NOVAS CORES PARA O BRASIL...
“O preconceito é filho da ignorância...”.
William Hazlitt (1778 - 1930)
Ensaísta e crítico inglês
Nesta quarta-feira, 18, após uma série de episódios polêmicos, um abraço simbólico da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais - ABGLT (cerca de 1.200 pessoas, representando diversos estados brasileiros), todos de mãos dadas e portando palavras gentis, registrou o agradecimento coletivo à decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal - STF no dia 5 do corrente, quando a instituição reconheceu os direitos relativos à união estável para casais homossexuais, reconhecendo, portanto, princípios de igualdade, de liberdade e dignidade humana, bem como de segurança jurídica.
Curiosamente, em reunião da Comissão de Direitos Humanos do Senado, realizada no dia 12, quando a senadora Marta Suplicy (PT-SP) apresentou um projeto, no qual é a relatora, que prevê punições para quem discrimine homossexuais, dois parlamentares perderam a compostura e entraram no maior arranca-rabo – pior do que chamam barraco! Foi assim: o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), assumidamente homofóbico, sacou um panfleto antigay e esbravejou contra os homossexuais. Diante da cena, a senadora Marinor Brito (PSOL-PA), defensora da causa gay, não hesitou e arrancou o tal panfleto das mãos do deputado.
Não deu outra! Os dois parlamentares partiram para um bate-boca que resultou em algo ainda mais polêmico do que a aprovação, por parte do STF, da união estável entre pessoas do mesmo sexo. Disse a senadora: — Tire isso daqui, rapaz, me respeita!
— Vai me bater? – retrucou o deputado.
— Eu bato! Vai me bater? – rebateu a parlamentar. – Depois, dizem que não tem homofóbico aqui. Tu és homofóbico. Tu deveria ir pra cadeia! Tu deveria ir pra cadeia! Tira isso daqui! Homofóbico, criminoso, criminoso, tira isso daqui, respeita!
O presidente da Comissão de Direitos Humanos, por sua vez, senador Paulo Paim (PT-RS), teve de mandar fechar a porta do plenário, onde se desenrolava o profícuo debate, evitando, assim, que o ruído da confusão não prejudicasse o exame de outras matérias em ambientes limítrofes. Enfim! Conseqüência do qüiproquó? A relatora do projeto, a senadora Marta Suplicy (PT-SP), retirou a proposta da pauta, visando ampliar o debate a respeito.
“Consideramos justa toda forma de amor...”.
Lulu Santos
Compositor e músico brasileiro
Resumindo: elaborado pela assessoria de Bolsonaro, o referido panfleto já havia sido distribuído nas ruas do Rio de Janeiro e critica pontos do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos do Ministério da Educação e Cultura - MEC, como o chamado “kit gay” – filmes e cartilhas contra a discriminação sexual, que o MEC deve começar a distribuir nas escolas de ensino médio no segundo semestre. Segundo o G1, o deputado, ainda no Rio de Janeiro, teria dito a respeito: “Esse material dito didático pelo MEC não vai combater a homofobia. Ele vai estimular a homossexualidade lá na base, no primeiro grau”.
Enquanto isso, Marinor Brito (PSOL-PA) acusa o parlamentar de praticar homofobia com dinheiro público, uma vez que os panfletos teriam sido elaborados com recursos da Câmara Federal: “Isso foi feito com dinheiro público. É homofobia com dinheiro público”, acrescentando que irá denunciar o deputado à Corregedoria da Câmara por quebra de decoro, alegando, no caso, que ele não é merecedor de ter um mandato. Deverá, portanto, ser o sexto processo a ser respondido por Bolsonaro na Corregedoria da Câmara por causa das suas polêmicas posições contrárias aos direitos dos homossexuais.
Por fim! Todos os processos contra o deputado, encaminhados ao corregedor da Câmara, deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE), requerem que Bolsonaro seja levado ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa sob acusação de práticas de racismo e homofobia. Que coisa! E, aí, sem querer, lembrei de uma composição que eu ouvia quando era uma criança, intitulada Vô batê pá tu, de autoria de dois brasileiros geniais, criadores do grupo musical Baiano & os Novos Caetanos, que foram Chico Anysio e Arnaud Rodrigues (1942 - 2010), cujo refrão dizia mais ou menos assim: Vô batê pá tu batê, pá tu, pá tu batê...
Nathalie Bernardo da Câmara
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