação, para pedir à Justiça Eleitoral a decretação da perda do mandato.
Na carta ao dirigente petista, a senadora criticou os " equívocos da concepção do desenvolvimento centrada no crescimento material a qualquer custo " e disse ter desistido de lutar pela questão ambiental dentro do PT. " É o momento não mais de continuar fazendo o embate para convencer o partido político do qual fiz parte por quase 30 anos, mas sim o do encontro com os diferentes setores da sociedade dispostos a se assumir, inteira e claramente, como agentes da luta por um Brasil justo e sustentável, a fazer prosperar a mudança de valores e paradigmas que sinalizará um novo padrão de desenvolvimento para o país. "
Na entrevista, a ex-ministra confirmou que a possibilidade da disputa à Presidência da República está sendo discutida. Uma eventual candidatura de Marina a presidente é considerada prejudicial ao desempenho eleitoral da ministra Dilma Rousseff (chefe da Casa Civil), porque, em tese, ela terá votos no eleitorado petista. O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), também pré-candidato a presidente, afirmou que Marina "implode" a candidatura de Dilma.
Por outro lado, tucanos admitem que o governador José Serra (SP), possível candidato do PSDB, teria problemas no Rio de Janeiro, onde o PV é aliado dos tucanos. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), até ontem pré-candidato a governador com apoio do PSDB, reconheceu a dificuldade com a mudança de cenário. " Minha situação é uma variável não resolvida dessa história " , afirmou.
Na primeira pesquisa de intenção de voto para a Presidência da República em que seu nome foi incluído - realizada pelo instituto Datafolha e divulgada no último domingo -, Marina aparece com 3%. É pouco, mas ela lembra que começou com 3% da preferência do eleitorado do Acre na primeira campanha para o Senado. " É um desafio programático e não pragmático " , diz ela sobre sua mudança de partido, decisão que - afirma - não está subordinada à possibilidade de se candidatar a presidente.
O líder do PV na Câmara, deputado Sarney Filho (MA), afirmou que há conversas com outras legendas, como P-Sol e PSC, sobre uma eventual aliança na campanha, para aumentar o tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão. Mas, assim como Gabeira, o líder analisou que o partido terá de utilizar " instrumentos diferentes dos tradicionais " para difundir a candidatura, como as ferramentas disponíveis na internet (blogs, twitter etc.). " A blogosfera pode ser um meio de superar a falta de espaço na televisão " , afirmou o deputado.
Na entrevista, Marina criticou avaliações segundo as quais seu discurso, numa campanha eleitoral, seria monotemático, restrito à questão ambiental. " Só aqueles que ainda não entenderam que falar de desenvolvimento sustentável é dar resposta a todos os setores da sociedade é que acham que sustentabilidade é algo monotemático. O argumento mostra fragilidade de quem não compreende o conceito."
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), disse que, se for candidata, a senadora " tira votos de todos os candidatos, inclusive da oposição " . Considerou uma escolha pessoal " difícil " votar em Dilma ou Marina, por considerar ambas " excelentes " . Mas declarou apoio à ministra, pré-candidata do seu partido.
O senador Paulo Paim (PT-RS) lamentou a decisão tomada pela ex-ministra. Citando outros ex-petistas que podem disputar a Presidência - Heloísa Helena (P-Sol) e Cristovam Buarque (PDT) -, disse que isso " divide as forças que estariam aglutinadas na Frente Popular e democrática, liderada pelo PT " .
Raquel Ulhôa - Transcrito do Valor econômico
Para refletir...
CONTRA A OBRIGATORIEDADE DO COMPARECIMENTO AS URNAS:
PELO VOTO FACULTATIVO!
Nathalie Bernardo da Câmara
Registro profissional de jornalista:
578 - DRT/RN, desde 1989
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