segunda-feira, 3 de agosto de 2009

CARTA A JK



Vê o absurdo, JK? Tão nobre casta do judiciário agora voltando-se contra uma categoria profissional, já, historicamente, tão injustamente perseguida! Isso é ferir a democracia. “Além disso – prossigo no artigo –, os ilustres magistrados feriram e muito os nossos direitos trabalhistas e conquistas ao longo de quase quarenta anos. Que tirem, também, então, o diploma de medicina dos obstetras! Não é isso o que eles querem, ser simplistas? Aí, retornaríamos, de bom grado ou não, ao tempo das parteiras. Que tirem, ainda, o diploma dos farmaceûticos e retornemos aos boticários, sem esquecerem de tirar, claro, a obrigatoriedade do diploma de advogado. Falando nisso, qual é mesmo a serventia de um advogado? Sim, porque, além de cega, a Justiça é capenga, caminhando a passos trôpegos em busca de uma identidade”.

Ainda no artigo, aproveito para questionar a utilidade de um diploma de advogado... Seria o de, entre outras prerrogativas, “outorgar o direito a um juiz qualquer de portar uma beca para fazer bonito quando, arrogantemente, bate um martelo, decidindo o destino de outrem, muitas vezes condenando, injustamente, um inocente? E o procurador da República, André de Carvalho Ramos, que disse que a lei nº 972/69 insituiu algemas na liberdade de informar e ser informado? Quanta sandice! Só que, se é assim, eu me dou ao direito de dizer o mesmo para as leis exdrúxulas que o infeliz provavelmente defende em tribunas desavisadas das suas nada boas intenções. Vai ver é o que o tal procurador e os senhores ministros do STF desejam, ou seja, neutralizar os jornalistas, transformando-os em um bloco de marionetes”.

Sim, porque, destituídos de discernimento e senso crítico, não mais denunciaríamos, por exemplo, “os gordos e, muitas vezes, aviltantes salários do Judiciário e outras benesses da categoria”. Não denunciaríamos, também, o cinismo de políticos que só sabem saquear os cofres públicos deslavadamente, na maior cara de pau, como se o povo fosse palhaço. De repente, o bobo da corte tupiniquim, sobretudo atualmente, quando o senador José Sarney (PMDB-AP) – também não é do seu tempo – tornou-se protagonista de um escândalo polvoroso, que arrepia até Medusa – quero dizer, a medula! O homem é de uma esquizofrenia total, já que, para mentir como mente, termina que até ele acredita em suas próprias mentiras. Só pode! Tanto que o slogan do infeliz deveria ser: cinqüenta anos de vida pública; cinqüenta anos de demagogia. Haja imoralidade!

É uma tentativa de enganar o povo sem precedentes na história da política brasileira. Pior! Com a conivência dos três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, sendo a única exceção a imprensa. Daí termos sido severamente punidos pelo senhor Gilmar Mendes? Mas, JK, nós vamos dar a volta por cima e restituir à categoria os seus direitos legais e colocar esse déspota em seu devido lugar. Quanto a Sarney, são cinqüenta anos de vida pública enganando o povo brasileiro. Quer saber? Bem feito! Afinal, quem mandou votar e eleger um bandido com PhD em sordidez? O mais grave, contudo, é que o presidente Lula – outro que não é do seu tempo – apóia Sarney em tudo o que ele faz e diz. E a situação está crônica, já que os podres de Sarney estão todos vindo á tona e, sempre que isso acontece, Lula diz que nada sabe.


Juscelino Kubitschek (1902 - 1976)




Caro Juscelino, escrevo esta por não saber mais a quem recorrer para tentar entender a política brasileira, que, a passos acelerados, caminha, cada vez mais, em direção à bancarrota. Está uma vergonha só! Cada dia é um novo escândalo e, a cada novo escândalo, o povo, cada vez menos, sente vontade de votar e de eleger políticos de carteirinha, cujo único propósito é o de, no poder, lesar o erário público, construindo o seu próprio tesouro, em detrimento daqueles que os elegeram e dos que não os elegeram também. A coisa anda tão descarada que, outro dia, o juiz Gilmar Mendes – não é do seu tempo –, ministro do Supremo Tribunal Federal, votou pelo fim da exigência do diploma de jornalista e do devido registro no Ministério do Trabalho e Emprego – MTE para o exercício regular da profissão, cuja matéria, aliás, ele foi o relator.

