DAS NUVENS AO FUNDO DO MAR...
“Há mais segredos entre o céu e a terra do que pode supor a nossa vã filosofia...”.
William Shakespeare (1564 - 1616)
Dramaturgo e poeta inglês
“Da Cidade Maravilhosa à Cidade Luz... Na rota do vôo 447, da Air France, do Rio de Janeiro a Paris [no dia 1° de junho de 2009], após sobrevoar o arquipélago de Fernando de Noronha, no Oceano Atlântico, e já nos arredores dos chamados penedos de São Pedro e São Paulo [em uma área denominada Amazônia Azul, de proteção ambiental], ainda na costa brasileira, o medo: chuvas, trovões, turbulências e raios – fenômenos climáticos rasgando a cortina da madrugada escura. De repente, o nada. Só o mar”, com ondas de mais de dois metros de altura e profundidades variando de três a quatro mil metros, além de cadeias montanhosas no fundo do mar e de fortes correntes marítimas, tragando, inexoravelmente, as 228 pessoas que estavam a bordo da aeronave: 126 homens; 82 mulheres; 07 crianças; 01 bebê (passageiros) e 12 tripulantes... (Vôo 447 – A Bagagem do navegante, 02 de junho de 2009).
À época, segundo informações fornecidas pelo jornal O Estado de São Paulo, há 643 dias sob censura, estavam no vôo 447: 01 sul-africano; 26 alemães; 02 americanos; 01 argentino; 01 austríaco; 01 belga; 58 brasileiros; 05 britânicos; 01 canadense; 09 chineses; 01 croata; 01 dinamarquês; 02 espanhóis; 01 estoniano; 61 franceses; 01 gambiano; 04 húngaros; 03 irlandeses; 01 islandês; 09 italianos; 05 libaneses; 02 marroquinos; 01 holandês; 03 noruegueses; 01 filipino; 02 poloneses; 01 romeno; 01 russo; 03 eslováquios; 01 sueco; 06 suíços e 01 turco. Entre os brasileiros, a jornalista Adriana Van Sluings, (1969 - 2009), que, aliás, tinha medo de voar e estava receosa em embarcar, e o compositor e regente Silvio Barbato (1959 - 2009), que, de Paris, seguiria para Kiev, capital da Ucrânia, onde iria apresentar a sua ópera Carlos Chagas e onde também faria uma palestra sobre a música russa e brasileira.
Nos últimos dias, técnicos do Bureau d’Enquêtes et d’Analyses - BEA, agência de investigação de acidentes aéreos da Francesa, localizaram as duas caixas pretas do Air Bus A330 do vôo 447 da Air France desaparecidas desde a tragédia. Uma delas, que contém dados do vôo, foi localizada e rebocada por um robô-submarino no último domingo, 1°, e, na segunda-feira, 2, foi a vez do segundo dos módulos, que contém a gravação de voz na cabine da aeronave, ser resgatado. Segundo Jean-Paul Troadec, diretor do BEA e responsável pelas investigações, o achado por ser considerado “um grande passo para a compreensão do acidente”, embora a preocupação da sua equipe seja com a recuperação da gravação dos dados das caixas pretas, já que o óxido e a pressão a quase quatro mil metros de profundidade, onde até então elas se encontravam, possa ter sido seriamente danificada.
A questão, contudo, é: como as duas caixas pretas podem ter sido encontradas em tão poucos dias, logo após o início das buscas submarinas em águas do Oceano Atlântico, que tiveram início no dia 25 de abril, na área onde, ainda à época do acidente, foram localizados destroços da aeronave? Tamanha eficiência não poderia ter sido posta em prática já à ocasião da tragédia? Bom! As buscas por corpos, por sua vez, tiveram início nesta quarta-feira, 04, embora, curiosamente, elas não sejam consideradas uma prioridade do BEA. De qualquer modo, segundo informou Maarten Van Sluys, diretor-executivo da associação dos parentes das vítimas no Brasil, “depois de estudos feitos por peritos [da agência francesa], houve entendimento de que os corpos poderiam não resistir ao içamento no mar”, já que, há quase dois anos, estão desaparecidos em águas para lá de profundas.
Segundo a emissora France Info, a operação é considerada “delicada”. De qualquer modo, a bordo do navio do BEA em alto-mar, o coronel da Aeronáutica Luís Cláudio Lupoli declarou que as buscas estão ocorrendo com “transparência”. Não obstante, elas têm gerado polêmicas, já que a decisão em empreendê-las não foi recebida unanimemente pelos familiares das vítimas, que se dividem entre os que querem resgatar os corpos e os que optaram por deixá-los no fundo do mar – uma situação, toda ela, enfim, dramática, triste, lamentável. E, se for possível resumir toda essa história que envolve o vôo 447, poderíamos dizer que foi uma travessia que não deu certo. No meio do caminho, entre duas das mais belas cidades do mundo, Rio de Janeiro e Paris, nas proximidades do paraíso, o arquipélago de Fernando de Noronha, segredos permanecem envoltos em ondas de mistérios...
Nathalie Bernardo da Câmara
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