Votaram igualmente pelo fim da exigência do referido diploma os ministros: Carmén Lúcia, Ricardo Lewandowsk, Eros Grau, Carlos Ayres Britto, Cezar Peluzo, Ellen Gracie e Celso de Mello, alegando, inconsistentemente, que uma série de escritores exerceu a profissão de jornalista sem diploma e que o melhor caminho para os veículos de comunicação é, portanto, a auto-regulamentação. À época, quando eu soube, escrevi um indignado artigo, ressaltando, contudo, que o único que não participou do estupro declarado contra a categoria de jornalistas e votou politicamente correto, ou seja, pela obrigatoriedade do diploma e do registro no MTE, foi o ministro Marco Aurélio Mello. Assim, a lei de nº 972/69, que dispunha sobre o exercício da profissão de jornalista, caiu. E às vésperas de completar quarenta anos de vida, no próximo dia 17 de outubro.

E prossegui, dizendo que quando o decreto foi publicado no Diário Oficial da União, no dia 21 de outrubro de 1969, “esta que subscreve a presente postagem tinha um ano e seis meses de idade, literalmente oito meses mais velha do que o Ato-Institucional nº 5, praticamente crescendo juntos. (...) Recuso-me, portanto, a acreditar que essa decisão anti-democrática tenha sido fruto de um tédio qualquer dos incautos ministros do STF”. Que esses ministros, então, “tivessem tirado as becas e fossem pescar ou velejar no lago Paranoá! Tão pertinho! Do lado! Eles só não podiam ter metido o bedelho justo nos direitos da Imprensa, que, inclusive, é o quarto dos quatro poderes, vindo atrás, diga-se de passagem, do aparentemente incorruptível Judiciário. Eu queria ver se sem um diploma de advogado, esses mesmos ministros teriam chegado onde chegaram”.



Lula é assim, JK: não vê nada, não ouve nada... É outro que só tem nos dado desgosto. E ainda quer eleger o seu sucessor, ou melhor, a sua sucessora, a atual ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Dizem, inclusive, que a mulher é tão poderosa que causa medo até nos homens do staff de Lula. É só ela chegar, que todos se calam e ouvem com atenção. Obedecem com prontidão. Não questionam e nem se posicionam. Nada! Assim, até eu estou com receio de votar nela. Falando nisso, está na hora de o voto passar a ser facultativo no Brasil. Chega de obrigatoriedade! E é melhor não comparecer as urnas, se for o caso de não querermos votar, ao sair de casa para anular voto. É um desgaste só! Infelizmente, políticos ímprobos não querem tamanho avanço na legislação eleitoral brasileira.

Afinal, se o comparecimento as urnas deixar de ser obrigatório, mas facultativo, a maioria que, hoje, está no poder, não vai se reeleger, conseqüentemente, não vai mais desviar verbas públicas, ter garantidos certos favorecimentos. Não vai mais roubar. Vai perder a mamata, como diz o povo, já que as tetas da vaca irão amamentar outras bocas. Falando nisso, o que o senhor acha da obrigatoriedade de um diploma superior para seguir a carreira de político, sendo a ética a principal disciplina do curso? Talvez residisse aí solução para evitar a malandragem que assola todas as esferas do poder, sejam elas em âmbito municipal, estadual ou federal. Quem sabe, assim, JK, a política nacional não seria moralizada e daríamos um exemplo de cidadania? Bom! A possibilitada foi levantada...


Nathalie Bernardo da Câmara
Registro profissional de jornalista:
578 - DRT/RN, desde 1989



P.S.:O seu Catetinho virou museu. Um dia, inclusive, ao visitá-lo, fotografei os seus livros de cabeceira. Curiosamente, estão todos colados, um ao outro, com uma fita plástica, amarelada pelo tempo. O problema é que, caso alguém invente de tirar a tal da fita, vai rasgar as capas dos seus livros.

Foto: Nathalie


Foto: Nathalie

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